Para pagar débito, consumidores repassam automóvel e dívida. Para Anef, acordos para quitar dívida vão diminuir índice de inadimplentes.
A inadimplência recorde e o aperto dos bancos no crédito têm causado
algo além de concessionárias vazias. Muitos consumidores que, com o
incentivo do governo, compraram carro financiado nos últimos anos,
chegam a um verdadeiro limbo quando têm dificuldade em pagar as
parcelas. Tentam vender o veículo, mas, como o carro deprecia rápido e
há grande oferta, o valor conseguido na venda não é suficiente para
quitar a dívida.
Para resolver o problema, muitos consumidores têm tentado uma solução
caseira: repassar o automóvel e a dívida a outra pessoa. Às vezes, no
desespero, até de graça.
"Um carro pode depreciar até 40% em um ano. Em um crédito de 60 meses,
os pagamentos do primeiro ano amortizam 10% da dívida. Esse foi o erro
que cometemos em 2010 e 2011. Reduzimos muito o juro, facilitamos demais
as condições e, por isso, a inadimplência subiu", reconhece o
presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva.
De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das
Montadoras (Anef), a inadimplência ficou em 5,5% em fevereiro, alta de
0,2 ponto percentual frente a janeiro e 2,7 pontos percentuais a mais em
comparação com fevereiro de 2011. Segundo a entidade, não foi
verificada uma reversão na tendência das curvas de inadimplência, ou uma
sinalização de estabilização.
Por outro lado, a entidade se mostra otimista em relação aos clientes
inadimplentes que procuram as instituições financeiras para resolver a
questão. “A tendência é de que, nos próximos meses, este cliente que fez
um acordo para quitar as prestações em atraso deixe de ser inadimplente
e a curva comece a baixar”, avalia o presidente da Anef, Décio
Carbonari de Almeida.
Repasse do carro e da dívida
Em janeiro, o paulistano Felipe Di Luccio percebeu que as contas não fechavam. A faculdade, a parcela do apartamento recém-comprado e o financiamento do carro consumiam boa parte do salário.
Para sair do vermelho, decidiu vender o Celta comprado sete meses antes
em 60 parcelas. "Mas não dava. Receberia R$ 20 mil, insuficiente para
quitar a dívida de R$ 23,5 mil no banco. Então, decidi repassar a
dívida."
O plano do estudante de arquitetura era simples. Como a venda do carro
não bastava para liquidar a dívida, queria se livrar do financiamento
com a entrega do carro para outra pessoa. "Vai o carro, vai a dívida",
resume. Não há números oficiais, mas financeiras e lojas de automóveis
reconhecem que a iniciativa de Luccio tem se repetido cada vez mais no
país.
Após a exuberância do crédito fácil e abundante dos últimos anos,
clientes com dificuldade financeira se desesperam ao perceber que não
basta vender o carro para quitar o empréstimo. Os que mais sofrem são
aqueles que optaram pelo financiamento de 100% do veículo, exatamente
como Luccio.
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