Um dos líderes cita a Lei Cidade Limpa, de São Paulo, como referência antipublicidade
Eles viajaram cinco dias em grupo, semana passada. Com ações
taticamente planejadas, num autêntico esquema de guerrilha, sabotaram
espaço de mídia exterior no Reino Unido, tomando placas de outdoor como
suporte para um movimento antipublicitário. Na última segunda-feira
(16), Londres e outras quatro cidades britânicas amanheceram com o
impacto do Brandalism, movimento de 26 artistas, em um nome que mistura
marca e vandalismo, que se posiciona como uma arte de “auto-defesa”
contra a publicidade.
Além da capital britânica, os 35 trabalhos do grupo foram instalados
onde havia mensagens de anunciantes em Leeds, Manchester, Birmingham e
Bristol. De acordo com informações do Brandalism, o movimento registra
sua primeira campanha internacional colaborativa de “subvertising”, um
neologismo para publicidade subversiva, que na opinião do coletivo de
artistas, tem o objetivo de “desafiar os impactos destrutivos da
indústria publicitária”. Também estrategicamente, para chamar atenção
internacional, os outdoors foram invadidos às vésperas da Olimpíada de
Londres, que terá sua cerimônia de abertura no próximo dia 27.
O movimento critica o “papel destrutivo” da publicidade em uma
variedade de questões sociais e econômicas, que incluem dívidas
financeiras, meio ambiente, imagem do corpo, consumismo e valores
culturais. Para o Brandalism, a publicidade também é a culpada pelos
distúrbios urbanos vivenciados em Londres no verão do ano passado, com
incêndios e saques de lojas e supermercados.
Um dos integrantes do grupo, Robert Graysford, 27 anos, argumenta em
um comunicado do Brandalism que os outdoors foram invadidos porque a
indústria publicitária “não se responsabiliza pelas mensagens impostas
aos consumidores no dia a dia. “A publicidade diz que nos dá, mas nós
não temos a escolha de não optar por essa invasão no espaço público e
privado”.
“Somos ratos de laboratório para os executivos publicitários que
exploram nossos medos e nossa insegurança através do consumismo. Sou um
ser humano e não um consumidor. Invadindo os outdoors, estamos retomando
nosso espaço. Se São Paulo, no Brasil, pôde proibir toda a publicidade
de mídia exterior, por que nós não podemos?”, questiona o artista do
Brandalism.
O movimento, segundo informações do próprio Brandalism, também é uma
crítica ao interesse comercial que sustenta as restrições publicitárias
impostas pela organização dos Jogos Olímpicos.
Um dos artistas do movimento, Bill Posters, criou um trabalho com
paródia a um famoso outdoor da Nike de 2006, que mostra o jogador de
futebol da seleção inglesa Wayner Rooney sem camisa com uma cruz
vermelha pintada em seu corpo, acompanhado do famoso slogan da marca de
artigos esportivos, “Just do it”. O trabalho de Bill mostra a referência
a Wayne Rooney, que carrega sacolas, uma delas inclusive da rival Foot
Locker, acompanhado da frase “Just loot it” (Em tradução livre algo como
“Vai lá e roube”). Ele foi colocado em Birmingham.
O artista Bill Poster diz que a “indústria publicitária cria pressão
quando manipula nossos desejos e necessidades. Há pressão para termos o
último modelo de tênis, de roupa e de telefone. Essa pressão fez com que
os jovens fossem às ruas (nos distúrbios de Londres e outras cidades
britânicas de agosto de 2011) para pedir o que disseram que eles
precisam”.
Um outro trabalho do artista, que invadiu outdoor de Manchester,
critica o McDonald`s. Mostra desenho de um policial especializado em
desarmamento de bombas, retirando a marca do McDonald`s como se fosse
ela um artefato explosivo, perto de uma criança. Até o momento, nem
anunciantes nem organizações publicitárias se manifestaram sobre o
Brandalism.
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