quarta-feira, 30 de maio de 2012

Matemática mostra que impostos e custos ainda são chave para preço do carro

O mercado de automóveis voltou às manchetes em razão da agitação trazida pelos preços com alívio provisório do IPI, relaxamento de juros e do número de prestações. Há posições antagônicas entre alguns analistas, por um lado, indústria e concessionárias, de outro, as duas últimas afinadas em relação ao otimismo moderado.



BOLHA AUTOMOTIVA
Para os céticos, estaríamos diante de iminente estouro da bolha de consumo, iniciada há três anos pelos financiamentos longos e pouco rigor na aprovação de cadastros. Essa tese explicaria a alta recorde da inadimplência, de 5,9% (mais de 90 dias de atraso), o prejuízo de alguns bancos varejistas no setor e, assim, a dificuldade para queda acentuada dos juros e alongamento dos prazos.
Outros acham que a redução do IPI, somada aos descontos dos fabricantes acordados com o governo, deixaram os preços atuais, em alguns casos, próximos aos promocionais já praticados até a semana anterior. Isso, realmente, acontece, mas nada indica que o ambiente de competição não continuaria puxando os preços para baixo.
NOVO RECORDE
Otimistas pensam de outra forma. Sérgio Habib, importador JAC e dono de 95 concessionárias, de norte a sul do país, da própria JAC, Citroën e Volkswagen, afirmou à coluna: “Sentimos 35% de aumento de trânsito nas nossas lojas, nos últimos dias. Aposto que, até 31 de agosto, 1 milhão de unidades de todos os tipos serão vendidas. E se mantidas as condições atuais até o final do ano, não descarto que o Brasil consiga atingir 4 milhões.”
Tal previsão supera os 3,8 milhões de unidades, ainda não revistos pela Anfavea. Seu raciocínio é que o brasileiro troca de carro, em média, a cada 32 meses. “Em 2009, ano ruim para a economia (0,2% de retração do PIB), venderam-se mais de 3 milhões de veículos. Hoje (momento teórico da troca), mais de 80% dos compradores estão adimplentes, os preços caíram e as condições de financiamento são similares.”
VALORES
Como os preços, sempre eles, são motivo de discussão que tal ver o cenário dos últimos oito meses? Comparar preços com os EUA tem sido esporte popular. Pegue-se o Civic, mesmo automóvel fabricado aqui e lá. Só que o Civic mais barato lá é “pelado”, como se fala. Não existe aqui. Então seu preço para comparar não é o DX de US$ 16.000 e sim o LXL de US$ 23.000, incluído o frete. Em 1º de setembro de 2011, custava, com dólar a R$ 1,60, cerca de R$ 37.000. Pechincha, não?
Como a diferença de taxação é brutal, a referência menos ruim é o preço do Civic equivalente para taxistas no Brasil. Em 1º de maio último, o LXS valia R$ 53.000, sem IPI e ICMS, porém ainda com carga fiscal superior à dos EUA. Mas considerando o dólar atual, mais valorizado (dólar a R$ 2,10, antes da intervenção do Banco Central), o preço do Civic americano, em reais, saltou para R$ 48.000. Por sorte, os americanos recebem seus salários em dólares e os brasileiros, em reais. Assim, ninguém sentiu os 30% de variação cambial.
Se igualadas as cargas fiscais, os dois modelos custariam aproximadamente o mesmo preço, em maio. Alguns centavos a mais no valor do dólar e o carro sairia mais barato aqui.
Conclusão: qualquer variação mais forte do dólar leva a essas distorções, para cima ou para baixo. Não serve de consolo para os nossos preços altos por impostos e custos, mas a matemática é assim, implacável.
Siga o colunista: www.twitter.com/fernandocalmon


RODA VIVA

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+ Cotas com IPI mais baixo para importados de marcas premium ou de modelos médios-grandes e grandes já são admitidas pelo governo, segundo fonte da coluna. Problema está em veículos compactos e médios-compactos de origem chinesa e sul-coreana. Seus preços baixos de exportação e valorização do real sufocam a produção nacional.
+ Novo sedã Peugeot 301 (aqui), embora projetado para países emergentes, tem poucas chances de produção no Brasil. Talvez na Argentina, mas seu preço ficaria próximo ao do 408. Para combater o Logan diretamente precisaria ter sido pensado desde o início como baixo custo, que não parece ser o caso. Peugeot também negou o 206 sedã e o carro acabou sendo feito aqui, é o atual 207 Passion.
+ Citroën DS3 (aqui) chega por R$ 79.900 e oferece conceito ampliado de esportividade. Vidros laterais e traseiro conferem estilo diferenciado da versão normal, ao esconder coluna C e dar novo aspecto à coluna B. Motor turbo 1,6/165 cv já entrega 48 cv a apenas 1.400 rpm. Destaques para bancos, direção, câmbio manual de seis marchas e suspensões (embora ruidosas).
+ Estilo  atraente, bom espaço interno e câmbio (apenas manual) fácil de manusear. JAC J5, além do preço agora abaixo da barreira psicológica de R$ 50 mil (R$ 49.990), tem acabamento simples, visibilidade ruim dos instrumentos, ausência de botão central de destravamento de portas e imprecisão direcional. Falta torque ao motor de 1,5 l/125 cv.
+ Depois de 14 anos de importação, Lexus vendeu em média apenas oito carros por mês no Brasil. A divisão de automóveis caros da Toyota terá dificuldades nessa fase de relançamento da marca (aqui). Iene valorizado deixou todos os quatro modelos bastante fora do nível de preços razoável para competir. Precisarão ter muita paciência ainda...

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