Consórcios oferecem custos menores do que o financiamento, mas exigem boa dose de paciência, estratégia ou sorte dos participantes
SÃO PAULO - O técnico de prótese dentária Tiago Alves, de 31 anos,
procurou, em 2011, um consórcio para adquirir um novo apartamento quando
suas condições financeiras melhoraram. Já o médico Mauro Grynszpan, de
53, pretendia investir os recursos que acumulara durante a vida
profissional ao aderir a um grupo de consorciados, há cerca de dez anos.
Hoje, um tem casa nova, e outro ganha dinheiro como investidor no
mercado imobiliário. Histórias felizes e de sorte grande.
Apenas nove meses depois de entrar no negócio, o protético foi
contemplado por sorteio em um das duas cotas que adquiriu. "Vendi meu
apartamento no dia seguinte que fui contemplado, peguei parte do
dinheiro e dei um lance para a outra cota", conta. De posse de duas
cartas de crédito e de recursos da venda do seu antigo bem, pôde comprar
o apartamento onde vive, em São Bernardo do Campo.
O médico foi mais arrojado. Com suas reservas financeiras, ele
garantiu por lance o crédito de uma série de cartas que, juntas, foram
suficientes para pagar um imóvel comercial de alto padrão, dando início
ao seu acúmulo de patrimônio. Ele quitou, com os rendimentos da locação
do bem, as cotas que adquiriu. "É preciso ter um capital inicial,
conhecer o mercado e ter sorte."
Os consórcios podem ser usados com variadas finalidades, da compra de
um terreno à reforma e à construção de edificações. O acesso ao
crédito, porém, nem sempre é tão rápido quanto foi para esses dois
consumidores - depende da duração do grupo formado, da sorte e da
estratégia dos participantes.
"Esse é um caminho intermediário entre o financiamento e a poupança
prévia. O financiamento ainda é muito caro. E é complicado fazer um
plano de poupança se a pessoa não tem muitos recursos, porque os juros
da renda fixa caíram", diz o educador financeiro Mauro Calil. O custo
dos consórcios envolve basicamente a taxa de administração do agente
financeiro, um fundo de reserva e, de forma opcional, um seguro de vida.
No mercado, há cartas de crédito de até R$ 700 mil em grupos de 200
meses e taxas totais de administração - para todo o período - de até
24,5% entre as maiores administradoras. Algumas empresas cobram nesse
porcentual taxas de adesão nos primeiros meses de participação. O fundo
de reserva, por sua vez, não passa de 5% do valor da cota, e parte dos
recursos é devolvida após o encerramento do grupo.
De acordo com Calil, a contemplação costuma ser vantajosa quando
ocorre no início do tempo de vida do consórcio, na medida em que o
cliente pode adquirir o bem enquanto os outros participantes são apenas
poupadores. Os lances, se selecionados, são formas de antecipar o acesso
aos recursos.
"Todo mês é feita uma assembleia e, nela, sorteamos quem terá o
direito de obter o crédito. Há também os contemplados por lance fixo e
lance livre", diz o diretor de consórcios da Caixa Seguros, Maurício
Maciel.
Assim como ocorre nos financiamentos imobiliários, os recursos do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) podem ser usados nos
consórcios - neste último caso, inclusive para compor os lances nas
assembleias. "É uma vantagem que o consumidor deve olhar com mais
atenção", diz o presidente da Associação Brasileira de Administradoras
de Consórcios (Abac), Paulo Roberto Rossi.
"Se a pessoa quer fazer uma compra programada, o consórcio é muito
atrativo. Mas, se precisa do imóvel de imediato, vai para o
financiamento imobiliário", acrescenta o diretor da Bradesco Consórcio,
Hélio Dias.
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