A TV, a partir da segunda metade do século XX, tem um histórico de alterações significativas, mesmo possuindo uma vida relativamente curta. Num curto espaço de tempo, passou a exercer grande espectro de influência em relação a outras mídias, dado que se mantém até a atualidade. Até a década de 1980 o aparelho eletrodoméstico tinha seu espaço, em particular a sala de estar, como topografia essencial e o ato ver televisão era homologado de forma passiva.
Precisamente, a partir de 1983, com o surgimento do controle remoto, seguido da comercialização e barateamento do videocassete, alterou-se de forma profunda o consumo da mensagem televisiva, posteriormente o satélite e o cabo promoveram também mudanças estruturais.
A partir de meados da década de 1990, e com ênfase nos anos 2000, vemos surgir uma outra configuração, sob o impacto das novas mídias. Pode-se dizer que a evolução tecnológica, associada a interesses públicos e privados de expansão do setor, contribui decisivamente para um quadro de reelaborações significativas. Com o avanço das mídias digitais, sendo a Internet protagonizadora desse processo, agregaram-se novas formas de comunicação, socialização e reformulou-se a esfera dos negócios e da publicidade.
O pesquisador americano Henry Jenkins, em seu livro A Cultura da Convergência, propõe a tese de que temos hoje o estabelecimento de novos paradigmas de comunicação e a reinvenção dos suportes de mídia de maneira complementar, proporcionando novas significações técnicas e socioculturais. Ou seja, para Jenkins, a televisão não vai acabar por conta da internet, assim como a internet não vai inventar um novo modelo de comunicação em vídeo: o acoplamento das duas propostas vai criar uma terceira via, com a possibilidade de novas ferramentas e de mecanismos de interatividade.
E isso, por sua vez, deve reconfigurar à maneira pela qual as pessoas se apropriam do produto audiovisual, determinando um novo modelo de raciocínio comunicacional que, por fim, gerará impactos na economia, na arte, nos modos de consumo e no relacionamento entre as pessoas e o mundo como um todo. Como explica Jenkins, a convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a lógica a partir da qual a indústria midiática opera e pela qual os usuários processam a notícia e o entretenimento.
Sob o impacto das tecnologias digitais, a televisão tem multiplicado seu vocabulário e reconfigurado suas singularidades. O fluxo televisivo, aspecto definidor da programação - como nos diz Robert Williams, em seu livro Television: technology and cultural form - não se sustenta mais como traço definidor de uma programação que estava à disposição do telespectador, ela passou a ser contida e o eterno presente da grade tornou-se coisa do passado. Ainda sob o impacto do videocassete, programas eram armazenados e a estocagem caseira permitia investimentos de sentido segundo o desejo do espectador.
Recentemente, programas são comercializados em DVDs e convivem com a TV aberta, a programação segmentada dos canais pagos, a cabo ou satélite. O surgimento do Youtube acentuou o estilhaçamento da programação e incrementou as apropriações dos espectadores em relação ao seu conteúdo. A TV Digital assinala outro campo profundo de mudanças, onde a interatividade segue como o desafio dos programadores na nova relação com o espectador-usuário. Nesse quadro, as relações entre TV, Internet, e, particularmente, a web, merecem considerações mais destacadas.
Diante desse movimento, em que velhas mídias (TV, rádio e cinema) convivem com as novas mídias (computador, celular), o fenômeno da convergência assinala um novo paradigma no campo da comunicação: trata-se da remodelação da relação entre produção e consumo de conteúdos midiáticos. Vale dizer que nesse ambiente facilitado pela Internet, a demanda por vídeos, sobretudo de programação televisiva, tem protagonizado esse processo e a web 2.0, uma plataforma aberta, tornou possível a participação de usuários na elaboração de conteúdos.
Esse quadro tecnológico traz consigo o surgimento de um outro sujeito que potencialmente pode participar ativamente na construção da significação em Rede e um novo cenário se apresenta como um grande desafio para clientes, agências, veículos, adnetworks e grandes players digitais como Google, Facebook, Twitter entre outros. Tendo em vista a prerrogativa da cultura da convergência como um horizonte transformador da cultura na produção e no consumo de conteúdos, podemos notar a agregação desses novos valores na esfera da TV e sua relação com as mídias digitais.
Formam-se comunidades participativas nas redes sociais, ativa-se o interesse do público, expandindo o conteúdo em mídias locativas, provoca-se o interesse pelo desenvolvimento de jogos, mobilizam-se outros lugares para dinamizarem a fidedignidade e a identificação com o produto de ficção, bem como com as marcas que patrocinam e garantam os negócios e o lucro.
Por Edvaldo Acir e Gilberto Alexandre Sobrinho, artigo publicado no IAB Brasil
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