No primeiro semestre, o número de queixas de consumidores nos Procons subiu 9,2%, enquanto as vendas no varejo cresceram 7,6%
O consumidor brasileiro saiu às compras, mas também passou a reclamar
mais da qualidade dos serviços e do atendimento das empresas nos
últimos anos. Só no primeiro semestre de 2012, os Procons receberam 861
mil queixas contra as empresas, um volume 9,23% maior do que no mesmo
período de 2011, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de
Defesa do Consumidor (Sindec), que reúne 24 Procons estaduais e 146
municipais.
O aumento das reclamações supera o crescimento do consumo - nos seis
primeiros meses do ano, as vendas no varejo tiveram alta de 7,6%, de
acordo com dados da Serasa Experian. "Há uma mudança de comportamento do
consumidor. Ele está mais exigente e mais informado sobre seus direitos
e sobre onde reclamar", disse o diretor executivo do Procon-SP, Paulo
Goés.
Com uma renda maior, o consumidor ficou mais sofisticado, disse o
sócio da área de varejo e bens de consumo da consultoria Roland Berger,
Jorge Pereira da Costa. Segundo ele, esse movimento ocorreu anos antes
em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumidor
começou a exigir serviços melhores nos anos 80 e 90. "Ele paga mais
pelos produtos, mas quer uma qualidade melhor", disse. Ao mesmo tempo,
muitas empresas não conseguiram acompanhar o crescimento da demanda no
Brasil e a qualidade do serviço piorou.
A insatisfação do consumidor ficou mais evidente nos últimos cinco
anos, principalmente com a popularização da internet, onde ele encontrou
uma forma de ampliar sua indignação. A funcionária pública Adriana
Peres, por exemplo, postou só em julho reclamações contra quatro
empresas no site Reclame Aqui e no Facebook: Gol, Cetelem, Oi e um salão
de beleza.
"Cada vez que compro um serviço e tenho problemas, reclamo. Procuro
primeiro o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), mas muitas vezes
não funciona. Então vou no Reclame Aqui", disse.
Adriana recebeu respostas da Gol, da Cetelem e do salão de beleza,
mas só conseguiu resolver o problema na Gol. Ela recebeu uma ligação de
um funcionário da empresa um dia depois que postou a reclamação na
internet e conseguiu o reembolso de uma taxa que considerou cobrada
indevidamente.
Atitudes como a de Adriana levaram a Gol a montar uma equipe própria e
um perfil exclusivo para atender reclamações em redes sociais. "Criamos
o primeiro perfil da Gol em redes sociais para divulgar promoções, mas
vimos que tinha uma demanda latente por atendimento. Então treinamos
funcionários do SAC para interagir nas redes sociais", disse Thalita
Matorelli, coordenadora de redes sociais da Gol, que recebe 2 mil
interações por mês.
Retaliação. As reclamações de clientes forçaram medidas drásticas de
agências reguladoras e dos próprios órgãos de defesa do consumidor
contra as empresas. A mais recente foi a decisão da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) de proibir as vendas de novas linhas de
telefonia móvel da operadora líder em reclamação em cada Estado. A regra
entrou em vigor na segunda-feira passada e afetou TIM (18 Estados e
Distrito Federal), Oi (cinco Estados) e Claro (três Estados, incluindo
São Paulo). As três empresas estão na lista de companhias mais
reclamadas nos Procons.
Mas essa não foi a primeira vez que uma agência reguladora tomou
medidas drásticas contra as empresas. Dias antes, a Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) decidiu interromper a comercialização de 268
planos de saúde. Em 2010, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
também ordenou a suspensão de vendas de passagens de TAM e Webjet por
períodos inferiores a cinco dias devido a problemas no atendimento ao
consumidor (atrasos e cancelamentos de voos acima da média).
Os órgãos de defesa do consumidor também começaram a tomar medidas
mais enérgicas contra as empresas reclamadas. No Procon-SP, o primeiro
caso foi a interdição, por 72 horas, de uma loja do Carrefour, em
setembro do ano passado. O órgão também determinou a suspensão em um
período curto das vendas da B2W, dona dos sites Americanas.com e
Submarino, no Estado. A empresa conseguiu uma liminar e não precisou
tirar os sites do ar.
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