Tema debatido no HotPopCorn 2012, a concorrência estabelecida pelas empresas para contratar agências de Marketing promocional é vista como deletéria para o mercado
Práticas predatórias comoditizam as marcas
Se competições por custos são ruins para os publicitários, também geram
efeitos negativos para as marcas. Os anunciantes reclamam de agências
pouco comprometidas, que apresentam soluções de comunicação
comoditizadas. Este seria um efeito colateral da realização
indiscriminada de processos seletivos pouco transparentes e com base
unicamente no preço. “Enfrentamos um círculo vicioso de falta de ousadia
de ambas as partes. Nas empresas há uma juniorização do Marketing,
delegando decisões estratégicas ao departamento de compras. Entendo que
ninguém é vítima e ninguém é carrasco nesta história, mas se continuar
assim, estaremos levando o mercado para um processo automático e
repetitivo, comoditizado, dominado pela mesmice”, afirma o
Vice-Presidente de Marketing da Nextel, Gustavo Diament.
A empresa de telefonia celular e rádio vem adotando práticas
diferenciadas e em alguns casos, abriu mão do processo de concorrência
para escolher seus parceiros. As escolhas renderam bons resultados para a
marca. “Acredito que o cliente tem grande responsabilidade. Se ele
exige mais, se é mais inconformado, terá um produto final de comunicação
melhor do que tem hoje, seja com sua agência atual, seja com uma nova.
Ele não precisará jogar para uma concorrência a responsabilidade de dar
novo fôlego. O ideal seria desenvolver a relação com a agência atual e
fazer com que ela entregue mais, pois essa zona de conforto não tem nada
de confortável”, explica Gustavo Diament.
A prática da concorrência também seria uma maneira de impedir que as
agências se acomodassem na relação com os anunciantes. No decorrer do
relacionamento entre marca e publicitários, pode ocorrer uma acomodação
de ambos os lados. “A concorrência, se bem feita, força o cliente a se
organizar internamente e nos possibilita ver outros trabalhos, outras
alternativas. Além disso, considerando que a agência é uma extensão
nossa, depois de algum tempo de trabalho começam a surgir áreas onde não
há responsabilidade definida. As agências reclamam que o cliente não é
claro e os clientes reclamam que as agências não os atendem”, defende
Gustavo Colossi, Diretor de Marketing Brasil e América do Sul da
Chevrolet.
Disputa por custos acaba com o comprometimento
Para publicitários e executivos do Marketing promocional que
participaram do debate, a concorrência é natural do mercado, mas precisa
ser realizada com critério. Como as regras de seleção nem sempre são
claras, as agências quase sempre não recebem qualquer feedback sobre a
razão de terem sido eliminadas do processo. Também existe uma queixa de
que a briga na maior parte dos casos, seria unicamente por custos.
“Muitas agências pequenas são utilizadas para baixar preço de uma
concorrência e no final, o cliente não está recebendo o melhor. E
olhando pelo lado da agência, esta acaba não arriscando suas melhores
ideias em uma concorrência. Não sou contra esta prática. Ela é natural.
Mas sou contra a concorrência job a job, pois quando se entra em uma
disputa apenas pelo dinheiro e com base em preço, não há
comprometimento”, argumenta Mentor Muniz Neto, Vice-Presidente Executivo
de Criação da Bullet.
Outra questão apontada como problemática é que participar de uma
concorrência tem um custo, muitas vezes alto, para as agências. Esta é
uma das razões que tem levado a Ampro a criar ações para educar o
mercado e desestimular algumas práticas. “Cabe às agências se
posicionarem e perceberem quais concorrências não são vantajosas para
elas. Esta é uma bandeira que eu defendo. Temos que ser criteriosos para
enxergar em quais disputas vale participar, apostar e investir. Tem que
partir das agências esta mudança. O negócio tem que ser bom para os
dois lados. Tem que ser saudável. Será que uma concorrência com outras
20 agências é saudável?”, questiona José Boralli, Presidente da
B!Ferraz.
Discussão longe do fim
Embora o debate não tenha sido conclusivo, alguns pontos são pacíficos
entre marcas e publicitários. Um deles é sobre o estabelecimento de boas
práticas de concorrência, que privilegiem relações de longo prazo entre
eles, pois entende-se que somente assim podem ser criadas estratégias e
ações de Marketing e comunicação de excelência. A Ampro defende a
regulamentação e o estabelecimento de um manual de boas práticas.
“Acredito que quanto mais as grandes marcas sinalizarem para a
realização de concorrências justas, o mercado vai caminhar nesta
direção”, afirma o presidente da entidade, Kito Mansano.
Apesar
disso, muitos acreditam que a concorrência predatória dificilmente será
coibida se não existir união entre as agências. “O mercado promocional
nunca soube se defender disso. Recebemos aqui hoje empresas que possuem
práticas de concorrência muito boas, muito diferente do padrão do
mercado. Então não houve exatamente um conflito e sim uma troca de
ideias que ajuda a sinalizar novos caminhos. Esta é uma discussão muito
antiga. Em algum ponto teremos que mudar”, conclui o VP da Bullet,
Mentor Muniz Neto.
O HotPopCorn é um evento realizado pela Hands com o objetivo de
discutir temas quentes e polêmicos do mercado. A edição deste ano foi
encerrada já com o anúncio da próxima. Em 2013, o HotPopCorn debaterá a
juniorização dos departamentos de Marketing, com a entrada de
profissionais cada vez mais jovens ocupando cargos de liderança e
posições estratégicas. Outra novidade é que o evento acontecerá em dois
dias. “O HotPopCorn cumpre o seu papel de fomentar o debate de assuntos
fundamentais para o mercado. Estou absolutamente feliz com o resultado
desta edição e acredito que aqui damos uma importante contribuição para
os profissionais e empresas do setor“, afirma o Presidente da Hands,
Marcelo Lenhard.
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