Após liderar em Viracopos, Azul quer fatia de Congonhas

Em 60 dias a empresa acredita que atingirá 10% do mercado aéreo nacional, como garante diretor; na sexta-feira a Azul Cargo completou dois anos de atividade

Após consolidar-se no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), (sua base operacional, onde é responsável por 77% de todo o movimento de passageiros),  a Azul Linhas Aéreas Brasileiras muda a estratégia e agora volta os olhos para o principal terminal urbano do País, Congonhas, encravado na cidade de São Paulo. Hoje, ela possui apenas um voo semanal no local (aos sábados, para Porto Seguro, na Bahia), mas deseja mais, e deixa isto claro. “Queremos quebrar o duopólio TAM/Gol em Congonhas. Estas duas empresas detêm muito mais slots [autorizações de pouso e decolagem] ali do que efetivamente usam. Enquanto isso, a Azul quer aumentar suas operações neste terminal e não pode”, afirma Gianfranco Beting, diretor de Comunicação, Marca e Produto da companhia.

Em entrevista exclusiva ao DCI, o executivo ainda provoca: “Deixem-nos competir em Congonhas e vocês verão se as tarifas cobradas ali não vão cair rapidamente”. Dona, atualmente, de 9,2% do mercado aéreo nacional, a Azul em breve atingirá pela primeira vez dois dígitos de participação no mesmo. “Em 60 dias, talvez menos, nossa empresa alcançará 10% de market share na aviação civil brasileira. Nossos estudos internos indicam isto com bastante clareza”, informou.

Assim, a companhia se consolidará como a grande “pedra no sapato” das líderes TAM e Gol — cada qual dona hoje de cerca de 40% da aviação doméstica local. A companhia também comemorou na sexta-feira o aniversário de dois anos da Azul Cargo, divisão de transporte de cargas do grupo. A Azul Linhas Aéreas foi fundada há dois anos e meio por David Neeleman, famoso empreendedor do setor.

Previsões

Semana passada, a companhia começou a voar para o aeroporto da Zona da Mata, em Juiz de Fora (MG). Com isso, já chega a 40 destinos diferentes, em 39 cidades, com 39 aeronaves. “Mas vamos continuar crescendo”, afirma Beting. “Até o final de 2011 já teremos ao menos 46 aeronaves e estaremos chegando a 45 cidades brasileiras. E de cada 4 rotas onde voamos, somos líderes em 3”.

O grande desafio da Azul talvez seja provar que é viável, a médio e longo prazo, a existência de uma aérea de médio porte em um mercado cada vez mais concentrado. Christian Majczak, analista do setor aéreo da consultoria GO4!, acha que é. “Até aqui eles apostaram em rotas diferentes das usadas por TAM e Gol, o que parece estar rendendo bons resultados”, diz ele. Mas Majczak pondera: “O grande teste da Azul talvez se inicie agora, quando ela se aproxima do total de 10% do mercado. Vai começar a incomodar e certamente será alvo de práticas concorrenciais cada vez mais agressivas por parte das outras aéreas”. “Queremos continuar crescendo, mas sem comprometer a viabilidade de nossas operações”, avisa Beting. “Não vamos comprar market share, jamais”, diz o executivo, usando a expressão que designa uma companhia que voa com prejuízo apenas para garantir sua fatia de mercado.

Hub

Viracopos, hub da Azul, é um dos principais aeroportos de carga brasileiros, o que ajuda bastante nas operações da Azul Cargo. A empresa chega a seu segundo aniversário com ótima saúde, informa Beting. “Ela é muito lucrativa”, diz, sem dar números do negócio. Operando hoje 75 lojas, entre próprias e de terceiros, e atendendo a 3.000 cidades, a Azul Cargo já transportou só neste ano (mais especificamente, entre janeiro e julho) 46% a mais de carga do que em toda sua história. Sua estratégia é concentrar-se em itens de alto valor agregado, uma maneira de driblar os pesados custos que a aviação impõem.

“Levar cargas por avião é equacionar peso e cubagem, ou seja, volume. Nós nos voltamos para o transporte de produtos nobres, os quais custam mais e rendem mais”, explica Beting. Flávio Costa, diretor de Logística da Azul, complementa: “A abertura de novas lojas, o aumento de nossa capilaridade e do volume de bens transportados, a pontualidade nas entregas e a criação de novos serviços têm colaborado para nosso crescimento no mercado de cargas”.

Outra estratégia vitoriosa da Azul Cargo é atuar como uma verdadeira operadora logística para seus clientes, e não apenas como uma transportadora. Nesta linha, a companhia vem oferecendo opções de entrega rápida como o Azul Cargo 2 Horas, o Azul Cargo Amanhã e o Azul Cargo 10. E na sexta-feira lançou outra novidade: o Azul Cargo E-commerce, dedicado às empresas de vendas eletrônicas que comercializam pequenos objetos. O serviço oferece preços especiais para pacotes de 250 gramas, 500 gramas e 750 gramas. Desde sua fundação a transportadora já carregou cerca de 10 mil toneladas de carga em quase 300 mil remessas. “E até o final do ano a Azul Cargo terá 100 lojas em todo o País e chegará a outros tantos destinos”, adianta Beting, confiante.