Start/stop, injeção direta e direção elétrica poderão ser feitos localmente.
Tecnologias modernas, mas já populares em mercados maduros como os dos
Estados Unidos e da Europa deverão chegar aos carros brasileiros
"comuns" nos próximos cinco anos. Isso porque o novo regime automotivo,
esperado para ser anunciado pelo governo na próxima quarta-feira (29),
obrigará as montadoras a reduzir o consumo de combustível e,
consequentemente, o nível de emissões, para pagarem menos no Imposto
Sobre Produtos Industrializados (IPI).
Até o fim deste ano, continuam valendo as normas que foram definidas no
ano passado, que determinam um aumento de 30 pontos percentuais no IPI
para carros importados de fora do Mercosul e do México, e para nacionais
que não tenham, pelo menos, 65% de conteúdo regional.
Com o novo regime, o governo deverá abrir possibilidades de obtenção de
desconto nesse imposto, como o uso de conteúdo nacional, investimento
em tecnologia e, sobretudo, eficiência energética.
Entre as tecnologias que passariam a ser fabricadas em território
brasileiro seriam a start/stop (que desliga o motor do carro ao parar em
um semáforo, por exemplo, e religa quando o motorista pisa no
acelerador), injeção direta de combustível e direção elétrica.
"Uma legislação baseada na eficiência de combustível, ou seja, na
redução de emissões de CO2, é a chave de sucesso do novo regime
automotivo", afirma Paulo Cardamone, diretor da consultoria IHS Global
Insight, contratada pelo governo para apresentar um estudo sobre
eficiência energética entregue em abril deste ano. As tendências do
setor foram assunto no Simpósio SAE Brasil, que aconteceu nesta
quarta-feira (22), em São Paulo.
Redução de 20% das emissões
Cardamono adianta que o
estudo entregue estabeleceu uma meta de redução de 20% das emissões de
CO2 até 2017. Para isso, cada montadora teria de mostrar a média de
emissão máxima de 135g de CO2/km, que se equipara ao vigente hoje na
Europa. Hoje, a média dos veículos nacionais novos é de 170g.
Essa média é feita considerando o portfólio (número de modelos de
veículos) de cada montadora, com base na relação do chamado "foot print"
por CO2. O foot print é a área quadrada que considera a bitola do carro
(onde encaixa a roda) e a distância entre-eixos. Com isso, pondera-se
as vendas do ano por montadora pela média de emissão.
Quem avaliaria o nível de emissões dos carros seria o Inmetro, por já
possuir laboratórios específicos para calcular o consumo de combustível e
o nível de emissões. "O consumidor terá essas informações claramente ao
comprar o carro."
"Nossa empresa entregou para o governo a melhor técnica possível, mas a
decisão do governo é outra história. Ele negocia com o setor ainda",
ressalta Cardamone.
Retomada de exportações
Com a chegada de novas
tecnologias produzidas localmente, um novo ânimo será injetado na
indústria nacional. O objetivo é gerar mais empregos e tornar o veículo
nacional novamente competitivo para as exportações. "Este regime
automotivo é a salvação da lavoura. Ou a gente muda ou a gente vai
perder a chance de participar globalmente desta indústria", diz o
diretor da IHS Global Insight.
Segundo Cardamone, um novo pacote tecnológico vai aumentar 15% de
conteúdo local nos carros, o que corresponderia à geração de 20 mil
empregos. Em quatro anos, US$ 14 bilhões em combustível seriam
economizados.
Além da eletrificação dos carros, para ajudar a reduzir o trabalho do
motor, outros investimentos em tecnologias e materiais serão feitos,
como redução de peso, melhorias da eficiência do motor, da aerodinâmica e
maior uso de materiais mais leves, como o alumínio.
Montadoras dizem estar preparadas
Embora as
montadoras tentem forçar o governo a reduzir os impostos para compensar o
aumento de custo com o uso de materiais mais modernos, elas já se dizem
preparadas para trazer as novas tecnologias aos carros fabricados do
Brasil.
De acordo com o vice-presidente de Engenharia da General Motors América
do Sul, Pedro Manuchakian, os fornecedores têm capacidade para atender
esta demanda e já há investimentos previstos para até 2017. "Ainda é
avaliado, não posso divulgar, por enquanto."
E nesse pacote entra também o aumento da conectividade nos carros.
"Temos que fazer com que o consumidor volte a gostar de automóvel no
Brasil", destaca o diretor de engenharia da Ford América do Sul, Marcio
Alfonso.
Reciclagem de carros
O regime automotivo não terá
incentivos para carro elétrico, mas abordará, no entanto, outro tema
polêmico: a reciclagem de carros. Cardamone adianta que o programa é
discutido por aumentar a escala de produção veículos. "Você tira os
carros muito velhos de circulação e cria uma nova indústria, gerando
empregos e renda", destaca o consultor.
O especialista destaca que não se deve confundir reciclagem com
renovação de frota. "Não é uma renovação de frota pontual, estamos
falando da criação de outra indústria, porque é possível reciclar
plástico, vidro, cobre, cabo, entre tantos outros componentes", reforça
Cardamone.
Mais sobre o novo regime
Os objetivos do novo regime automotivo, que valerá entre 2013 e 2017,
são aumentar o conteúdo regional medido pelo volume de aquisições de
peças e insumos estratégicos, assegurar investimentos em inovação,
aumentar o valor de gastos em engenharia e tecnologia industrial básica,
além de aumentar a eficiência energética dos veículos.
Entre as medidas que deverão ser cumpridas pelas montadoras para se
enquadrar no novo regmie e, com isso, ter direito a redução do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI), estão investir no mínimo 0,15% da
receita operacional bruta em inovação em 2013, percentual que subirá
para até 0,5% em 2017 e cumprir, no país, 8 de 12 etapas fabris nos
veículos leves, e 10 de 14 para pesados em 2013, subindo, até 2017, para
de 10 a 12 etapas (leves) e de 12 a 14 etapas (pesados).
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