Programa 'Minha Casa, Minha Vida' ainda garante demanda pelo consumo, mas valorização de terrenos preocupa o segmento
O mercado imobiliário, por tradição um dos ramos mais sensíveis aos
humores da economia, sofre o impacto da crise financeira instaurada no
mundo. No entanto, exemplos colhidos junto aos empresários do segmento
apontam que o setor ainda reserva oportunidades para o pequeno
incorporador.
Os mais beneficiados são os que direcionam os investimentos
para a construção de residências populares, filão que se mantem atraente
respaldado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, pacote de incentivos
do governo federal.
Lançado em 2009, o “Minha Casa, Minha Vida” tem como meta
erguer 3,4 milhões de casas até 2014, segundo o Ministério das Cidades. O
programa oferece descontos e subsídios para unidades de até R$ 160 mil,
destinadas ao consumidor com renda bruta de, no máximo, R$ 5 mil ao
mês. Até o mês de julho, 1,841 milhões de imóveis – 54% do objetivo –
tinham saído do papel.
“Essas casinhas saem rápido demais. Eu mesmo já estava com
tudo vendido antes de finalizar as obras”, conta o empresário José
Carlos Martins. Ele trabalha em construção desde 1984 e, há dois anos,
largou a profissão de mestre de obras para ser um micro incorporador de
habitações populares.
Foi quando Martins decidiu vender um terreno e uma casa que
tinha em sua cidade natal, Poços de Caldas (MG). Parte dos R$ 160 mil
adquiridos na venda das propriedades foram aplicados na aquisição de
dois terrenos em Cotia, na grande São Paulo. Neles, já construiu quatro
imóveis, vendidos em um prazo de quatro meses.
“A gente trabalha para obter 100% de lucro bruto, mas as
vezes não consegue. Ficamos com 80%, 70% em muitos dos casos”, afirma
ele, que projeta outros oito empreendimentos.
“De uns tempos para cá, esses imóveis do ‘Minha Casa, Minha
Vida’ são os que têm movimentado boa parte dos pequenos empresários do
setor”, afirma Flávio Prando, vice-presidente do Sindicato da Habitação
de São Paulo (Secovi-SP).
Luiz Salge, dono de uma consultoria na área, concorda. Ele,
contudo, alerta que o ritmo de ofertas só não é maior porque a procura
em alta inflacionou o preço dos terrenos.
“O empresário ou diminuiu o volume de lançamentos ou partiu
para as cidades do entorno de São Paulo, onde ainda se encontram lotes
com preços acessíveis”, conta.
Opções valorizadas. Estimativas da Empresa
Brasileira de Estudo de Patrimônio (Embraesp) endossam o que relata
Salge. Segundo a instituição, o metro quadrado registrou, de 2005 para
cá, valorização de até 2,6 vezes em bairros periféricos paulistanos.
“Os lançamentos estão acontecendo a cerca de 30 quilômetros
do centro da capital, em cidades como Cajamar e Guarulhos”, diz Luiz
Paulo Pompéia, presidente da Embraesp.
A incorporadora Marcia de Aquino Chaccur utiliza a
estratégia. Em 2008 ela vendeu um restaurante para construir e
comercializar casas populares. Desde então, entregou um residencial com
quatro unidades e um prédio com 11 apartamentos, todos no início da
Rodovia Raposo Tavares, na Grande São Paulo.
Para os projetos futuros, a empreendedora diz que o jeito
será pegar a estrada e começar a construir alguns quilômetros adiante,
em direção ao interior. “Para não apertar mais o meu lucro, que gira
entre 20%, vou começar a investir a partir de Vargem Grande Paulista”,
planeja.
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