Policial com receio de tumulto, diretor de criação como ator e até um argentino: teve de tudo na ação que colocou Corinthians e São Paulo no campo antes do jogo entre Palmeiras e Santos
Sob uma das maiores vaias que o Pacaembu já assistiu, times
fictícios do Corinthians e São Paulo entraram em campo, ao lado de
repórteres, juízes e cheerleaders também fictícios, cerca de 45 minutos
antes do jogo entre Palmeiras e Santos, realizado no sábado, 25 (leia
mais aqui).
Por trás da ação de marketing da Zurich Seguros está uma ideia que foi
planejada por cerca de dois meses e que enfrentou diversos desafios no
caminho. O maior delas foi, sem dúvida, garantir a segurança da
iniciativa, afinal, não se poderia imaginar como duas torcidas reagiriam
ao ver times rivais entrando em campo. “Lidamos com diversos cenários,
que iam desde reações mais brandas até as mais agressivas”, afirma
Fernando Guntovitch, presidente da The Group, que cuidou da operação do
evento, cuja ideia foi da 141 Soho Square. Também participaram a
Possible Worldwide, que fez monitoramento de redes sociais, e a
Sentimental Filmes, que captou as imagens dentro de campo e das reações
da torcida, que serão editadas e disponibilizadas na internet nesta
sexta-feira, 31.
Por via das dúvidas, a segurança policial foi
reforçada durante a ação, que precisaria durar exatos oito minutos e
meio. O diretor-geral de criação da agência, Celso Alfieri, conta que
seguranças particulares estavam próximos das torcidas para monitorar as
reações. Se houvesse um sinal de ação agressiva, a informação seria
repassada para o comando da campanha e para a tropa de choque, que cuida
da segurança do estádio. Ou seja: tudo poderia ter sido interrompido se
a coisa esquentasse.
No pior cenário possível, imagina
Guntovitch, a torcida poderia até arrancar cadeiras e as arremessar ao
campo. Possibilidades de invasão também não estavam descartadas. A The
Group se responsabilizaria por qualquer dano. Pouco antes da ação
iniciar, o coronel responsável pela segurança durante o clássico afirmou
para os envolvidos na ação, com uma certa dose de humor, e outra de
receio: “Se der errado, corre e a gente assume”, em referência à
possibilidade de invasão. Na beira do campo, ele cronometrava a duração
da encenação, para garantir que ela terminasse no tempo acordado.
Por solicitação da polícia, a execução começou às 17h45, quinze minutos
antes do plano original, porque haveria menos gente no estádio. O
início da ação veio com o disparo de fogos de artifício do lado de fora
do Pacaembu e isso foi feito sob supervisão da própria polícia, como
forma de garantir a pontualidade.
Mas embora houvesse riscos, a
ação ocorreu dentro de um planejamento, tanto que, por isso, foi
aprovada pela força policial. Na sexta-feira, por volta das 12h, o
comando da Tropa de Choque chegou a cancelar a ação, mas após
explicações mais detalhadas da agência sobre o que iria ocorrer em
campo, a campanha foi liberada. Algumas das ressalvas foram a presença
da polícia para disparar os fogos e a antecipação do horário. Além
disso, algo que obviamente já estava no plano original das agências, os
“atores-jogadores” não poderiam em hipótese alguma provocar a torcida.
Apenas encenar que estavam em um jogo.
Uma cena curiosa
ocorreu pouco antes da subida dos times ao gramado: para “entrar no
espírito”, alguns jogadores começaram a gritar “Vai Corinthians”, e isso
gerou comentários bem-humorados de seguranças do Palmeiras. Algo no
estilo “Menos empolgação, por favor”.
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São Paulo acena para torcida, 45 minutos antes do jogo
Crédito: Divulgação
Aprovação argentina
A sacada passou por diversas
instâncias antes da aprovação. Criada na 141 Soho Square, a campanha
contou com o apoio do argentino Ivan Ferrando, CMO da Zurich Seguros
para a América Latina, em consonância com o movimento do anunciante que
busca mais iniciativas fora da compra de mídia. Conhecedor de futebol, o
executivo garantiu a aprovação junto à matriz na Suíça, explicando que o
humor é o melhor remédio para vender seguros no Brasil. Ele gostou
tanto da ideia que participou da encenação, assim como Celso Alfieri,
diretor-geral de criação da 141 Soho Square. Os dois se transformaram em
repórteres de campo.
A agência precisou negociar também com o
G4, grupo que reúne iniciativas de marketing para os quatro grandes
clubes do futebol paulista. A recepção foi boa e uma das razões é que,
ao contrário do que se pode pensar, a ação tem potencial para propagar a
paz nos estádios, na opinião do envolvidos. “As torcidas de Palmeiras e
Santos acabaram se unindo na vaia. E a ação mostra, no final das
contas, que não é um absurdo você ter uma camisa do time rival em
campo”, analisa Alfieri.
A Zurich será seguradora de alguns
estádios da Copa do Mundo, incluindo o Maracanã, por isso, a ideia de
paz tem a ver com a participação da empresa no evento esportivo. O valor
recebido por cada time não foi revelado, mas estima-se que o Palmeiras
tenha levado R$ 100 mil.
Também entraram nas conversas a
administração do Pacaembu e, em instância final, a polícia. Um fato que
dificultou a campanha foi a transferência da partida de Barueri, para
onde estava marcada desde o começo do campeonato, para o Pacaembu. O
batalhão da polícia responsável pela segurança em Barueri já havia
liberado a ação, e os acordos precisaram ser refeitos, não sem alguma
dificuldade, com o batalhão da capital - e isso só foi feito depois do
ensaio oficial, ocorrido na quinta-feira, 23, no estádio Nicolau Alayon.
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Placar anuncia escalação do São Paulo
Crédito: Divulgação
Encenação em tempo
Com o disparar dos
fogos, juízes, cheerleaders e mascotes subiram ao campo. A torcida, que
se assustou com o começo da “partida” antes da hora, mal parecia
acreditar no que estava vendo: Corinthians e São Paulo estavam subindo
ao gramado. E o placar do estádio trazia a escalação dos times, com
Rogério Ceni, Douglas, Rafael Toloi, etc.
As rádios
Bandeirantes, Jovem Pan, Globo e 105 FM, que participaram da ação,
começaram a narrar a entrada dos times, demonstrando "surpresa". Em um
misto de incredulidade e revolta, os torcedores começaram a se
manifestar. Algumas das frases ouvidas: “Que m... é essa?”, “O que é que
está acontecendo?”, “Os caras estão loucos” e “Sai daí seus f...!”.
Membros das torcidas organizadas viraram-se de costas e passaram a
proferir xingamentos tradicionais a Corinthians e São Paulo – no
planejamento da ação, cogitou-se avisá-los, para evitar algum
contratempo, mas ao final optou-se pela surpresa.
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Mascote do Corinthians entra em campo, sob olhares da torcida do Palmeiras
Crédito: Divulgação
No resto do estádio, as vaias começaram tímidas e foram ganhando
força. Ao final da encenação, com a saída dos times, elas eram tão
fortes que mal se podia ouvir a mensagem da Zurich Seguros que estava
sendo proferida pelo locutor do estádio: “Ainda não inventaram seguro
contra mudanças no calendário”. Tanto que ela foi repetida poucos
minutos depois e surgiu mais uma vez no intervalo da partida de verdade.
Para dar mais veracidade, alguns sósias foram escalados e
algumas situações típicas de um jogo se desenrolaram. O craque Lucas,
por exemplo, foi representado por um rapaz com seu porte físico e corte
de cabelo. Os repórteres buscavam entrevistar os jogadores, enquanto os
juízes verificavam as redes dos gols.
O teatro só acabou
quando, antes da execução do hino nacional, os jogadores saíram correndo
e abriram uma imensa bandeira com a mensagem da seguradora,
ajoelhando-se no campo diante dela. Nenhuma reação agressiva foi
registrada no Pacaembu. “As vaias eram mais do que esperadas. Mas
acreditamos que, depois de alguns dias, as pessoas vão dar risadas e
entender a brincadeira”, aposta Alfieri. A expectativa é que esta ação
tenha sido a única do gênero neste ano. Mas tudo pode mudar se o
anunciante aprovar os resultados, que estão sendo colhidos. Ou seja:
mais surpresas como essa podem estar a caminho. E você, gostou da ação
da Zurich Seguros?
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