- A mão amiga do governo vale mais do que bons produtos ou uma estratégia de marketing eficiente
O carro é bem vendido no Brasil não porque tem a melhor qualidade, o
melhor custo, o menor lucro, porque é o mais bonito ou o mais veloz. A
marca que mais cresce não é a que empreende a melhor ação de marketing, a
melhor estratégia de mercado ou faz o melhor lançamento. E muito menos
porque tem a preferência do consumidor.
O que tem determinado as mudanças nas vendas no mercado de carros no
Brasil é a antítese do pensamento liberal: a intervenção do Estado na
economia. Intervenção, é preciso dizer, feita a pedido e em benefício
das próprias montadoras, incomodadas com a evolução de vendas de marcas
importadas, que chegaram com produtos de alta qualidade, bem equipados
e, mesmo pagando impostos extras, forçaram a queda dos preços no
mercado.
O balanço de vendas do primeiro semestre de 2012 mostra uma mudança
brusca no comportamento de algumas marcas, resultado da intervenção do
Planalto no setor.
É natural que as marcas velhas percam espaço para as novas, já que
elas detêm ampla parcela do mercado: as três grandes – Fiat, Volkswagen e
GM – têm juntas mais de 60% das vendas, enquanto as pequenas evoluem
lentamente. O que não é natural é a queda brusca sofrida por algumas
marcas em período tão curto, caso das coreanas, que vinham aumentando
progressivamente as vendas, trazendo novidades, apresentando produtos
modernos e competitivos. O Super IPI golpeou violentamente a Kia, que
perdeu praticamente metade da sua participação: caiu de 40,5 mil
unidades, vendidas no primeiro semestre de 2011, para 22 mil neste ano,
45,5% a menos. A Hyundai vendeu 42,9 mil de janeiro a junho, 21,5% a menos que no mesmo período do ano passado.
Beneficiada com a isenção para carros que vêm do México, a japonesa
Nissan – tão importadora quanto as coreanas (77,6% das vendas da Nissan
são de estrangeiros) – cresceu 118% e conquistou, neste semestre, 1,93
ponto de participação no mercado.
JAC e Chery, detentoras de apenas 0,6% do mercado, também foram
castigadas com o Super IPI e não repetiram no primeiro semestre o mesmo
desempenho que tiveram no ano passado.
Da mesma forma, foi a mão do governo que fez de junho o segundo
melhor mês da história e o primeiro em vendas diárias: foram mais de 17
mil carros desovados por dia no mês passado, graças à intervenção
estatal.
Tudo graças ao controle da economia, que os empresários tanto
criticam, mas dizem amém – e até aplaudem – quando a intervenção vem em
seu benefício.
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