Tradicional dupla de populares duela em meio a um segmento em transformação
Há exatos dez anos, o brasileiro da classe média podia escolher entre nove compactos "de entrada". O Volkswagen Gol já era líder de vendas, seguido por Chevrolet Corsa, Fiat Palio, Chevrolet Celta, Fiat Mille, Ford Fiesta Rocam, Renault Clio, Peugeot 206 e Ford Ka. Se descartados os populares das marcas francesas, o cenário era basicamente dominado pelas chamadas "quatro grandes" – Fiat, Ford, General Motors e Volks.
Pois bem, após uma década, enfim o mercado brasileiro passa por
uma revolução liderada justamente pelos compactos de entrada. A classe
média efervescente fez as vendas de carros no país explodirem. E desde
2007, o nicho só cresce. Peugeot 206 virou 207, VW Fox, Chevrolet Agile e Renault Sandero estrearam. E de 2008 para cá, Gol, Palio e Uno ganharam novas gerações – e importados, como o Nissan March, desembarcaram.
O Brasil vive no momento a maior renovação da história do segmento de carros de entrada. Montadoras antes "elitistas", como Hyundai e Toyota, entenderam que o único jeito de ganhar volume por aqui é produzindo compactos acessíveis. Por isso, vêm aí HB20 e Etios, dupla que promete mexer com o mercado de populares. O Chevrolet Onix, que estreia em outubro, também brigará na faixa dos R$ 30 mil. E Gol e Palio?
Fiat e Volkswagen sabiam que a disputa se acirraria, e já deram suas cartadas. A nova geração do Palio
é hoje um dos modelos mais modernos do segmento – chegou às lojas no
fim de 2011, após 15 anos sem mudanças profundas. Já o líder Gol,
reformulado em 2008, acaba de receber uma atualização estética e
tecnológica. Até agosto, os dois hatchs somaram quase 306 mil unidades –
juntos, Gol e Palio responderam por mais de 10% das vendas de carros no país. Confira abaixo a disputa entre as versões 1.0 flex em 10 rounds!
Recém-renovado, o Gol recebeu várias atualizações; engenharia revitalizou o veterano motor 1.0 TEC
Round #1: Design
Briga entre Gol e Palio é antiga e sempre muito acirrada. O hatch da Fiat
nasceu para "caçar" o Volkswagen, e no quesito design, o modelo da
fábrica italiana tem histórico positivo. Em quase todas as reformulações
que sofreu (exceto na do início de 2007), o Palio superou o Gol
em estilo – sobretudo na cabine. E essa vantagem visual permanece. Com
traços próprios e estilosos, a nova geração do Fiat encanta mais que o
arquirrival, sobretudo após a recente renovação estética que deixou o
Volkswagen com a mesma carinha "quadrada" dos demais modelos da
montadora alemã (especialmente o Fox).
Evidente que gosto não se discute, mas o estilo abaulado, com linhas que lembram o hatch Punto, caiu bem ao novo Palio.
Transmite modernidade. As lanternas verticais que sobem pela coluna
traseira são ousadas. E o interior é totalmente novo, podendo ser
personalizado. No Gol, o centro de estilo da Volks
buscou manter o desenho "limpo". Basicamente faróis e lanternas foram
modificados – a traseira parece com a do Polo europeu. Por dentro, o novo Gol
segue quase igual e exala simplicidade. A maior novidade por dentro é o
centro do painel, com acabamento que imita "black piano".
Lanternas do Palio radicalizaram a versão antiga e sobem na vertical; traseira do Gol lembra a do Polo europeu
Round #2: Acabamento
Nem Gol nem Palio
surpreendem quando o assunto é acabamento interno. O Fiat tem problema
crônico com rebarbas nas peças plásticas. A nova geração até supera a
antiga nesse aspecto, mas ainda assim é possível encontrar molduras mal
recortadas ou que não se encaixam com perfeição. No Volks, a montagem é
visivelmente mais cuidadosa. Só que o hatch da marca alemã é simples
demais aos olhos. Os materiais plásticos que cobrem o interior e as
texturas escolhidas não impressionam. Por isso, ponto para o Palio, que, além de mais atraente, transmite maior sofisticação aos ocupantes.
Round #3: Itens de série
Listas de equipamentos são ponto crítico nos compactos. Para
ganhar preço, as montadoras retiram quase tudo – daí o uso da expressão
"pelado". Com Gol e Palio a lógica prevalece (confira as listas!). O Fiat leva vantagem por trazer direção hidráulica, computador de bordo e faróis com dupla parábola desde a versão Attractive 1.0 – a mais simples disponível, e aqui avaliada. No Gol,
os faróis usam máscara negra e travas, vidros dianteiros e tampa
traseira têm acionamento elétrico de série. De resto, tudo é opcional
nos dois hatchs, que ultrapassam os R$ 37 mil quando completos.
Mais estiloso que o rival, painel do Palio tem formas orgânicas e pode ser personalizado com molduras
Round #4: Conforto
Historicamente o Palio é mais macio em movimento que o Gol. O hatch da Volks sempre foi mais "durinho", para favorecer o equilíbrio em retas e curvas. Por isso, sobre asfalto liso, o Gol é estável e agrada bastante. Mas basta pegar um trecho esburacado e a suspensão "copia" todas as deformações da pista. O novo Palio
manteve a tradição e segue imprimindo maior suavidade em movimento, com
um diferencial: a Fiat acertou a calibração de molas, amortecedores e
afins na troca de carroceria. E a nova geração do hatch produzido em
Betim (MG) está mais firme, sem comprometer o conforto. Já em termos
acústicos, há quase um empate técnico, com vantagem para o Gol. Para entregar melhor desempenho, o motor 1.0 flex do Palio precisa trabalhar com giros mais altos e, com isso, "berra" mais.
A recente reestilização não mudou quase nada no interior do Gol; painel de aparência simples é ponto fraco
Round #5: Consumo
Com os ajustes feitos pela Volkswagen no motor 1.0 flex, a expectativa era de que o Gol superasse o Palio com alguma folga. A atualização mecânica incluiu até a inédita versão BlueMotion,
que na verdade é um pacote que incluí pneus de baixa resistência à
rolagem – o kit custa R$ 324. Curiosamente, na cidade o Fiat levou a
melhor. Abastecido com etanol, o Palio percorreu 9,1 km/l, enquanto o consumo médio do Gol
foi de 9 km/l. Já na estrada, o VW abriu vantagem, com 13,2 km/l contra
10,2 km/l do hatch da fábrica italiana. Resultado: na média combinada,
deu Gol, com 11,1 km/l ante os 9,6 km/l assinalados pelo Palio.
Round #6: Desempenho
As
mexidas da Volks no 1.0 TEC buscaram reduzir o consumo – a nova sigla
do motor vem de "Tecnologia de Economia de Combustível". Mas para a
sorte do Gol, os aprimoramentos também melhoraram o desempenho. Nos testes realizados por Autoesporte,
o hatch da marca alemã superou (com certa folga) o arquirrival em
praticamente todas as aferições. Na aceleração de zero a 100 km/h, por
exemplo, o VW precisou de 16,3 segundos, enquanto o
Fiat levou 18,5 segundos. Já nas retomadas de 60 km/h a 100 km/h em 4ª
marcha, foram 13,2 segundos do Gol, contra 14,4 segundos do Palio.
A melhor performance do Volkswagen também é explícita no dia-a-dia. O maior apetite em baixos giros faz o Gol acelerar com mais vontade, favorecido pelo casamento acertado entre o motor 1.0 TEC e o câmbio manual de cinco marchas. No Palio,
as acelerações e retomadas só animam quando o motor 1.0 EVO flex
trabalha cheio, acima das 4.500 rotações. Outro ponto negativo é o
câmbio do Fiat, que tem curso da alavanca mais longo e engates menos
precisos. Vale ressaltar, contudo, que nenhum dos dois hatchs empolga ao
volante. Ambos tem como ponto forte a economia de combustível.
Bancos do Palio são mais macios e altos que os do Gol; ajustes da coluna de direção são opcionais nos dois hatchs
Round #7: Dirigibilidade
A Fiat trabalhou para deixar o Palio
mais firme nas manobras e conseguiu. A nova geração do hatch evoluiu
muito em relação à antiga – que era molenga e inclinava demais a
carroceria em curvas e frenagens. Só que o acerto de suspensão da
Volkswagen segue irretocável. Embora perca em conforto no asfalto
castigado, o Gol é referência em equilíbrio dinâmico no
segmento. As respostas aos movimentos do volante são imediatas e a
solidez com que o hatch faz curvas e encara retas transmite agradável
segurança ao condutor.
Round #8: Segurança
Falar
de segurança em carros populares ainda é complicado. Recursos básicos,
como airbags frontais e ABS para os freios, ainda são vendidos como
opcionais – em alguns modelos os itens sequer são oferecidos. Com Gol e Palio,
a história se repete. E tem um dado curioso: como a instalação dos
itens não é obrigatória (só a partir de janeiro de 2014), Fiat e
Volkswagen "cumprem tabela", com airbags e ABS vendidos em pacotes com
preços praticamente iguais. No Palio, ter ABS e airbags custa R$ 1.544, enquanto no Volks o "módulo segurança" sai por R$ 1.550.
Com melhor torque em baixos giros, motor 1.0 TEC do Gol desbancou (com alguma folga) o 1.0 Evo da Fiat
Round #9: Preços
Gol e Palio
são tão rivais que, até nos preços, a briga é nos detalhes. O hatch da
Volks parte de R$ 27.990, um tantinho menos que os R$ 28.440 pedidos no Palio Attractive.
Só que o Fiat já vem com direção hidráulica, computador de bordo e
faróis com dupla parábola, itens opcionais no rival. Por outro lado, o
VW tem travas, vidros e abertura da tampa traseira, recursos vendidos à
parte no Palio. Quando completos, os modelos ficam
repletos de recursos interessantes, mas pecam no preço. Da forma como
vieram para o comparativo, Gol e Palio 1.0 saem por caríssimos R$ 37.405 e R$ 37.575.
Round #10: Atualidade
A Volkswagen tentou ir além de uma simples reestilização, e mexeu na mecânica e na eletrônica do Gol.
Resultado: o campeão nacional de vendas está mais sofisticado – quando
equipado com sensores traseiros, por exemplo, a telinha do rádio no
painel reproduz um gráfico que mostra a distância do carro em relação ao
obstáculo. Só que, em termos de projeto, o novo Palio é
mais atual – chegou no fim de 2011, enquanto o arquirrival é o mesmo
desde meados de 2008. Por isso, o Fiat leva a melhor no quesito, mesmo o
Gol tendo herdado a plataforma (mais sofisticada) derivada do Polo brasileiro.
Gol e Palio se mostraram competitivos, mas terão de oferecer um "algo mais" na briga com HB20, Etios e Onix
Resultado
Foram duas semanas de testes, uma com cada modelo. Ainda sob "efeito novidade", o Gol até chamou a atenção nas ruas, embora provavelmente muitos o tenham confundido com o Fox.
No dia-a-dia, o modelo da Volkswagen cativou sobretudo pelo desempenho
agradável para um carro 1.0. O renovado motor TEC surpreendeu na entrega
de torque em baixos giros. Com o acerto preciso do câmbio e a postura
sempre firme sobre o asfalto, o Gol só peca mesmo pela
falta de estilo e pela simplicidade do interior. O painel até ganhou um
aplique imitando "black piano", mas...
Na comparação de cabines, por exemplo, dá Palio.
O hatch da Fiat tem visual mais sofisticado, seu painel pode ser
customizado, o quadro de instrumentos parece mais chique e o interior,
de modo geral, foi mais bem planejado. Há, por exemplo, porta-garrafas
nos bolsões das portas. Já em relação às tecnologias embarcadas, temos
um empate técnico. Mais uma vez, o que um não tem, o outro oferece, e
vice-versa. Ou seja, completos (como vieram), Gol e Palio ficam superequipados, porém muito caros – ambos ultrapassam a faixa dos R$ 37 mil, valor bastante salgado para modelos 1.0.
A disputa entre os dois hatchs foi tão acirrada, que a
decisão foi por pontos. Nos itens referentes à carroceria (como
acabamento, estilo e equipamentos de comodidade), o Palio levou a melhor. Já na parte dinâmica (que inclui motor, dirigibilidade e consumo, entre outros), o Gol
se sobressaiu. No quesito mercado, o Fiat levou vantagem por ser um
projeto mais recente. Mas o Volks termina vencedor do confronto por uma
diferença ínfima de pontos: o Palio teve média final de 7,9 pontos, e o Gol anotou média 8. Mas vale ressaltar: daqui para frente, tudo muda. Fiat e Volks terão de se mexer para que Gol e Palio seguirem competitivos diante do trio de novatos HB20, Etios e Onix. Eles vêm para entregar um "algo mais".
Fiat Palio Attractive 1.0 EVO flex | VW Gol BlueMotion 1.0 TEC flex | ||
Preço inicial | R$ 28.440 | R$ 27.990 | |
Motor | Dianteiro, quatro cilindros, 8 válvulas, comando simples, injeção eletrônica, flex | Dianteiro, quatro cilindros, 8 válvulas, comando simples, injeção eletrônica, flex | |
Cilindrada | 999 cm³ | 999 cm³ | |
Potência | 73 cv (G) e 75 cv (A) a 6.250 rpm | 72 cv (G) e 76 cv (A) a 5.250 rpm | |
Torque | 9,5 kgfm (G) e 9,9 kgfm (A) aos 3.850 rpm | 9,7 kgfm (G) e 10,6 kgfm (A) aos 3.850 rpm | |
Transmissão | Manual de 5 velocidades | Manual de 5 velocidades | |
Suspensão | Na dianteira, independente, McPherson/na traseira, eixo de torção | Na dianteira, independente, McPherson/na traseira, eixo de torção | |
Dimensões | 3,87 m (comprimento); 1,67 m (largura); 1,50 m (altura); 2,42 m (entre-eixos) | 3,89 m (comprimento); 1,65 m (largura); 1,46 m (altura); 2,46 m (entre-eixos) | |
Freios | Discos ventilados na frente e tambores atrás | Discos ventilados na frente e tambores atrás | |
Preço Completo | R$ 37.575 | R$ 37.405 | |
Números de teste | |||
Aceleração 0 a 100 km/h | 18,5 segundos | 16,3 segundos | |
Aceleração 0-400 m | 20,8 segundos | 20 segundos | |
Aceleração 0-1.000 m | 38,6 segundos | 37 segundos | |
Retomada40-80 km/h | 9,7 segundos | 8,4 segundos | |
Retomada 60-100 km/h | 14,4 segundos | 13,2 segundos | |
Retomada 80-120 km/h | 31,1 segundos | 22 segundos | |
Frenagem 100 km/h | 46,6 metros | 44,4 metros | |
Frenagem 80 km/h | 28,8 metros | 26,7 metros | |
Frengem 60 km/h | 15,9 metros | 14,9 metros | |
Consumo urbano | 9,1 km/l | 9,0 km/l | |
Consumo rodoviário | 10,2 km/l | 13,2 km/l | |
Consumo médio | 9,6 km/l | 11,1 km/l |
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