A indústria hoje tem verdadeira obsessão
por escala de produção. Altos volumes são uma forma segura de garantir
baixo custo e rápido retorno de investimentos. Foi exatamente por isso
que a Chevrolet trocou dois por um com a Spin. Como a oferta de
monovolumes no mercado se restringe a Fiat Idea, Nissan Livina e uns
poucos modelos importados, com alto preço, a opção da fabricante foi
tirar de linha Meriva e Zafira ao mesmo tempo e criar um modelo de cinco
ou sete lugares que suprisse a demanda das duas. E ainda melhor se
resultar em vendas mais gordas. Meriva e Zafira, na média de 2011,
emplacaram 1.850 e 650 unidades mensais, ou 2.500/mês. A expectativa em
relação à Spin é que sozinha chegue a 3 mil unidades a cada mês. Ou 20% a
mais com um só produto.
Para aposentar os dois monovolumes ao mesmo tempo, a Chevrolet optou por oferecer sete lugares como a Zafira, mas atuar no segmento de mercado da Meriva. Ou seja, a marca apostou na fatia mais “palpável” do mercado. Exatamente por isso um dos principais apelos da Spin é o seu preço. A minivan é barata mesmo em sua versão mais equipada, a testada LTZ. A própria Chevrolet admite isso ao destacar em sua campanha publicitária de lançamento o preço completo do modelo, incluindo até a pintura metálica. Geralmente, os anúncios de automóveis trazem valores de versões de entrada, com poucos equipamentos e que, exatamente por isso, raramente são encontradas nas revendas. É o famoso e ilusório “a partir de”.
A configuração de entrada é a LT que vem com essenciais ar-condicionado, direção hidráulica e trio elétrico, além dos obrigatórios ABS e airbags frontais, por R$ 44.590. Com o câmbio automático de seis velocidades, a conta sobe para R$ 49.690. A LTZ ainda adiciona rádio/CD/MP3/AUX, computador de bordo, sensor de estacionamento traseiro e rack no teto. Nesse caso, os preços são de R$ 50.990 para a transmissão manual e R$ 54.690 para a automática. A pintura metálica adiciona R$ 1.150 na conta. Pelas previsões da Chevrolet, cada uma delas vai responder por metade das vendas totais.
Outra diferença fundamental entre as duas versões aparece na arrumação do interior. Todas as LTZ vêm com a terceira fileira de bancos no porta-malas. Significa dizer que não existe Spin para quem quer uma minivan melhor equipada e com apenas cinco lugares. Os dois assentos extras são obrigatórios e fixados no piso – nem são fáceis de serem retirados e deixados na garagem, por exemplo. E o sistema também não é tão engenhoso como o da Zafira, em que eles ficavam “embutidos” no assoalho e não tomavam espaço no porta-malas. No novo modelo, eles dobram e rebatem verticalmente e acabam roubando 160 litros das bagagens.
Em relação à motorização, a Chevrolet adotou uma solução “caseira” para a Spin. A ideia inicial era deixar de produzir o motor Família II, que equipava a Zafira – mas que chegou ao Brasil a bordo do Monza, em 1981 – e equipar os novos modelos com os propulsores Ecotech, que equipam Cruze na versão 1.8 e Sonic na 1.6, mas que só serão produzidos no Brasil no final desse ano. Como importar agora tornaria a Spin cara, a solução foi reengenheirar o antigo 1.8 usado na Meriva. Ele é da mesma família Econo.Flex do 1.4 do Cobalt, com quem a Spin divide a plataforma. Mudanças como novos coletores de admissão e de escape foram suficientes para aplainar a curva de torque. A ideia era deixar mais força disponível na maior faixa de uso do motor, em rotações médias. Algo importante para um carro de 1.255 kg. A potência ficou em 108 cv a 5.400 rpm e o torque em 17,1 kgfm 3.200 rotações.
O visual é outro ponto controverso, principalmente por causa das proporções. A frente é curta e os faróis e grade são grandes. Já a traseira é grande e as lanternas pequenas. A Chevrolet jura que fez diversas clínicas e o design foi aprovado em todas elas. E, pela quantidade de gente que virou o pescoço para olhar a Spin na rua, não dá para duvidar que a nova minivan da Chevrolet, no mínimo, chama a atenção.
Ponto a ponto
Desempenho – Apesar da potência apenas razoável, o motor 1.8 move a Spin com alguma destreza. Contanto que a escolha seja por uma tocada pacata, é claro. O grande trunfo do propulsor é fornecer boa dose de torque em rotações médias, característica essencial para impulsionar um carro de 1.255 kg a seco. A partir de 2.500 rpm, há força e o carro não desaponta nas saídas de sinal, por exemplo. O câmbio automático de seis marchas é moderno e parece bom demais para o motor. Em pisadas fundas o sistema hesita muito em reduzir uma ou duas marchas. Nota 6.
Estabilidade – A Spin é um carro familiar e não há como fugir disso. Isso significa que a calibração do conjunto de suspensão foi feita para beneficiar o conforto. Com acerto mais mole, as consequências vêm nas curvas mais fechadas, onde a carroceria aderna bastante. Seja como for, não há problemas para a manutenção da trajetória. Nas retas, também não há necessidade de correção da direção, mesmo em velocidades elevadas. Nota 7.
Interatividade – A Spin tem boas soluções no interior. Como a facilidade no rebatimento dos bancos, por exemplo. É só puxar uma fita de tecido e dar um leve empurrão que o assento se desloca. Os comandos vitais do carro também estão em lugares intuitivos e são fáceis de usar. A posição de dirigir mais elevada melhora a visibilidade dianteira e o vidro grande atrás permite ver o trânsito com facilidade. Ponto negativo para os botões que controlam as trocas manuais do câmbio na alavanca, a posição do ajuste de altura do banco do motorista e do controle do computador de bordo. Nota 8.
Consumo – A Chevrolet Spin LTZ automática marcou a média de 7,6 km/l de etanol. Bem razoável para um carro desse porte. Nota 7.
Conforto – Para os dois ocupantes da frente, há espaço de sobra. A altura elevada do carro fornece bom vão para cabeças e ombros em qualquer das três fileiras. Entretanto, apesar de ser um carro familiar, a Spin não tem tanto espaço assim na segunda fileira. Ali, os maiores de 1,75 m vão roçar as pernas nos assentos dianteiros. Na última fila, como era de se esperar, apenas crianças conseguem se acomodar bem. A suspensão é macia e absorve bem os impactos do asfalto. Os bancos são corretos e oferecem ótimos apoios laterais. Nota 7.
Tecnologia – A Spin mescla itens modernos com outros um tanto arcaicos. A plataforma é a mesma do Sonic e do Cobalt. Foi lançada em 2011 e, portanto, é recente e bem acertada. Apesar de não ter funcionamento tão acertado na minivan, o câmbio é outro recém-lançado pela Chevrolet no Brasil. O motor é o que destoa. O 1.8 EconoFlex até tem bom torque, mas tem pouca potência. A lista de equipamentos da versão LTZ é recheada, com direito a rádio/CD/MP3 com entradas auxiliares e sensores de estacionamento. Nota 7.
Habitalidade – O grande destaque é a facilidade de modular o interior da minivan sem muito esforço. É fácil ajeitar os bancos de maneira que se leve praticamente qualquer bagagem. Dependendo da arrumação das fileiras de assento, o espaço livre pode chegar a 1.668 litros. O teto alto ajuda no entra-e-sai. Não é preciso se abaixar muito para entrar na cabine da minivan. Nota 9.
Acabamento – Além de vistoso, o interior da Spin é muito bem acabado para um modelo compacto. Não existem superfícies macias no painel, mas todos os materiais usados são de qualidade e agradam tanto aos olhos como ao toque. As peças têm encaixe preciso e a pintura em duas cores dá um ar mais requintado à minivan. Nota 8.
Design – O desenho da Spin não é muito harmônico. Farois e grade dianteira são grandes demais para o capô curto, enquanto as lanternas são muito pequenas para uma traseira tão grande. A lateral também é estranha, com os ressaltos na carroceria e o formato da terceira janela. Nota 6.
Custo/benefício – O principal concorrente da Chevrolet Spin LTZ é a Nissan Grand Livina, que também tem sete lugares, mas é bem mais estreita internamente. Além disso, a versão automática da Spin é mais barata – R$ 54.690 contra R$ 57.690. Além da diferença de R$ 3 mil ao seu favor, a Spin ainda é mais moderna. Os conjuntos mecânicos se equivalem. Esta versão LTZ automátca é a mais completa da linha do modelo da Chevrolet e vem recheada de equipamentos, como ar-condicionado, trio elétrico e rádio/CD/MP3. Falta apenas a opção de bancos de couro. Nota 8.
Total – A Chevrolet Spin LTZ automática somou 73 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Familiaridade flagrante
É impressionante o apelo da Spin junto ao público. A nova minivan da Chevrolet atrai muitos olhares na rua. A impressão que dá é que a simples presença do logo da marca na dianteira é suficiente para criar familiaridade com o modelo. Mas, evidentemente, a expectativa da fabricante com a Spin não se baseia apenas na tradição que a gravatinha dourada traz ao carro.
A primeira boa impressão do interior vem com o acabamento. Tudo é bem acertadinho. Os encaixes são precisos e a escolha das cores dos plásticos tenta passar um ar mais sofisticado à minivan compacta. É um passo à frente em relação à Meriva. Mas não é suficiente para impressionar os antigos clientes da minivan média Zafira, que contava com materiais melhores, mais espço e mais potência.
Outro ponto em que a Spin fica aquém da antecessora é na versatilidade do arranjo dos bancos. Quando não está sendo usada, a terceira fileira fica dobrada e suspensa e acaba roubando 160 litros de área de bagagem. Ao menos, ainda sobram suficientes 550 litros. Além disso, a fila do meio não corre sobre trilhos como a antiga Zafira. E, diferentemente da Meriva, não há espaço de sobra por ali. Os maiores de 1,80 m vão roçar as pernas nos assentos da frente. Algo ruim para famílias com filhos crescidos.
Em movimento, a Spin até surpreende. Os 108 cv do motor 1.8 até poderiam apontar para um fraco desempenho, mas a minivan até é esperta. Desde que o motorista entenda que não tem um esportivo nas mãos, o comportamento é aceitável. As mudanças para deixar a faixa de torque mais plana parecem ter surtido efeito e há boa força em rotações médias. A transmissão até faz trocas com relativa velocidade, mas está mal entrosada com o propulsor. Em pisadas mais fundas o sistema fica indeciso sobre o que fazer.
Como era de se esperar, a suspensão tem acerto mais macio para privilegiar o conforto. O que de fato ocorre. A Spin tem rodar suave na cidade e não perde a estabilidade nas retas mesmo em velocidades mais elevadas. Nas curvas mais fechadas, não há como escapar da adernagem acentuada da carroceria. Demora um pouco até se adaptar a entrar nas curvas com mais civilidade.
Ficha técnica
Chevrolet Spin LTZ
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.796 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não possui controle de tração.
Potência máxima: 108 cv e 106 cv a 5.400 rpm com etanol e gasolina.
Torque máximo: 17,1 kgfm e 16,4 kgfm a 3.200 rpm com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 80,5 mm X 88,2 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores telescópicos pressurizados e barra estabilizadora. Traseira semi-independente por eixo de torção, barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores pressurizados. Não possui controle de estabilidade.
Pneus: 195/65 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e tambores atrás. ABS de série.
Carroceria: Monovolume em monobloco com quatro portas e sete lugares. Com 4,36 metros de comprimento, 1,73 m de largura, 1,66 m de altura e 2,62 m de distância entre-eixos. Airbag duplo frontal de série.
Peso: 1.255 kg.
Capacidade do porta-malas: 550 litros ou 162 litros com a terceira fileira de bancos abaixada.
Tanque de combustível: 52 litros.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo.
Lançamento no Brasil: 2012.
Itens de série: Ar-condicionado, direção hidráulica, ABS, EBD, airbag duplo, vidros e travas elétricas, ajuste de altura do banco do motorista e rodas de 15 polegadas, rádio/CD/MP3/Bluetooth, computador de bordo, sensor de estacionamento, rack de teto e terceira fileira de bancos.
Prós:
# Espaço
# Porta-malas
# Acabamento
Contras:
# Desempenho
# Design.
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