Apesar de recente, alguns especialistas já apontam para a existência de um novo conceito como forma de se relacionar de forma mais focada com um consumidor que busca propósitos e valores
Branding é uma disciplina de Marketing recente, criada há pouco
mais de 10 anos e que ainda é aprendida pelas marcas. A velocidade nas
mudanças que permeiam as relações com os consumidores, no entanto, faz
com que muitos especialistas já falem em um Novo Branding, com
estratégias cada vez mais focadas em valores e propósitos. Mas, afinal,
esse conceito realmente existe?
Uma nova relação
Os conceitos de valor e propósito ganham uma importância maior para o
consumidor moderno e exige das empresas um investimento em nova
consciência como forma de sobreviver no mercado e continuar sendo
relevantes. “Os consumidores não se iludem mais com um trabalho
institucional separado do produto. As marcas precisam passar práticas.
As pessoas querem, por exemplo, um produto que tenha processos
produtivos que não prejudiquem o meio ambiente, ou que não utilizem mão
de obra infantil. Não existe um Novo ou um Velho Branding”, completa o
especialista.
As
companhias já perceberam que o consumidor conta com uma multiplicidade
de canais de comunicação, estando em uma posição de produtor de
conteúdo. Essa nova mentalidade vem fazendo com que as marcas tenham que
aprender a atuar de forma cada vez mais orquestrada e estratégica. “Não
vejo isso como um novo Branding, mas como uma reinvenção do próprio
conceito. Esse trabalho só pode ser feito pelas empresas e nós,
consultores, podemos atuar dando sugestões e identificando pontos
falhos”, afirma Ricardo Leite, Sócio e Diretor de Criação da Crama
Design Estratégico, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Pensando o consumidor como pessoa
Para alguns especialistas, o chamado Novo Branding é uma forma
diferente de enxergar o consumidor. Empresas como a Technos passaram a
observar os clientes como pessoas que se alteram conforme a ocasião de
consumo e a necessidade. A fabricante de relógios atuava colocando no
mercado novos produtos de acordo com as tendências. O resultado foi um
portfólio variado, porém, confuso. Depois de um estudo de marca, foram
criadas categorias diferentes de relógios, nas linhas Classic, Elegance,
Sport e Pop. “Temos que pensar o consumidor como pessoa que carrega
dentro dele várias outras pessoas, ou seja, quem compra um relógio
Sport, por exemplo, também compra um clássico, de acordo com a ocasião”,
completa Leite.
Para Jaime Toiano, Presidente do Grupo Troiano de Branding, o conceito
de Branding em si ainda é muito novo e não abre espaço para muitas
novidades. “O consumidor mudou do ponto de vista do poder de compra, não
de mentalidade, de valores ou desejos. No Brasil ainda não houve tempo
nem investimento para uma alteração nas atitudes”, afirma o executivo.
Executivos explicam que é preciso estar atento à imagem da marca por
conta de uma consciência maior do consumidor. “O principal a ser
entendido é que esse é um trabalho complexo que tem que ser feito pela
empresa. Hoje há outras ferramentas e talvez isso possa ser interpretado
como um novo Branding. É importante que tudo esteja orquestrado porque
qualquer falha que ocorra dentro desse processo pode afetar a imagem da
marca”, explica Leite, da Crama Design Estratégico.
Consumidor exigente
Troiano aponta para a importância de um trabalho focado principalmente
na Classe C e suas particularidades. “O consumidor sempre teve seu poder
de decisão. Isso não mudou. Não existe um Novo Branding, mas uma nova
maneira de se relacionar. Apesar disso, os princípios fundamentais são
os mesmos. Talvez a novidade seja que as empresas precisam perceber que a
Classe C não é uma AB 1.0, mas sim pessoas com suas próprias formas de
pensar. Não adianta pegar um produto AB e baratear para a Classe C,
porque eles são conservadores”, diz Troiano.
A
produção de conteúdo feita pelo próprio consumidor também mostra que a
construção de uma marca já não é mais tão simples quanto no passado.
“Há, sim, uma nova maneira de se diferenciar. Os pontos de contato na
relação com os consumidores estão mudando. O Branding não é formado
apenas por uma dimensão e cada consumidor perceberá a marca de uma forma
diferente. O novo Branding existe e é fundamental estar atento à imagem
de marca hoje. Há uma nova maneira de construir a relação”, afirma
Alberto Cerqueira Lima, Presidente da Copernicus Marketing Consulting no
Brasil, em entrevista ao portal.
Atrelar valores como uma forma de buscar uma diferenciação é um ponto
que vem sendo trabalhado pelas empresas. O conceito de Branding Integral
passa as marcas de simples negócios que geram lucro para os acionistas
para atuantes em processos que construirão um mundo melhor.
Marcas que praticam propósitos conseguem se diferenciar na relação.
Especialistas apontam que é preciso estar atento para um posicionamento
integral já que o relacionamento com o consumidor está cada vez mais
sincero e transparente. “Há 10 anos, quando estava insatisfeito, o
máximo que o cliente podia fazer era enviar uma carta para um jornal ou
fazer uma reclamação no SAC das empresas. Hoje, a pessoa coloca a sua
reclamação no Facebook e, no dia seguinte, isso já foi visto por
milhares de pessoas. É um processo muito rápido, contundente e que
produz resultados surpreendentes. Novo Branding é uma revisão na maneira
como as marcas encaram as pessoas com as quais se relacionam, que
deixam de ser só consumidores para serem steakholders”, completa Gelli,
da Tátil.
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