sexta-feira, 29 de junho de 2012

Jornalismo de qualidade é caro, justifica editor-executivo da Folha



  Desde quinta-feira da semana passada, dia 21, os internautas que acompanham a Folha de S.Paulo  pela internet têm de fazer contas para continuar lendo as notícias do veículo gratuitamente. A empresa adotou um modelo de cobrança por demanda, em que o leitor só começa a pagar a partir de certa quantidade de textos acessados (saiba mais).

A decisão criou uma situação positiva e outra negativa. A primeira é que os leitores eventuais, que usam a Folha  como um veículo entre vários, podem passar despercebidos pela cobrança, sem atingir o limite de 40 matérias mensais estilpulado pela empresa. Além disso, essas pessoas ainda terão acesso gratuito ao conteúdo do impresso - que antes só era aberto aos assinantes.

Por outro lado, os leitores mais assíduos terão de pagar para ver aquilo que antes tinham de graça. A partir do 20º link aberto no site da Folha, vem o primeiro aviso, acompanhado de um pedido de cadastramento; 20 textos depois, você só continua se pagar.

Isso, segundo o editor-executivo do veículo, é culpa do mercado, já que os vários anúncios espalhados pelo portal não são suficientes para cobrir os custos. Em entrevista à ombudsman Suzana Singer, Sérgio Dávila ainda afirmou que "fazer jornalismo de qualidade é caro".

"No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há por que ser diferente no modelo digital, ou as contas não fecham", justificou.

Suzana, que é paga pela Folha para criticá-la, usou sua coluna dominical para tratar do tema e considerou que a revolta dos internautas em relação ao modelo é compreensível. "Acostumados a se informar de graça na rede e incomodados com um monte de anúncios que saltitam sobre a tela, não entendem por que devem colocar a mão no bolso", opinou.

 
Web x impresso

A decisão veio exatamente uma semana após o anúncio, feito pelo IAB Brasil, de que a internet já desperta mais interesse do mercado anunciante que o jornal. De acordo com a entidade, a rede possui atualmente 11,98% de participação no bolo publicitário do país, enquanto o jornal responde por 11,06% e a TV está na ponta com 60,63% (saiba mais).

"A audiência na internet é dispersa, fluída, provavelmente a expressiva maioria dos visitantes do site da Folha nem vai dar com a cara no 'muro de cobrança', porque consome pouquíssima notícia", continuou a ombudsman. "Entre os que atingirem a cota de 40 textos por mês, só os realmente comprometidos com o jornal aceitarão pagar. Não é difícil imaginar formas de burlar o 'paywall', mas a experiência com iniciativas semelhantes - download de músicas, por exemplo - mostra que uma parcela considerável não se incomoda em gastar, desde que não seja muito."

O problema, segundo ela, é que o jornalismo produzido pelo veículo para a internet precisa melhorar para agradar a esta pequena parcela pagante. Segundo ela, "para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do 'mundo B', ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede".

Quanto a isso, Dávila se mostrou tranquilo, disse que os sites de notícia gratuitos não são concorrentes da Folha e ainda garantiu que a cobrança implicará em melhora na qualidade do site.

Por Leonardo Pereira

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