quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Carro é caro no Brasil por conta do real, impostos e juros




  Voltar a comentar sobre os preços dos carros no Brasil parece redundância, mas de tempos em tempos surgem comentários fora da realidade. Virou até manchete de jornal. Mais do que óbvio, o que se paga aqui é muito alto. O problema começa ao apontar os vilões por essa diferença, quando se comparam outros países. E aqui, convém ressaltar, a importância da relação cambial entre moedas, em geral, é pouco citada por “analistas”.

No País, o dólar já valeu até menos de um real. Mas, também, beirou os R$ 4. A maior cotação aconteceu em outubro de 2002 e os carros brasileiros ficaram entre os mais baratos do mundo. Um jornal citou o fato, num canto de página. Obviamente, os mesmos modelos se alinharam entre os mais caros, mesmos reajustados abaixo da inflação, com o dólar perto de R$ 1,50, em abril de 2011.

Agora, a R$ 2,05, veículos lá fora encareceram 33%, em reais, e ninguém noticiou. Continuou grande a diferença, mas se o dólar subisse, por hipótese, para R$ 3,00 e se retirados todos os impostos, aqui e lá fora, para a comparação correta, nada se falaria. Ainda assim, desvalorização cambial é só consolo e não solução.

CONTA CERTA
Há erros primários em algumas comparações de preços. No Brasil, o frete é único, embutido e extremamente elevado. Além disso, desconsideram os equipamentos, como no caso do Fit (Jazz na França). O equivalente ao vendido aqui custa perto de R$ 49 mil. Retirados frete e diferença de impostos, os valores ficam quase iguais.

Ideais seriam preços divulgados sem impostos e acrescidos na hora da compra, a exemplo de outros países. Nos EUA, um veículo custa 100 e tem preço de 94, sem impostos. Carga fiscal: 100 dividido por 94, igual a 6,3%. Aqui, custa 100 e preço médio na fábrica, 67. Carga fiscal: 100 dividido por 67, igual a 49%. Automóvel produzido no Brasil sobe quase 50% da fábrica para a loja, fora o frete. Essa conta vale para tudo que se vende aqui, de roupa a alimentos.

MARGEM DE LUCRO
Sobre os custos de produção nem adianta argumentar. Poucos levam em conta seu peso crucial na formação de preços. Se perguntar a uma pessoa comum quanto é o lucro da fábrica no valor de venda de um carro, muitos responderão 30%. Porém, a margem média mundial, hoje, está em 5%, deprimida pela crise econômica. Fabricantes como Toyota ou o trio-de-ferro alemão (Audi, BMW e Mercedes) ganham 12%, ou mais, em tempos normais. Rentabilidade sustentável sobre as vendas é de 8% e as fábricas generalistas convergirão para essa meta, como anunciou a Nissan.

Só a Fiat publica balanços de seus resultados aqui. O lucro sobre as vendas foi de 11%, em 2011. Muito ou pouco? Muito, se comparado à média (atual) no exterior. Ajudou o fato de o mercado ter dobrado de tamanho em seis anos, embora sujeito a graves depressões, como de 1998 a 2003. E dinheiro atrai dinheiro, ou seja, novos concorrentes.
  • A Fiat é a única que revela balanços de resultados no país; lucro de vendas em 2011 foi de 11%
Os três maiores fabricantes dominam, de fato, cerca de 60% do mercado. Nos EUA, há poucos anos, a proporção era até superior. No Japão e outros países é comum os três principais terem mais de 50% do mercado.
Se o lucro, agora, fosse de 3%, ainda teríamos automóveis muito caros. Para acabar com comparações bizarras e uso de matemática frívola, custos e impostos têm que ser atacados -- e resolvidos -- de verdade.

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