Estado, Folha e Valor participaram do encontro; evento foi promovido na semana em que o veículo carioca se prepara para apresentar novo projeto gráfico
Executivos dos principais jornais do país reuniram-se na tarde desta
terça-feira, 24, no Rio de Janeiro para discutir o papel do jornal no
cenário atual. Representantes do Estado de S. Paulo, da Folha de S.Paulo
e do Valor Econômico, além do Globo, participaram do debate promovido
na sede do veículo carioca, como parte das ações que precedem o
lançamento de seu novo projeto gráfico. O novo Globo será lançado neste
domingo, 29. Ele foi redesenhado pelo escritório de design catalão Cases
i Associats.
Discussões em torno do papel da mídia impressa em
meio a inúmeras plataformas digitais nortearam o debate. Para Vera
Brandimarte, diretora de redação do Valor Econômico, o tema tem atraído
as atenções e alterado a forma com a qual os jornalistas trabalham. “A
profusão de informação na internet tornou relevante o papel do jornal
para avaliar informações, filtrar e analisar os fatos”, observou. Por
outro lado, a internet afetou o modelo dos jornais. “Com matérias
copiadas e reproduzidas por todo mundo. As empresas não se apropriam de
seu próprio conteúdo, do ponto de vista financeiro. Isto vem afetando
todo modelo de negócios dos jornais”, avaliou. Ela acredita no futuro do
impresso, mas com um texto mais compacto. “A elite intelectual vai
continuar querendo e vai pagar mais por este privilégio, terá um jornal
com impressão cada vez melhor”, disse.
Já Sergio D’Ávila,
editor executivo da Folha de S.Paulo, lembrou que, sempre que há uma
inovação tecnológica, os jornais param e discutem qual o seu papel. “Mas
as inovações tornam os jornais melhores. Quando surgiu o telégrafo, os
jornais passaram a ter lead. Com o rádio, sumiram as edições
vespertinas. A TV fez os jornais colocarem mais fotos na primeira
página, já a TV colorida fez as páginas ficarem coloridas. Cada inovação
teve uma leitura e fez uma transformação, mas eles foram seguindo. A
internet talvez tenha gerado com uma velocidade maior esta atualização
constante”, apontou.
Para ele, a perenidade do jornal será
mantida, mesmo com todas as inovações. “Ainda não inventaram um meio que
dê o prazer tátil do jornal, a portabilidade que ele tem. Além disso,
ele tem papel fundamental na curadoria de informações que foram
despejadas no último ciclo noticioso. Este mandato é dado por
assinaturas e vendas em bancas”, complementou. O editor executivo da
Folha citou dados desta semana do IVC para reforçar a importância do
meio. “4,5 milhões exemplares impressos de jornais são vendidos por dia
no Brasil, sendo que apenas metade dos jornais são auditados. Com isso
podemos falar em 9 milhões de jornais vendidos todos os dias, cada um
lido em média por três leitores. Com isso seriam 27 milhões”, falou. E
fez uma comparação com a medição da televisão. “Um ponto no Ibope
equivale a 500 mil pessoas nacionalmente. Estamos falando de um veículo
que tem 54 pontos de Ibope, é um produto campeão brasileiro. Não
deveríamos ter atitude de fracasso, mas sim de sucesso colocando na casa
das pessoas a cada dia um campeão de audiência”, concluiu.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Estado de S. Paulo, comparou o
jornal a uma rede social. “A carteira de assinantes e leitores de jornal
sempre foi uma rede se seguidores e curtidores, recomendadores. É uma
rede de mobilização. Em algumas capitais, pelos jornais que a pessoa lê
identificamos quem ela é, seu jeito, preferências”, falou.
Ascânio Seleme, diretor de redação do Globo, destacou o otimismo dos
executivos. “Não podemos negar que há uma crise batendo na porta, e por
isto discutimos o futuro. Há todo tipo de debate: uns dizem que os
jornais vão se tornar gratuitos, outros defendem a tabloidização, outros
querem transformar os jornais em plataformas locais, para fidelizar
mais a comunidade. Há quem fale em veículos de nicho. São vários os
cenários. Redesenhar graficamente o jornal ajuda? Acreditamos que sim. E
não para aumentar a circulação, esta é uma tarefa do conteúdo. O
redesenho procura facilitar a vida do leitor, fazer o contato com um
veículo mais agradável. Para nós, significa quase relançar, apostar na
plataforma, que tem caráter e personalidade”, concluiu.
Cobrança online
A cobrança de conteúdo online também norteou parte das discussões. Para
Gandour, o jornal é uma atividade privada, mas de elevado interesse
público. “É um pilar histórico das democracias das sociedades modernas.
Os próximos anos vão determinar se este modelo de negócio vai se
valorizar ou não, mas parece inexorável que, com a pulverização da
publicidade, esta seja substituída por algum pagamento, seja nos meios
digitais pelos leitores”, avaliou.
Vera Brandimarte lembrou que
não existe jornalismo independente se não houver independência
financeira. “Cobrar pelo conteúdo é uma saída, talvez a mais
interessante que temos visto. Produzir notícia de qualidade de forma
independente custa caro”, falou. Já Ascânio Seleme frisou que há uma
luta intensa para que a publicidade na plataforma digital se fortaleça. E
brincou: “Vale US$ 1 milhão a resposta para a pergunta de quando o
impresso vai parar de subsidiar o online”.
Para finalizar,
D’Ávila disse que a experiência da Folha com a cobrança de conteúdo
online tem sido bem sucedida, mas não quis antecipar números que
prometeu divulgar ainda este ano. “A audiência não só não caiu como
subiu. As assinaturas também aumentaram. Foi um risco que o jornal
decidiu assumir há um mês e acho que não haverá recuo neste modelo nos
próximos anos”, afirmou.
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