Presença de anunciantes poderia ser ainda maior, não fossem os contratos de exclusividade
Como país-sede da Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Rio, o Brasil entrou para a rota dos grandes eventos esportivos e isso só aumenta a responsabilidade da cobertura feita pela mídia. Os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011, que terminaram há pouco mais de uma semana, mostraram a força do esporte no País com o aumento da audiência dos veículos e a repercussão nas redes sociais. Os especialistas dizem que os brasileiros – grandes fãs de esportes – querem acompanhar cada vez mais as competições. Um sinal de mais negócios para todo o mercado publicitário. O Pan do México também foi parar nas redes sociais, onde milhares de pessoas discutiram a cobertura dos jogos.
A Rede Record e o Terra foram os únicos com os direitos exclusivos de transmissão do Pan de Guadalajara no Brasil. A Record informou um crescimento de 7% na faixa nobre da TV aberta e o Terra afirmou que bateu recorde de audiência, com acesso de 51 milhões de pessoas na América Latina. Outros veículos que não tinham os direitos de transmissão e fizeram a cobertura jornalística do Pan também apresentaram bons resultados de audiência, mas os especialistas apontam que se não houvesse concentração dos direitos de transmissão de grandes eventos esportivos o lucro seria melhor para todos. “Do ponto de vista de mídia, de negócio, essa exclusividade é muito ruim. O público brasileiro sentiu falta de uma repercussão maior, cobertura mais ampla do Pan, e isso foi manifestado nas redes sociais. O negócio da publicidade também acaba perdendo, porque menos anunciantes puderam estar presentes”, avalia Ana Lucia Fugulin, professora no curso Bootcamp de mídia da Miami Ad School/ESPM.
Para a professora, a mídia brasileira vai dar um ‘show’ na cobertura da Copa do Mundo 2014 no Brasil e das Olimpíadas 2016 no Rio. No entanto, ela observa a questão dos direitos. “O público reclama da concentração, como no Pan. Não tem como tapar o sol com a peneira”. A Globo é a detentora dos direitos da Copa no Brasil. A Fifa já afirmou que a emissora carioca não terá privilégios e terá os mesmos direitos e as imagens das emissoras que detêm os direitos por todo o mundo. Procurada, a Globo não comentou o assunto.
Ana Lucia destaca que esse é um negócio de que ninguém quer ficar de fora. “O esporte é um dos itens em que o público brasileiro tem maior interesse e afinidade. Aqui no Brasil não é só o público masculino que se interessa por esporte. Em períodos normais, a audiência da programação esportiva é composta por 70% de homens e 30% de mulheres. Nesses grandes eventos o interesse é praticamente o mesmo, com 45% da audiência feminina e 55% masculina”. A professora também lembra que 51% dos fãs de esporte preferem assistir programação esportiva ao noticiário.
Negócios
O crescimento do negócio esporte vem de todos os lados, em função da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. A previsão é que até lá, os negócios ligados a esportes cheguem a R$ 80 bilhões – o dobro de hoje. Um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) aponta que o esporte movimenta no País cerca de R$ 40 bilhões, ou seja, de 1% a 3 % do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Os dados são de 2008, atualizados para 2010. No mundo, o esporte movimenta de US$ 500 bilhões a US$ 1 trilhão. Para a mídia, não é diferente.
O propmark ouviu veículos de comunicação para saber como eles estão se preparando para esses grandes eventos, incluindo a cobertura da Olimpíada de Londres 2012. Já há vários projetos comerciais e de jornalismo em andamento. O SporTV, por exemplo, vai transmitir a Copa das Confederações 2013 no Brasil, a Copa do Mundo e as Olimpíadas (de Londres e do Rio). O canal afirma que o diferencial para os assinantes, mais do que a exclusividade, está na qualidade, e que está atento aos investimentos necessários em tecnologia e jornalismo. Para a Olimpíada de Londres, o SporTV comercializa seis cotas. “Já foram fechadas cinco, para o Bradesco, BRF – Brasil Foods, Citroën, McDonald’s e Oi. No momento, estamos definindo a última cota”, afirma Fred Müller, diretor executivo comercial da Globosat.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, ressalta que a grande aposta está mesmo nas Olimpíadas e na Copa do Mundo. “Será um projeto amplo e fortemente multimídia. O Estado de S.Paulo e o Jornal da Tarde têm um plano de cobertura extenso e com diversos cadernos especiais, que iniciam ainda este ano e prosseguem ao longo dos próximos anos. Nos meios digitais, o site estadão.com.br já inclui o canal ESPN. Especiais e aplicativos para tablets e smartphones também estão planejados”, conta Gandour. A preocupação do Grupo Estado é ir além da entrega do conteúdo jornalístico e cobertura. “O projeto viabiliza uma maior participação da nossa audiência, seja através da internet, rádio, jornal e eventos em espaços públicos envolvendo esportes”, comenta Fabio Costa, diretor de estratégia corporativa e mercado anunciante. O executivo informa que as cotas máximas do pacote Olimpíadas e futebol estão entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões.
Mesmo sem os direitos de transmissão do Pan, o UOL informou que o Pan de Guadalajara deu boa audiência, mas que o interesse foi menor do que o interesse registrado no Pan do Rio. “O interesse do público ficou mais concentrado no desempenho dos brasileiros com chance de medalha e nos lances mais emocionantes”, disse Rodrigo Flores, diretor de conteúdo. O executivo informou que já há cotas vendidas para a cobertura das Olimpíadas e Copa. “Tanto o site de Londres-12 como os sites da Copa e do Rio-16 já estão no ar e crescem a cada dia”.
O Terra arrecadou R$ 200 milhões em patrocínios para a cobertura do Pan de Guadalajara e Olimpíada de Londres, dos quais o portal também tem os direitos exclusivos. Os anunciantes no Brasil são Bradesco, Ford, P&G, Sadia e Vivo, com cotas de apoio de Alpargatas, Centauro e McDonald’s. A Record informou valor bruto de R$ 115 milhões para o Pan. Os patrocinadores foram Bradesco, Coca-Cola, Cervejaria Petrópolis, McDonald’s, P&G e Petrobras, além do top de 5’’ com Visa e a cota de apoio com os Correios e Sadia.
Polêmicas
Durante o Pan de Guadalajara, a Globo usou imagens dos jogos fornecidas pela APTN (Associated Press Television News). A Record divulgou nota – que foi lida pela apresentadora Ana Paula Padrão no ar – dizendo que “não compreende por que uma emissora de televisão brasileira tenha utilizado imagens do evento sem procurá-la”. Em nota, a Globo respondeu que usou alguns segundos de imagens da APTN, de quem é cliente. A APTN fez um pedido de desculpas, esclarecendo que “tudo se deveu a um erro do detentor dos direitos”. O material estava embargado para o Brasil e a Argentina. Depois do episódio, a Globo passou a dar notícias dos jogos sem uso de imagem.
As polêmicas envolvendo a cobertura jornalística do Pan não terminaram por aí. Nas redes sociais, milhares de pessoas reclamaram que a Record deixou de transmitir várias competições ao vivo. O vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro, disse que, em geral, nas redes sociais, “as pessoas não sabem que o responsável pela captação dos eventos não é a Record, mas o Copag (Comitê Organizador do Jogos Pan-Americanos de Guadalajara) e que nem todas as competições de brasileiros são transmitidas ao vivo. Muitas são disponibilizadas apenas no final da noite ou apenas flashes”.
Segundo o executivo, foram 100 horas de eventos ao vivo na Record e mais de 160 na Record News. “Fomos corretos ao informar sempre o telespectador que certo evento era reexibido ou não estava ao vivo. Não erramos nisso”, conclui Tavolaro. Para Ana Lucia, professora da ESPM, o espectador brasileiro é que acabou prejudicado. “O público teve voz, reclamou do excesso de reprises das competições, e fez uma verdadeira campanha na web”.
por Kelly Dores
A Rede Record e o Terra foram os únicos com os direitos exclusivos de transmissão do Pan de Guadalajara no Brasil. A Record informou um crescimento de 7% na faixa nobre da TV aberta e o Terra afirmou que bateu recorde de audiência, com acesso de 51 milhões de pessoas na América Latina. Outros veículos que não tinham os direitos de transmissão e fizeram a cobertura jornalística do Pan também apresentaram bons resultados de audiência, mas os especialistas apontam que se não houvesse concentração dos direitos de transmissão de grandes eventos esportivos o lucro seria melhor para todos. “Do ponto de vista de mídia, de negócio, essa exclusividade é muito ruim. O público brasileiro sentiu falta de uma repercussão maior, cobertura mais ampla do Pan, e isso foi manifestado nas redes sociais. O negócio da publicidade também acaba perdendo, porque menos anunciantes puderam estar presentes”, avalia Ana Lucia Fugulin, professora no curso Bootcamp de mídia da Miami Ad School/ESPM.
Para a professora, a mídia brasileira vai dar um ‘show’ na cobertura da Copa do Mundo 2014 no Brasil e das Olimpíadas 2016 no Rio. No entanto, ela observa a questão dos direitos. “O público reclama da concentração, como no Pan. Não tem como tapar o sol com a peneira”. A Globo é a detentora dos direitos da Copa no Brasil. A Fifa já afirmou que a emissora carioca não terá privilégios e terá os mesmos direitos e as imagens das emissoras que detêm os direitos por todo o mundo. Procurada, a Globo não comentou o assunto.
Ana Lucia destaca que esse é um negócio de que ninguém quer ficar de fora. “O esporte é um dos itens em que o público brasileiro tem maior interesse e afinidade. Aqui no Brasil não é só o público masculino que se interessa por esporte. Em períodos normais, a audiência da programação esportiva é composta por 70% de homens e 30% de mulheres. Nesses grandes eventos o interesse é praticamente o mesmo, com 45% da audiência feminina e 55% masculina”. A professora também lembra que 51% dos fãs de esporte preferem assistir programação esportiva ao noticiário.
Negócios
O crescimento do negócio esporte vem de todos os lados, em função da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. A previsão é que até lá, os negócios ligados a esportes cheguem a R$ 80 bilhões – o dobro de hoje. Um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) aponta que o esporte movimenta no País cerca de R$ 40 bilhões, ou seja, de 1% a 3 % do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Os dados são de 2008, atualizados para 2010. No mundo, o esporte movimenta de US$ 500 bilhões a US$ 1 trilhão. Para a mídia, não é diferente.
O propmark ouviu veículos de comunicação para saber como eles estão se preparando para esses grandes eventos, incluindo a cobertura da Olimpíada de Londres 2012. Já há vários projetos comerciais e de jornalismo em andamento. O SporTV, por exemplo, vai transmitir a Copa das Confederações 2013 no Brasil, a Copa do Mundo e as Olimpíadas (de Londres e do Rio). O canal afirma que o diferencial para os assinantes, mais do que a exclusividade, está na qualidade, e que está atento aos investimentos necessários em tecnologia e jornalismo. Para a Olimpíada de Londres, o SporTV comercializa seis cotas. “Já foram fechadas cinco, para o Bradesco, BRF – Brasil Foods, Citroën, McDonald’s e Oi. No momento, estamos definindo a última cota”, afirma Fred Müller, diretor executivo comercial da Globosat.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, ressalta que a grande aposta está mesmo nas Olimpíadas e na Copa do Mundo. “Será um projeto amplo e fortemente multimídia. O Estado de S.Paulo e o Jornal da Tarde têm um plano de cobertura extenso e com diversos cadernos especiais, que iniciam ainda este ano e prosseguem ao longo dos próximos anos. Nos meios digitais, o site estadão.com.br já inclui o canal ESPN. Especiais e aplicativos para tablets e smartphones também estão planejados”, conta Gandour. A preocupação do Grupo Estado é ir além da entrega do conteúdo jornalístico e cobertura. “O projeto viabiliza uma maior participação da nossa audiência, seja através da internet, rádio, jornal e eventos em espaços públicos envolvendo esportes”, comenta Fabio Costa, diretor de estratégia corporativa e mercado anunciante. O executivo informa que as cotas máximas do pacote Olimpíadas e futebol estão entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões.
Mesmo sem os direitos de transmissão do Pan, o UOL informou que o Pan de Guadalajara deu boa audiência, mas que o interesse foi menor do que o interesse registrado no Pan do Rio. “O interesse do público ficou mais concentrado no desempenho dos brasileiros com chance de medalha e nos lances mais emocionantes”, disse Rodrigo Flores, diretor de conteúdo. O executivo informou que já há cotas vendidas para a cobertura das Olimpíadas e Copa. “Tanto o site de Londres-12 como os sites da Copa e do Rio-16 já estão no ar e crescem a cada dia”.
O Terra arrecadou R$ 200 milhões em patrocínios para a cobertura do Pan de Guadalajara e Olimpíada de Londres, dos quais o portal também tem os direitos exclusivos. Os anunciantes no Brasil são Bradesco, Ford, P&G, Sadia e Vivo, com cotas de apoio de Alpargatas, Centauro e McDonald’s. A Record informou valor bruto de R$ 115 milhões para o Pan. Os patrocinadores foram Bradesco, Coca-Cola, Cervejaria Petrópolis, McDonald’s, P&G e Petrobras, além do top de 5’’ com Visa e a cota de apoio com os Correios e Sadia.
Polêmicas
Durante o Pan de Guadalajara, a Globo usou imagens dos jogos fornecidas pela APTN (Associated Press Television News). A Record divulgou nota – que foi lida pela apresentadora Ana Paula Padrão no ar – dizendo que “não compreende por que uma emissora de televisão brasileira tenha utilizado imagens do evento sem procurá-la”. Em nota, a Globo respondeu que usou alguns segundos de imagens da APTN, de quem é cliente. A APTN fez um pedido de desculpas, esclarecendo que “tudo se deveu a um erro do detentor dos direitos”. O material estava embargado para o Brasil e a Argentina. Depois do episódio, a Globo passou a dar notícias dos jogos sem uso de imagem.
As polêmicas envolvendo a cobertura jornalística do Pan não terminaram por aí. Nas redes sociais, milhares de pessoas reclamaram que a Record deixou de transmitir várias competições ao vivo. O vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro, disse que, em geral, nas redes sociais, “as pessoas não sabem que o responsável pela captação dos eventos não é a Record, mas o Copag (Comitê Organizador do Jogos Pan-Americanos de Guadalajara) e que nem todas as competições de brasileiros são transmitidas ao vivo. Muitas são disponibilizadas apenas no final da noite ou apenas flashes”.
Segundo o executivo, foram 100 horas de eventos ao vivo na Record e mais de 160 na Record News. “Fomos corretos ao informar sempre o telespectador que certo evento era reexibido ou não estava ao vivo. Não erramos nisso”, conclui Tavolaro. Para Ana Lucia, professora da ESPM, o espectador brasileiro é que acabou prejudicado. “O público teve voz, reclamou do excesso de reprises das competições, e fez uma verdadeira campanha na web”.
por Kelly Dores
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