A colisão de dois trens do metrô paulistano, ocorrido na quarta-feira
(16/5), provocou uma trombada pública entre o prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, e o governador do estado, Geraldo Alckmin. Além disso, o
episódio consolida de vez a percepção geral de que as chamadas redes
sociais digitais levam imensa vantagem sobre a mídia tradicional nos
casos em que a informação veloz e correta se torna crucial. A prova
dessa afirmação está no material publicado nos sites informativos ao
longo do dia do acidente e nos jornais de papel de quinta-feira (17).
O desencontro entre o prefeito e o governador, supostamente seu aliado
político, aconteceu quando Kassab declarou a jornalistas que os
hospitais municipais haviam atendido, até a hora do almoço, 103 pessoas
feridas no acidente. Naquela altura do dia, o governador divulgava o
número determinado por seus assessores: 33 feridos.
A diferença de 70 pessoas entre as duas versões, mais a ênfase do
prefeito na ação dos hospitais municipais, teriam irritado o governador,
segundo a Folha de S.Paulo. Além disso, o fato de a linha 3, onde
ocorreu a colisão, ser a que deverá atender os passageiros que quiserem
ir ao estádio de Itaquera assistir aos jogos da Copa do Mundo, provocou
maior repercussão do acontecimento na imprensa internacional.
Tema de campanha
Embora os jornais paulistas evitem explorar esse assunto, sabe-se que
as relações entre o governador e o prefeito não são exatamente as de
dois parceiros políticos. Gilberto Kassab é muito próximo de José Serra,
a quem deve o cargo, e sua iniciativa de criar o PSD pode reduzir a
influência de Alckmin e suas chances de sonhar com cargos mais altos.
Para a disputa da prefeitura, Serra precisará contar com a força do
prefeito e seus vereadores, terá que manter o seu próprio partido, o
PSDB, alinhado em sua defesa, e deverá evitar no que for possível a
vinculação com o governador. Para fugir da alta rejeição do atual
prefeito e não ser visto como uma continuação da atual administração,
seus estrategistas de campanha estão preparando um plano futurista, com
projetos de alta tecnologia voltados principalmente para as áreas de
informação e transporte.
Por essas e outras, o acidente no metrô já é tema da campanha eleitoral.
O primeiro acidente nos 38 anos da história do metrô paulistano vai se
transformar numa efeméride importante também pelo que poderia ter sido. O
choque ocorreu a uma velocidade entre 9 e 12 quilômetros horários, e os
ferimentos foram provavelmente causados pela freagem brusca. Se o trem
que colidiu estivesse trafegando à velocidade sugerida pelo sistema –
100 quilômetros por hora –, teria havido uma tragédia.
O fato de a colisão ter ocorrido em um trecho a céu aberto também pode
ter concorrido para evitar um pânico ainda maior, e os jornais destacam
que certamente estaríamos relatando uma tragédia se o maquinista do trem
que colidiu não tivesse visto a tempo a outra composição parada à sua
frente.
Para a oposição, trata-se de uma oportunidade de martelar no tema do
transporte público, que inferniza a vida do paulistano e de quem precisa
dos serviços localizados na capital, como os hospitais especializados.
As redes digitais
O título principal no caderno “Cotidiano” da Folhade S.Paulo reflete o
que circulou nas redes sociais momentos após o fato: “Pânico no metrô”. A
superlotação em praticamente todas as linhas, o trânsito caótico na
capital paulista e a má qualidade do sistema de ônibus são temas diários
nas redes digitais de relacionamento, e até aqui o metrô era tido como
um meio seguro, ainda que desconfortável.
As descrições sobre falta de informações, portas travadas, condições
inadequadas de escape da área onde ocorreu a colisão pipocaram ao longo
do dia em mensagens que foram repassadas para portais da internet e
emissoras de rádio.
As imagens publicadas pelos portais informativos e reproduzidas no dia
seguinte pelos jornais de papel também foram produzidas por passageiros.
A edição de quinta-feira (17) do Estado de S.Paulo vem recheada de
comentários curtos que vítimas e testemunhas dispararam pelo Twitter no
calor do acontecimento. O cruzamento de informações trocadas na rede
permitia ao cidadão conectado formar uma ideia geral do acontecimento já
no começo da tarde, e tomar decisões importantes para superar o
problema da volta para casa.
O caso ilustra bem como funcionam as redes complexas quando se impõe um
conteúdo de amplo interesse coletivo. O episódio revela que trens e
políticos podem trombar a qualquer momento, mas a comunicação em rede
sempre encontra o melhor caminho entre a informação e quem precisa dela.eira (17).
Por Luciano Martins Costa para o Observatório da Imprensa
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