Voltar a comentar sobre os preços dos carros no Brasil
parece redundância, mas de tempos em tempos surgem comentários fora da
realidade. Virou até manchete de jornal. Mais do que óbvio, o que se paga aqui é muito alto.
O problema começa ao apontar os vilões por essa diferença, quando se
comparam outros países. E aqui, convém ressaltar, a importância da
relação cambial entre moedas, em geral, é pouco citada por “analistas”.
No País, o dólar já valeu até menos de um real. Mas, também, beirou os
R$ 4. A maior cotação aconteceu em outubro de 2002 e os carros
brasileiros ficaram entre os mais baratos do mundo. Um jornal citou o
fato, num canto de página. Obviamente, os mesmos modelos se alinharam
entre os mais caros, mesmos reajustados abaixo da inflação, com o dólar
perto de R$ 1,50, em abril de 2011.
Agora, a R$ 2,05, veículos lá fora encareceram 33%, em reais, e ninguém
noticiou. Continuou grande a diferença, mas se o dólar subisse, por
hipótese, para R$ 3,00 e se retirados todos os impostos, aqui e lá fora,
para a comparação correta, nada se falaria. Ainda assim, desvalorização
cambial é só consolo e não solução.
CONTA CERTA
Há erros primários em algumas comparações de preços. No Brasil, o frete
é único, embutido e extremamente elevado. Além disso, desconsideram os
equipamentos, como no caso do Fit (Jazz na França). O equivalente ao
vendido aqui custa perto de R$ 49 mil. Retirados frete e diferença de
impostos, os valores ficam quase iguais.
Ideais seriam preços divulgados sem impostos e acrescidos na hora da
compra, a exemplo de outros países. Nos EUA, um veículo custa 100 e tem
preço de 94, sem impostos. Carga fiscal: 100 dividido por 94, igual a
6,3%. Aqui, custa 100 e preço médio na fábrica, 67. Carga fiscal: 100
dividido por 67, igual a 49%. Automóvel produzido no Brasil sobe quase
50% da fábrica para a loja, fora o frete. Essa conta vale para tudo que
se vende aqui, de roupa a alimentos.
MARGEM DE LUCRO
Sobre os custos de produção nem adianta argumentar. Poucos levam em
conta seu peso crucial na formação de preços. Se perguntar a uma pessoa
comum quanto é o lucro da fábrica no valor de venda de um carro, muitos
responderão 30%. Porém, a margem média mundial, hoje, está em 5%,
deprimida pela crise econômica. Fabricantes como Toyota ou o
trio-de-ferro alemão (Audi, BMW e Mercedes) ganham 12%, ou mais, em
tempos normais. Rentabilidade sustentável sobre as vendas é de 8% e as
fábricas generalistas convergirão para essa meta, como anunciou a
Nissan.
Só a Fiat publica balanços de seus resultados aqui. O lucro sobre as
vendas foi de 11%, em 2011. Muito ou pouco? Muito, se comparado à média
(atual) no exterior. Ajudou o fato de o mercado ter dobrado de tamanho
em seis anos, embora sujeito a graves depressões, como de 1998 a 2003. E
dinheiro atrai dinheiro, ou seja, novos concorrentes.
- A Fiat é a única que revela balanços de resultados no país; lucro de vendas em 2011 foi de 11%
Os três maiores fabricantes dominam, de fato, cerca de 60% do mercado.
Nos EUA, há poucos anos, a proporção era até superior. No Japão e outros
países é comum os três principais terem mais de 50% do mercado.
Se o lucro, agora, fosse de 3%, ainda teríamos automóveis muito caros.
Para acabar com comparações bizarras e uso de matemática frívola, custos
e impostos têm que ser atacados -- e resolvidos -- de verdade.
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