Na véspera do Salão de Paris deste ano, a Volkswagen realizou
seu costumeiro ritual de reunir a imprensa mundial e desfilar novidades
um dia antes de a mídia ter acesso ao salão propriamente dito (e aos
carros de todas as outras marcas, portanto). Como sempre há notícia
fresca no evento, batizado de Media Night, a Volks acaba saindo na
frente das rivais quanto à exposição. Desta vez a “bomba atômica” foi a
apresentação do Golf 7. (A Volks do Brasil replicou o Media Night na véspera do Salão de São Paulo, mas escondeu o conceito Taigun.)
Eu assisti à Media Night de Paris e, mais do que o novo Golf, o que
me chamou a atenção foi o belo design atual dos modelos Seat,
subsidiária espanhola da Volks. Carros como o Ibiza (equivalente a
Gol/Polo) e Leon (Golf) abandonaram um estilo meio grosseiro — que ainda
pode ser visto na gama Skoda (marca da Volks na República Tcheca) — e
ganharam traços ousados, angulosos, com talhos súbitos e conjuntos de
luzes aguçados e marcantes.
Seat Leon na noite de mídia do Grupo Volkswagen em Paris (foto: Murilo Góes/UOL)
É exatamente o oposto do que se vê hoje nos carros da Volkswagen
propriamente dita. Nela, a uniformização conservadora das dianteiras,
com o claro propósito de criar um DNA global simplificado, de fácil
leitura e identificação, e assim ascender ao topo do mundo em termos de
vendas, já atingiu proporções quase surrealistas — basta citar o novo Santana, cujas primeiras fotos foram divulgadas na semana passada. Ele, Jetta, Passat e Phaeton são, basicamente, idênticos quando vistos de frente.
Naquela noite parisiense da Volks, o Leon dividiu o palco com um Audi
A3 e um Golf 7. Pelo menos na minha opinião, roubou a cena dos dois
(atenção: a plataforma do trio é a mesma, a MQB). Mas o carro espanhol
não era a notícia da noite, e a Seat não é mais vendida no Brasil. Por
isso volto ao tema apenas hoje, após ver um pacote de fotos oficiais do
Leon, que está chegando agora às lojas europeias (veja no álbum abaixo).
Fotos do novo Leon
E arrisco uma das respostas possíveis para a pergunta do título: a
Seat, justamente por ser menor, local (e ibérica, em vez de germânica),
tendo de carregar o peso extra da necessidade de se diferenciar das
co-irmãs (que são vendidas nos mesmos mercados que ela), está autorizada
a “ousar” mais no estilo. Outra maneira de ver a questão: a Seat pode
“errar”. Volks e Audi, não.
O Leon é um dos primeiros trabalhos do designer espanhol Alejandro
Mesonero-Romanos, madrileno e cria da Seat, mas que passou uma
temporada na Renault e, ainda empregado desta, na área automotiva da
sul-coreana Samsung. O homem responsável pela homogeneização do desenho
dos modelos Volkswagen, o designer italiano Walter de Silva, foi quem o
convidou para voltar à Seat em 2011, em substituição ao belga Luc
Donckerwolke, iniciador da atual identidade da marca espanhola e hoje
assessor direto de Silva.
PS – Não custa lembrar que o estúdio do lendário Giorgetto
Giugiaro (talvez o maior designer do século 20), que aliás também criou
diversos modelos Seat, hoje é controlado pela Lamborghini, por sua vez
controlada pela Volks. O papo dessa turma no bandejão da firma deve ser
bem interessante.
(por Claudio Luís de Souza)
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