Os governos dos Estados Unidos e da União Europeia apresentam
diferentes estratégias para diminuir o consumo de combustíveis fósseis
e, por consequência, a emissão deCO2. Esse é o principal gás
do efeito estufa e seus possíveis efeitos sobre mudanças climáticas
ainda se discutem em termos de prazos e abrangência.
Na Europa existem metas de emissões com cobrança de imposto sobre os carros que estiverem acima da média de 130 g/km de CO2
e bônus para os que se situarem abaixo. Nos EUA foi definida a
obrigatoriedade de consumo médio de 23 km/l de gasolina, igualmente para
a média dos automóveis de cada fabricante, até 2025. O governo
americano deseja, ao mesmo tempo, reduzir sua dependência do petróleo e
diminuir CO2 emitido nos escapamentos. Sempre se deve
reforçar: não existem filtros ou catalisadores para esse gás, mesmo
porque é atóxico. Para controlá-lo, só com veículos mais econômicos.
Sem dúvida, melhorar em mais de 50% os padrões atuais de consumo dos
carros vendidos nos EUA é algo bastante ambicioso. Tanto que o governo
até admite reavaliar esse alvo em 2018. Os fabricantes nem puderam
espernear. Veio a ordem: cumpra-se.
Onde entra o consumidor nessa história? Justamente isso ecoou durante a
convenção anual da Nada (equivalente à brasileira Fenabrave), em
fevereiro passado, em Las Vegas (EUA). O presidente da entidade, que
reúne 18.000 concessionárias de automóveis e comerciais leves, William
Underriner, foi incisivo: "Quase 80% dos nossos clientes pesquisados não
estão dispostos a pagar mais por um veículo que gaste menos
combustível."
Ele citou o estudo da própria EPA (sigla, em inglês, para Agência de
Proteção Ambiental), que estimou em US$ 3.000 (R$ 5.500) o acréscimo
provável no preço sugerido para os automóveis, em média. Na realidade, o
acréscimo deve chegar a US$ 5.000 (R$ 9.000), porque as modificações
não se restringirão apenas a motores e câmbios. Haverá necessidade de
usar materiais leves e caros, além de redução das dimensões externas e
internas dos veículos. Seria necessário quase uma revolução cultural
para que os compradores abrissem mão do conforto e ainda tivessem de
pagar mais.
No evento, Underriner ressaltou que, historicamente, as concessionárias
sempre apoiaram a fabricação de veículos que consumissem menos
combustível. "Agora, se a política do governo vai encolher nossa base de
clientes, não devemos ficar preocupados? A Nada questiona porque não
desejamos ter de volta os pontos de venda vazios. Quantas pessoas serão
forçadas a comprar algo que não querem?"
TUDO VAI SUBIR
Embora essa reação pareça emocional, o risco existe. O pior dos cenários, levantado por Underriner, seria os clientes decidirem manter seus veículos atuais. "Se ocorrer, iria na contramão do objetivo de incrementar a economia de combustível", disse.
Mudar a mentalidade das pessoas pode ser tão difícil como os desafios
técnicos à frente. Há muita pesquisa em desenvolvimento e,
provavelmente, se poderia atender a meta exigida pelo governo. O
problema é saber a que preço. Nos EUA, aumento de imposto, como ocorre
na Europa, é palavrão. Alternativas, porém, escasseiam. Os combustíveis
vão aumentar porque o preço do petróleo continuará a subir. E o dos
carros, também. Dá para imaginar o tamanho da encrenca.
Os motoristas europeus estariam mais resignados porque lá o combustível
é caríssimo devido aos impostos. Parte do acréscimo, na hora de
preencher o cheque na loja, se compensaria ao diminuir o custo do
quilômetro rodado.
No Brasil, estamos a meio caminho, em termos de combustíveis, em
relação aos dois lados do Atlântico Norte. O governo, para tourear a
inflação, congelou o preço da gasolina por cinco anos, a ponto de dar
prejuízo à Petrobras no momento em que precisa de muito dinheiro para
investir, e inviabilizou o etanol. Certamente, alguma confusão surgirá à
frente.
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