quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Na mira dos consumidores de longo prazo


Consórcios oferecem custos menores do que o financiamento, mas exigem boa dose de paciência, estratégia ou sorte dos participantes


SÃO PAULO - O técnico de prótese dentária Tiago Alves, de 31 anos, procurou, em 2011, um consórcio para adquirir um novo apartamento quando suas condições financeiras melhoraram. Já o médico Mauro Grynszpan, de 53, pretendia investir os recursos que acumulara durante a vida profissional ao aderir a um grupo de consorciados, há cerca de dez anos. Hoje, um tem casa nova, e outro ganha dinheiro como investidor no mercado imobiliário. Histórias felizes e de sorte grande.
Apenas nove meses depois de entrar no negócio, o protético foi contemplado por sorteio em um das duas cotas que adquiriu. "Vendi meu apartamento no dia seguinte que fui contemplado, peguei parte do dinheiro e dei um lance para a outra cota", conta. De posse de duas cartas de crédito e de recursos da venda do seu antigo bem, pôde comprar o apartamento onde vive, em São Bernardo do Campo.
O médico foi mais arrojado. Com suas reservas financeiras, ele garantiu por lance o crédito de uma série de cartas que, juntas, foram suficientes para pagar um imóvel comercial de alto padrão, dando início ao seu acúmulo de patrimônio. Ele quitou, com os rendimentos da locação do bem, as cotas que adquiriu. "É preciso ter um capital inicial, conhecer o mercado e ter sorte."
Os consórcios podem ser usados com variadas finalidades, da compra de um terreno à reforma e à construção de edificações. O acesso ao crédito, porém, nem sempre é tão rápido quanto foi para esses dois consumidores - depende da duração do grupo formado, da sorte e da estratégia dos participantes.
"Esse é um caminho intermediário entre o financiamento e a poupança prévia. O financiamento ainda é muito caro. E é complicado fazer um plano de poupança se a pessoa não tem muitos recursos, porque os juros da renda fixa caíram", diz o educador financeiro Mauro Calil. O custo dos consórcios envolve basicamente a taxa de administração do agente financeiro, um fundo de reserva e, de forma opcional, um seguro de vida.
No mercado, há cartas de crédito de até R$ 700 mil em grupos de 200 meses e taxas totais de administração - para todo o período - de até 24,5% entre as maiores administradoras. Algumas empresas cobram nesse porcentual taxas de adesão nos primeiros meses de participação. O fundo de reserva, por sua vez, não passa de 5% do valor da cota, e parte dos recursos é devolvida após o encerramento do grupo.
De acordo com Calil, a contemplação costuma ser vantajosa quando ocorre no início do tempo de vida do consórcio, na medida em que o cliente pode adquirir o bem enquanto os outros participantes são apenas poupadores. Os lances, se selecionados, são formas de antecipar o acesso aos recursos.
"Todo mês é feita uma assembleia e, nela, sorteamos quem terá o direito de obter o crédito. Há também os contemplados por lance fixo e lance livre", diz o diretor de consórcios da Caixa Seguros, Maurício Maciel.
Assim como ocorre nos financiamentos imobiliários, os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) podem ser usados nos consórcios - neste último caso, inclusive para compor os lances nas assembleias. "É uma vantagem que o consumidor deve olhar com mais atenção", diz o presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), Paulo Roberto Rossi.
"Se a pessoa quer fazer uma compra programada, o consórcio é muito atrativo. Mas, se precisa do imóvel de imediato, vai para o financiamento imobiliário", acrescenta o diretor da Bradesco Consórcio, Hélio Dias. 

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