Fôlego não faltou ao Toyota compacto. UOL Carros rodou
por cerca de 100 quilômetros com o Etios 1.3 XS, versão mais completa
com o motor de entrada do hatch -- infelizmente não havia uma versão
pé-de-boi para avaliação. Deu para perceber desenvoltura e vontade. Mas
falta qualidade para que o carro fosse merecedor de nosso aval. O grande
problema está em suas limitações e no nível abaixo do apresentado por
muitos adversários.
JEITO DE QUÊ?
A começar pelo design, o Etios não parece um carro de 2012. O desenho é
antiquado, lembra o de compactos criados durante a década de 1990. Não é
brincadeira: olhe para o Yaris de 1999, um de seus parentes distantes,
na comparação ao lado. Fica claro que o Yaris, não o Etios, tem linhas
mais bem resolvidas. Deveria ser o contrário.
O VELHO E O NOVO
- Acima, a traseira do Yaris de 1999. Abaixo, em foto invertida para melhor comparação, o Etios. Quem tem o bumbum mais atual e harmônico?
Tudo bem, sabemos que o carro faz parte de um projeto global para
países emergentes e que tanto carroceria como painel foram feitos para
agradar mais ao público da Índia, onde o Etios chegou antes, do que a
nós brasileiros. Para nosso mercado, houve adaptação de materiais, com
ligeira melhoria de estética. Mas parece que deixaram para cuidar do
design (exterior e interior) em véspera de feriado prolongado.
Lateralmente, o Etios chega até a lembrar o Nissan March. De frente, um
Renault Logan -- dois carros que são referência em equipamento e
aproveitamento de espaço, mas não em visual... Por sorte, a turma que
toma conta do acabamento teve um pouco mais de preocupação.
POR DENTRO
Mas não muita. O material interno não é ruim. A ergonomia e o
acabamento são. O interior do Etios é agradável e a sensação é de estar
mesmo dentro de um carro japonês, ao menos por conta do bom isolamento
acústico, no ponto. Os bancos dianteiros têm bons apoios laterais, são
confortáveis, e o espaço para as pernas e para a cabeça (para quatro
pessoas) é mais do que justo. Para o quinto, a situação aperta.
Mesmo com apliques de plástico de boa qualidade, faltou capricho na
montagem final. O tampão que cobre o painel de instrumentos saiu durante
o teste, enquanto o revestimento de plástico que decora a região da
coluna C descolou. Qualquer criança que faça um pouco mais de força é
capaz de arrancar um pedaço ou outro do carro. Torcemos para que isso
seja apenas falhas de modelos "pré-série". Mas elas já haviam sido
registradas anteriormente por UOL Carros (lembra?) e ainda assim não foram resolvidas.
MOTOR
A Toyota afirma em discurso que o motor 1.3 16V de 90 cv e 12,8 kgfm de
torque, com etanol no tanque, é "o mais forte da categoria". Mas há de
se lembrar que a marca elenca como concorrentes modelos que usam motores
1.0, obviamente mais fracos.
COMPARECAR: RIVAIS DO ETIOS
É possível fazer um raciocínio diferente e colocar, por exemplo, o
motor 1.5 da família, com 96,5 cv, para brigar com o 1.4 Econoflex de 8V
da GM, que rende até 102 cv com etanol. Isso prova que, mesmo mais
novos e com 16V, os motores do Etios estão "defasados" -- enquanto as
outras marcas apostam em downsizing, motores três-cilindros (como no Hyundai HB20
e Kia Picanto) e/ou a utilização de turbo, a Toyota preferiu continuar
no arroz-com-feijão dos motores naturalmente aspirados e de mecânica
simples.
Isso se reflete no consumo de combustível. Os dados registrados por UOL Carros
batem com os divulgados pela Toyota: cerca de 8,5 km/litro na cidade e 9
km/l na estrada, com etanol no tanque. Não são números ruins, mas
podiam ser melhores. Os números anunciados pela Toyota para o motor
abastecido a gasolina são 12,5 km/l na cidade e 13 km/l na estrada.
Embora tenha motor mais fraco e seja a versão "verde", vale lembrar que
obtivemos os números melhores com o VW Gol Bluemotion (76 cv/10,6 kgfm com etanol): 13 km/l na cidade e 18,5 km/l na estrada.
Em movimento, o motor 1.3 não tem respostas super ágeis, mas conta com
boa arrancada e força nas retomadas do hatch. O baixo peso do carro, 945
kg na versão avaliada, e o câmbio com engates certeiros, apesar de
longos em algumas marchas, colaboram. Um leve ajuste nas relações da
transmissão deixaria o carrinho mais gostoso de dirigir.
ESTABILIDADE
A suspensão do Etios -- tradicional, do tipo McPherson na dianteira e
por eixo de torção na traseira -- é bem ajustada. A carroceria tomba um
pouco em trechos mais sinuosos, mas nada anormal: o compacto tem
estabilidade e passa solidez. É um carrinho parrudo, se é isso que o
dono de Corolla quer saber. A versão sedã, por causa do porta-malas
avantajado, tende a balançar muito mais.
A direção é elétrica e muito leve em manobras, característica que faz
sucesso entre as mulheres e nem tanto com os homens. Mas fica mais
pesada com o aumento progressivo da velocidade.
Veja imagens do Etios na versão 1.5 XLS
CONCLUSÃO
Como dito, o Etios é espaçoso, agradável ao rodar e silencioso, típicas
características de carros maiores e mais caros. A fama e o sucesso que a
marca conquistou no país vão fazer os donos e/ou fãs de Corolla irem
atrás do carrinho, como segunda ou terceira opções.
E ele vai vender bem (pode apostar que a meta de 70 mil unidades/ano
que a marca quer atingir será alcançada). É um carrinho oportunista, que
vai cavar vaga em muita garagem por aí. Mas não é protagonista. Afinal,
há muito o que melhorar para ele realmente atender ao slogan “carro
feito por brasileiros e pensado para brasileiros".
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