Em entrevista, Luciana Lanzoni, Diretora-Executiva do Instituto BRF fala sobre as iniciativas da organização, além dos desafios e perspectivas para os próximos anos
As consolidações que ocorrem em diversos setores da economia
brasileira afetam, também, a lógica de atitude de marca das companhias
envolvidas neste tipo de processo. Fusões e aquisições normalmente geram
sobreposições de ações, programas e até mesmo causas. Neste sentido, um
trabalho
criterioso de arquitetura de iniciativas é fundamental para que o
investimento possa manter sua eficácia sem perder o compromisso de longo
prazo e o alinhamento à estratégia da marca resultante da união ou
compra.
Um dos exemplos mais recentes deste contexto é o recém-lançado
Instituto BRF, que organiza a gestão dos investimentos sociais
realizados pela Brasil Foods. Conversamos com a diretora-executiva da
entidade, Luciana Lanzoni, que esclareceu as prioridades e
desafios da organização para os próximos anos.
Com:Atitude: Quais são as prioridades de investimento do Instituto BRF?
Luciana Lanzoni:
Nosso foco reside no desenvolvimento
local, que é de suma importância para uma empresa de alimentos de grande
porte como a Brasil Foods. Acreditamos na nossa contribuição neste
sentido. Porém, há vários desafios inerentes a essa proposta. O
desenvolvimento de um município em um estado é totalmente diferente dos
demais. Mesmo com essa diversidade de contextos existem “avenidas”, ou
seja, eixos transversais por meio dos quais conseguimos trabalhar uma agenda positiva nas localidades. Não se trata de uma receita pronta.
C:A: E quais são essas “avenidas”?
LL:
Uma das nossas frentes estratégicas são as redes
interssetoriais. Por meio delas, estimulamos junto às comunidades
debates sobre as prioridades para cada região. Projetos como o
Comunidade Ativa e o Laços de Proteção, em parceria com a Childhood, são
exemplos deste eixo. Outra frente que trabalhamos é o fortalecimento do
terceiro setor, em que chegamos a apoiar 8,6 mil pessoas. Em breve,
lançaremos um programa estratégico com foco em controle social, inovação
e assistência. Por fim, trabalhamos uma frente de políticas públicas,
com projetos-piloto junto ao poder municipal. Neste caso, educação
infantil e informática
educacional figuram entre as principais iniciativas, mas estamos
planejamento formas de expandir a abrangência deste bloco. Ano que vem,
pretendemos atuar em mais uma frente, focada em empreendedorismo e
empregabilidade.
C:A: Qual o montante investido atualmente nas ações e que estrutura sustenta as atividades do instituto?
LL:
Temos uma verba de mais de R$ 5 milhões, mas é importante
delimitar que trabalhamos com recursos que não são apenas financeiros.
Contamos também com os voluntários da BRF e ativos de geração de
conhecimento, bem como de capacitação, de modo que nossa experiência se
transforme em saberes que possam ser usados e empregados nas
comunidades. Hoje atuamos em 29 municípios, nos quais gerimos 27 comitês
de investimento social. São quase 210 funcionários envolvidos. Neste
ano, pretendemos chegar a 40 cidades.
C:A: Como funcionam estes comitês?
LL:
Eles podem ter de cinco até 15 pessoas, de maneira que
possam ter representatividade de todas as áreas nas nossas unidades.
Estes comitês são interfaces que fazem a gestão do investimento social
nas comunidades em parceria com as equipes do instituto. Por isso,
precisam manter forte diálogo em nível local. É importante saber que as
funções nos comitês não dependem de nível hierárquico na companhia.
Isso, inclusive, abre espaço para o desenvolvimento de novas lideranças.
C:A: De que forma o Instituto BRF consolida os investimentos legados de Sadia e Perdigão?
LL:
Somos fruto de um forte histórico de atuação de duas
grandes companhias. Tomamos estas plataformas como referência e unimos
estas frentes ao pensamento de vanguarda corrente em investimento social
privado, sintetizado em tópicos como ação glocal, agendas de
desenvolvimento em territórios, parcerias para alavancar iniciativas e
promoção cada vez maior de trabalhos pautados em engajamento de
diferentes stakeholders. É importante frisar que temos um olhar
positivo, ou seja, vislumbramos nas cidades não apenas as necessidades,
mas também o que há de potencial.
C:A: Um instituto como o de vocês demanda um engajamento
consistente junto a parceiros para que as ações tornem-se realidade. Que
desafios residem nesta tarefa?
LL:
Cada organização tem um jeito, um tempo, um procedimento. A
gente acredita que esse é o caminho para o mundo se transformar – pela
união de diferentes saberes. Uma das questões que a gente tem trabalhado
muito é a interação entre os comitês gestores de ISP e as equipes do
instituto. Os membros do comitê, além de cumprirem a função previstas em
seus cargos tradicionais, têm que participar da estratégia, do
monitoramento e não apenas da implementação dos projetos. Eles são mesmo
vistos como gestores e devem facilitar ao máximo o diálogo nas
comunidades e junto ao instituto. Buscamos ter diretrizes claras para
uso dos recursos e transparência no reporte de resultados. Quanto mais
investimos em conhecimento e aprendizagem, melhor.
C:A: Há previsão para internacionalização das atividades do Instituto BRF?
LL:
As discussões sobre esse tema ainda irão começar.
Provavelmente tatearemos isso nos próximos dois anos. O desafio de 2012
era colocar o instituto “na rua”.
*Por Rodolfo Araújo. Esta reportagem foi publicada originalmente no portal Com:Atitude, da Edelman Significa, e agora no Mundo do Marketing de acordo com parceria que os dois portais mantêm.
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