Da precariedade de recursos do brega nasceu a força do Palco Arouche, e da abundância de recurso nasce a sofisticação de um concerto como o do quarteto de McCoy Tyner
São Paulo - Brian Birdstuff, baterista da banda de surf music americana
Man... or Astro-Man?, está extasiado. "Rapaz, eu ouvi dizer que haverá 4
milhões de pessoas nas ruas, isso vai ser memorável!", disse,
explicando como imagina o impacto de sua primeira vez na Virada Cultural
de São Paulo.
Brian, você não tem ideia! Você (e os outros estreantes da Virada, como
a bela cantora francesa Nadéah, o pianista de John Coltrane, McCoy
Tyner, e dezenas de outros) vão se defrontar com o Godzilla das festas
populares. Vocês verão mais de 4 mil policiais na rua, 10 grandes
palcos, 10 grandes pistas de danças, ringues de luta livre, nerds
lutando com sabres de luz, chefs estrelados cozinhando em via pública,
243 caminhões de lixo recolhendo as cascas.
A Virada Cultural é como a festa anual da MTV: todo mundo desdenha, mas
todo mundo quer estar lá. Mesmo quem não vai fica falando dela nos dias
que a precedem e nos que a sucedem. "Falta hip-hop", é uma das queixas
mais frequentes. "Tem música demais e faltam artes cênicas e visuais", é
outra crítica. "Tem muita farofa e pouco peru." Todas são procedentes,
todas merecem respostas à altura.
A Virada Cultural tem se aperfeiçoado ao longo das últimas 7 edições, e
é consenso que ainda tem muito o que melhorar. Mas também tem méritos
indiscutíveis, e um deles é dar palco a quem este tem sido recusado.
"Até de maca eu viria", disse no ano passado a cantora Vanusa. "Foi bom
para colocar o joelho no lugar", brincou Jerry Adriani. Da precariedade
de recursos do brega nasceu a força do Palco Arouche, e da abundância
de recurso nasce a sofisticação de um concerto como o do quarteto de
McCoy Tyner.
De fora das Viradas 2010 e 2011, o Teatro Municipal retorna restaurado e
abrigando outros tipos de clássicos: o recital de piano de Arnaldo
Baptista e o reencontro histórico de Cauby Peixoto e Ângela Maria.
Treze unidades do Sesc estarão abertas e a todo vapor.
Das 18 h de amanhã às 18 h de domingo, os guardas civis estarão como
baratas tontas atrás dos camelôs com garrafões de 2 litros de Coca-Cola
contendo o malfadado "vinho químico" que turbina a jornada noite adentro
- 96% de álcool, segundo o Instituto Adolpho Lutz, que analisou a
bebida. O "viradeiro" que cai nessa é o pior tipo, é o que vê o evento
como uma megaliquidação: peguem rápido tudo o que puderem porque a
queima de estoque só dura 24 h (e, se não puderem pegar o melhor, peguem
qualquer coisa). Então, a coisa a ser evitada é o consumo compulsivo -
planeje carinhosamente o safári Virada adentro. As informações são do
jornal O Estado de S.Paulo
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