A Ranger é uma picape conhecida no mercado
brasileiro por sua tradição e resistência desde 1995, quando chegou para
combater outra então recém-nascida do segmento, a Chevrolet S10. Desde
então, trava duelo com a picape da GM por oferecer versões que vão da
mais simples com motor flex à topo-de-linha, a diesel, com tração 4x4 e
cabine dupla.
Essa gama variada (atualmente, também oferecida
por outras picapes) é perfeita para o país, pois atinge do frotista, que
busca o pacote mais barato, ao fazendeiro, que precisa de um carro que
encare situações extremas fora-de-estrada.
As especificações
intermediárias e topo da gama, curiosamente, acabam sendo as preferidas
também de caubóis do asfalto, que gostam de colocar veículos altos e
robustos para rodar de casa para o trabalho e de lá para o
shopping-center. Os também chamados agroboys não têm preocupação com
espaço, nem querem sabem o que significa tração 4x4. Só precisam de um
"carrão" para impor respeito na cidade.
Leia mais sobre a Ranger
São eles o alvo da Ranger Limited flex, de R$ 87.500,
avaliada nesta reportagem. Ela tem configuração inicial: motor 2.5 flex
de 173 cv e 47,9 kgfm de torque (etanol), câmbio manual de cinco
marchas e apenas tração traseira (4x2). Por outro lado, o visual é
idêntico ao da versão mais cara -- aquela com cabine dupla, motor diesel
e tração 4x4.
POR DENTRO
Esta grandalhona
entrega mimos como o sistema de som com programa SYNC (que ouve os
comandos de voz do condutor, mas exige um bocado de tempo até ser
compreendido), tela de LCD para rádio, telefonia (por Bluetooth) e
navegação por GPS, câmera de ré no retrovisor, bancos de couro com
ajuste elétrico para o motorista e ar-condicionado de duas zonas. Além
disso, a picape conta com comandos no volante e controle de tração.
Atrás, na cabine, há bom espaço para três pessoas, principalmente para a
cabeça -- a área livre para pernas também é boa, mas menos
privilegiada. O vão central, normalmente mais alto em picapes médias por
causa do eixo cardã, é quase nivelado ao assoalho, graças ao projeto
moderno da Ranger. A caçamba da versão com cabine dupla leva bons 1.180
litros, 119 l a mais que uma Chevrolet S10 com a mesma configuração.
É UM SUBMARINO?
- Fusca amarelo fica parcialmente submerso em alagamento no cruzamento das avenidas Rebouças e Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo, na última quinta-feira (13). As regiões central, leste e oeste da capital paulista entraram em estado de atenção. A Ranger trafegou tranquila.
O LADO BOM DE SER GRANDE
Esse apanhado de itens equivale ao pacote de um sedã de luxo em uma
embalagem tamanho Extra G. No trânsito, há prós e contras. O lado ruim,
obviamente, é circular em vias apertadas e manobrar a picape em vagas
comuns (mesmo com auxílio da câmera de ré). Já a vantagem seria uma
grosseria em locais civilizados, mas certamente fará a diferença em
nosso trânsito caótico: nenhum carro de passeio ousa te fechar, nem
mesmo disputar uma faixa com você -- muitos cederão passagem, raridade
nas ruas de nossas capitais.
Além disso, nas típicas enchentes de final de ano você vira rei. Em um dos dias do teste, enfrentamos um alagamento absurdo na região da avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo (SP). Enquanto todos os outros carros estavam ilhados ou recuados em relação ao alagamento (um Fusca chegou a sucumbir -- a imagem do fato pode ser vista aqui), a Ranger passou com tranquilidade, para a alegria de alguns motociclistas que estavam presos e a acompanharam.
O LADO RUIM DE SER GRANDE
Em alguns pontos, porém, a Ranger está mais para caminhão e dos
antigos. O câmbio manual de cinco marchas joga contra: os engates são
imprecisos e cortam importantes segundos em uma retomada de velocidade,
por exemplo.
Além disso, sua associação a um motor flex num
veículo de quase 2 toneladas agrada ao inconsciente coletivo do
comprador brasileiro, mas deveria ser proibida por conta do consumo
assustador: 4,5 km/l com etanol na cidade. A "salvação" vem do tanque
com generosos 80 litros.
A suspensão se comporta bem em vias
lisinhas. Mas o leitor sabe o quanto isso é raro no Brasil: prepare-se
para trafegar pela cidade como se estivesse na mais atribulada das
trilhas.
SÓ NO CASCALHO
Vamos falar agora do lado off-road. Mas nem deveríamos: a Ranger 4x2 é
um veículo tipicamente urbano, feito no máximo para transitar entre a
estradinha recoberta de cascalho que liga a sede da fazenda à rodovia.
Quem realmente precisa de força e desempenho fora-de-estrada tem de optar pela Ranger 4x4 a diesel, avaliado por UOL Carros no início de julho, que faz exatamente o que qualquer outro veículo com este tipo de tração faz.
Mas resolvemos jogar a Ranger "de passeio" na lama, num dia de garoa
leve, durante a sessão de fotos em uma pedreira. A situação virou motivo
de risos. A picape sofreu para se livrar, o controle de tração precisou
ser desligado por cortar a rotação do motor na faixa das 4 mil rpm, e
os empregados do local tiveram motivo para tripudiar: "O que houve? Uma
carro desse não consegue sair?".
É o que dá ter visual de picape
completa, a diesel e "traçada", mas ser totalmente urbana. Sem tração
integral, a picape estava longe de se sentir em casa. No fim, a Ranger
4x2 escapou do atoleiro e até melhorou seu consumo ao rodar pela estrada
no retorno à cidade: 8,9 km/l.
A saia justa no lamaçal
escancara o objetivo desta versão: conquistar agroboys que não têm
preocupação com espaço e nem sabem o que significa tração 4x4. Caso sua
necessidade seja enfrentar lama, poças, pedras ou areia, vá atrás da
versão topo, a diesel, e ignore a Ranger 4x2. Se você procura um carrão
que impõe respeito na cidade e ainda vem preparado para enfrentar
enchentes, os quase R$ 90 mil não parecem tão salgados assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário