Empresas devem aplicar conceitos do design para melhorar suas cadeias produtivas e criar valor em todo o ciclo de vida dos seus produtos e serviços
Os conceitos ligados ao design deixaram há tempos de focar
unicamente nas questões estéticas. Um número cada vez maior de empresas
passa a entender que este campo do conhecimento pode ser bastante útil
também no desenho de processos, na construção da experiência do usuário e
nas questões ligadas à sustentabilidade. O chamado design sustentável
busca desenhar produtos
e serviços que estejam em sintonia com as questões ambientais e
ecológicas não apenas durante a sua produção e consumo, mas também no
descarte, na sua reciclagem ou na reutilização.
O assunto foi tema do Rio+Design 2012 que aconteceu no Museu
de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro durante a primeira semana de
dezembro. A exposição reuniu projetos inéditos, desenvolvidos a partir
de matérias-primas brasileiras, como fibra de coco, pastilhado de
macieira, madeira plástica, laminado decorativo de PET, entre outros. O
evento teve como objetivo apresentar soluções sustentáveis que podem ser
aproveitadas pela indústria.
Pensar em design sustentável significa desenvolver produtos que sejam
“verdes” em todo o seu ciclo de vida. “Esta é uma tendência que se
fortalecerá nos próximos anos, pois o novo consumidor é cada vez menos
tolerante às marcas que não se mostram sustentáveis em toda a sua cadeia
produtiva”, explica Ricardo Leite, Sócio-Diretor de Criação da Crama
Design Estratégico, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Consumidores exigirão solução das marcas
Com a maior velocidade nos lançamentos de produtos, o ciclo de vida
útil de cada item disponibilizado no mercado é cada vez menor. Isso gera
um problema no pós-uso, quando o consumidor se desfaz do material que adquiriu
para comprar um modelo mais recente. Uma das tendências apontadas
durante o Rio +Design 2012 é que os consumidores exigirão uma solução
das marcas para os problemas gerados pelo consumo desenfreado.
As
empresas precisam pensar no design sustentável sob dois pontos de
vista: no início da cadeia produtiva, a fabricação deve ser planejada de
maneira a consumir o mínimo de insumos e matérias-primas. Em segundo
lugar, a empresa deve formatar seus produtos tendo em vista o descarte
ou sua reutilização. “Os produtos não chegam a quebrar. Eles apenas
perdem o significado. Há um incentivo enorme por coisas novas. Novos
modelos e versões são lançados em um espaço de tempo muito curto. Isso
gira a economia, mas por outro lado gera um consumo predatório que está
sendo questionado, além de gerar muito descarte e lixo. Afinal, até
quando o planeta aguentará?”, afirma Ricardo Leite.
Principalmente nos países mais ricos, o grande número de lançamentos e a
maior concorrência entre as empresas fazem com que o consumidor troque
os seus produtos com extrema rapidez. “Onde o design entra nisso? Ele
terá condições de avaliar o processo completo, fundamentado em
observações. O designer perceber o que funciona e como agente
transversal em toda a cadeia produtiva, tem condições de apontar as
melhores soluções para cada etapa da vida de um produto”, complementa o Sócio-Diretor de Criação da Crama Design e colunista do portal.
Inspiração na natureza para buscar soluções
Outra tendência cada vez mais discutida quando o assunto é design
sustentável é a inspiração na natureza para encontrar soluções. As
empresas devem olhar para os ecossistemas e a apartir deles estabelecer
os melhores caminhos para as suas estratégias de Marketing. “O
cruzamento dos negócios com a natureza é uma fonte poderosa para
encontrar saídas para as questões que enfrentamos no dia a dia. A
natureza está há alguns bilhões de anos lidando com uma série de
problemas que nós também enfrentamos, como super populações, descarte de
resíduos, só para citar alguns exemplos”, argumenta Fred Gelli, Sócio e
Diretor de Criação da Tátil Design de Ideias.
Neste caso, a inspiração no design serve tanto para soluções no desenho
de produtos, nos processos produtivos e até mesmo nos modelos de
negócios. Algumas companhias são reconhecidas neste aspecto por terem
criado ecossistemas que são sustentáveis e geram valor para todos os
envolvidos. O exemplo mais citado é a norte-americana Whole Foods, que
desenvolveu um sistema de geração de valor envolvendo todos os
parcerios, fornecedores e distribuidores. Isso garante que toda a cadeia
de valor seja sustentável.
Este conceito amplia o espaço de atuação do design dentro das
companhias. “Estamos falando de uma evolução no jeito de fazer negócios.
Teremos daqui para frente empresas mais preocupadas em gerar um valor
compartilhado do que apenas gerar valor para si próprio. Cada parte
envolvida nas trocas recebe a sua parte. A diferença está na percepção
de que só é possível gerar valor a longo prazo para a marca se outros
indivíduos desta cadeia também receberam a sua parte”, afirma Fred
Gelli.
Design também nos processos
Pesquisa
apresentada por Fred Gelli durante o Fórum HSM Expo Management 2012,
realizado no mês de novembro em São Paulo, aponta que 75% das marcas que
ocuparão a lista das 500 maiores empresas em 2020 ainda não foram
criadas. Este seria um reflexo direto do choque entre antigos modelos de
negócios e os novos, que pensam o design sustentável como parte central
de suas estratégias. “O mesmo pensamento aplicado no design de
produtos pode ser aplicado em outras áreas. Como posso oferecer um
serviço mais rápido? Como posso criar uma aplicação mais intuitiva? Como
reduzo o número de etapas para abrir uma conta em um banco? O
pensamento de design pode tornar mais dinâmico qualquer processo”,
explica Luís Arnal, CEO da Insitum, em entrevista ao Portal.
O desafio das marcas estará na criação de produtos, serviços e
pontos-de-venda que minimizem o impacto ambiental, reduzam o uso de
recursos não-renováveis e melhorem a vida das pessoas. “Não é por acaso
que o design thinking está sendo ensinado nas principais escolas de
negócios do Brasil e do mundo. Hoje o designer ainda é convocado somente
no final do processo, quando as decisões foram tomadas por engenheiros e
profissionais de Marketing. Mas as marcas estão descobrindo que pensar
em design significa também reduzir custos. E as empresas que construírem
cadeias produtivas sustentáves terão a simpatia dos consumidores”,
argumenta Ricardo Leite, Sócio-Diretor de Criação da Crama Design
Estratégico.
A rede de laboratórios Sérgio Franco recentemente reformulou todos os
seus materiais de coleta levando em consideração tanto a economia na
fabricação quanto a facilidade e a segurança no transporte. “Da mesma
forma que na natureza, as marcas de sucesso no futuro serão aquelas que
conseguirem se manter constantemente trocando com seus stakeholders em
processos que gerem valor para todas as partes. E o design tem papel
fundamental neste processo”, conclui Fred Gelli.
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