Para o gerente executivo do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas, Luiz Carlos de Macedo, tema deve ser cultivado internamente e fazer parte do planejamento de longo prazo das empresas.
Por Ana Cristina da Conceição
Os
supermercados continuam na dianteira das práticas sustentáveis do
varejo, um promotor do consumo consciente e disseminador de iniciativas
ambientalmente responsáveis. Esta é a avaliação de Luiz Carlos de
Macedo, Para o gerente executivo do Centro de Excelência em Varejo da
Fundação Getúlio Vargas, Luiz Carlos de Macedo, tema deve ser cultivado
internamente e fazer parte do planejamento de longo prazo das empresas.
Especialista
em gestão de sustentabilidade pela FGV e em gestão de iniciativas
sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Macedo é
autor de livros e artigos que tratam de responsabilidade social
empresarial, varejo sustentável e comunicação. Nesta entrevista, o
professor lembra que o tema deve ser cultivado internamente e fazer
parte do planejamento de longo prazo das empresas. Também alerta que
hoje existe muita certificação sobre produtos sustentáveis sem que o
consumidor entenda exatamente o que é isso.
FRANCHISING
Depois dos supermercados, são as
franquias as mais engajadas na sustentabilidade. Elas desenvolvem
trabalhos e indicadores de baixo consumo de água e energia. A vantagem é
que, no caso das franquias, estamos falando de pequenos empreendedores
investindo nesse assunto. E, quando pequenas empresas investem, o tema
fica mais próximo da população.
PRINCIPAIS PRÁTICAS
A primeira é ser um promotor do consumo sustentável ou consciente no
ponto de venda. O varejo está mais próximo do cliente para fazer
campanhas de conscientização socioambiental e dar acesso às informações
sobre o impacto dos produtos. No supermercado, você recebe uma
informação melhor sobre produtos orgânicos; ou como aquele produto foi
produzido; se economizou energia ou se contém a substância “XPTO”.
Também está havendo um movimento da indústria dentro do supermercado
para oferecer novas categorias e refazer os processos produtivos
tradicionais. Não adianta oferecer produtos mais sustentáveis e só ter
alguns itens em algumas seções do supermercado. É importante também
repensar a embalagem tradicional e os processos produtivos para entregar
produtos de menor impacto ambiental e social.
COMUNICAÇÃO
Essa preocupação com a sustentabilidade passa pela comunicação
diferenciada no ponto de venda, o produto ecoeficiente de menor impacto
ambiental ou o produto solidário feito por comunidades. Além disso, o
que o consumidor mais percebe é que, em geral, as grandes redes têm
programas de reciclagem ou embalagens reutilizadas. O supermercado tem
sido muito reconhecido pelo consumidor quando se fala em descarte de
pilhas e baterias.
ESTRATÉGIAS
Depois de
promover o consumo consciente, a questão é manter operações e lojas mais
sustentáveis, que diminuam o consumo de água e energia e possam
gerenciar melhor o ar condicionado, que sempre representa alto custo de
energia. A maioria das redes não tem condições de montar lojas
sustentáveis. Mas, quando uma rede importante investe em um modelo
piloto, essa loja replica uma série de práticas sustentáveis como
eficiência energética e carrinhos feitos de material reciclado, por
exemplo.
EDUCAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE
Quando o Pão de Açúcar lançou suas estações de reciclagem, começou a
oferecer minilixeiras coloridas. Hoje muitos modelos de lixeira de
reciclagem dentro das casas vieram dessa experiência do supermercado
para separar o lixo. O aprendizado com essas lojas é muito grande. A
redução de consumo de energia e água é drástica, da ordem de mais de 60%
para água e de 40% para energia. Além disso, novos equipamentos são
colocados. Antigamente, o consumidor passava por um corredor do
supermercado que estava sempre com as luzes acesas. Hoje, as luzes só
acendem quando alguém passa por ali.
DESAFIOS
Um dos primeiros é a natureza do setor. Quem trabalha no varejo coloca o
produto de manhã para ter resultado à tarde. A maior dificuldade é a
visão de longo prazo. A sustentabilidade é um valor que começa a ser
internalizado pelas empresas — algumas fazendo ações pontuais, outras
ligando a sustentabilidade estrategicamente ao negócio. O varejo tem de
compreender que a sustentabilidade é um processo de longo prazo — cinco,
dez, 20 anos — que deve fazer parte do planejamento e passar pela
gestão da empresa. O varejo está começando a compreender esse processo e
tem de fazer a lição de casa: trabalhar esse tema com os funcionários,
respeitar as questões ambientais, trabalhistas e sociais para dali
brotar, de fato, uma cultura sustentável do setor. Nos últimos seis
anos, estamos vendo isso acontecer.
SACOLINHAS PLÁSTICAS
Uma das grandes questões não resolvidas nesse caso é que a comunicação
não é clara. O consumidor ainda não compreendeu que ele paga pela
sacola de uma forma ou de outra: ela está embutida na conta. A
dificuldade não é tirar ou colocar sacola. A questão é que o consumidor
não está passando por essa discussão. O governo tem de se envolver e o
consumidor tem de dar a opinião final — se ele quer a sacola ou não. Se
quer, ele tem de entender que vai pagar por ela. Na prática, muitos
consumidores já não levam sacolas. Mas ninguém mede isso de fato ou se o
consumidor está sendo penalizado. O mais importante sempre é que o
consumidor tenha alternativa.
Matéria publicada originalmente na edição impressa nº 1523 (de 20 de agosto de 2012) do Meio & Mensagem
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