Apetrechos visuais tentam impor uma esportividade que não é dele.
“Esportivar” carros sem o menor cacoete para performance era uma
prática mais cautelosa. Hoje qualquer 1.0 ou 1.4 tem o direito de ter
saias laterais, spoilers traseiros e faróis com máscara negra. A receita
é quase sempre a mesma, e quase sempre não se estende a assuntos
técnicos, como aumento de potência, relação de marcha encurtada ou
engates do câmbio mais justos e precisos – no máximo, uma suspensão 1 ou
2 cm mais baixa.
No entanto, há exemplos de razoável bom gosto, como Fiat Uno Sporting,
Chevrolet Montana Sport (a antiga, obviamente) e Ford Ka Sport, entre
outros. Por outro lado, a falta de limites leva a experiências de gosto
discutível, como o Toyota Corolla XRS, que o G1 experimentou durante uma semana.
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Penduricalhos
A versão XRS se baseia na XEi 2.0 (a terceira da hierarquia, à frente
da básica XLi e da intermediária GLi, e abaixo da topo de linha Altis), o
que significa que há entre os itens de série ar-condicionado digital,
CD player com entradas USB e auxiliar, computador de bordo com seis
funções, controle de velocidade de cruzeiro, volante multifuncional,
airbags frontais e laterais, faróis de neblina, acendimento automático
dos faróis, espelhos retrovisores externos eletrorretráteis e com
indicador de direção, entre outros.
Para poder trocar o sobrenome, o Corolla
“esportivo” ganha aerofólio traseiro, faróis escurecidos, saias
laterais, frontais e traseiras; e rodas pintadas de cinza. A grade,
originalmente atravessada por duas barras, passa a ter só um filete.
Internamente, o cinza dá lugar ao preto no revestimento, o volante em
couro tem base achatada e é costurado com linha vermelha – presente
também nos bancos, em couro preto.
Os inúteis penduricalhos e as (bem-vindas, ainda que discretas)
mudanças no interior fazem os R$ 71.630 da versão XEi saltarem para R$
73.030 no XRS.
Esportividade zero
O Corolla XRS anda como qualquer outro Corolla: fácil de guiar,
estável, flutuante sobre pisos irregulares e, no geral, um bom
companheiro para todas as situações do dia a dia. O motor 2.0 tem
respeitáveis 153 cavalos e garante desempenho decente ao sedã, mas seu
potencial se esconde atrás da transmissão. Trata-se de um bom câmbio
automático de quatro marchas, mas ainda assim um câmbio de quatro
marchas, com todas suas limitações e indecisões.
E a única chance que o Corolla XRS tinha de se conectar, ainda que
fragilmente, ao que se chama de esportividade ao volante foi tolhida:
incrivelmente, ele não é oferecido – sequer opcionalmente, encomendando
ou implorando à Toyota – com o câmbio manual de seis velocidades das
versões XLi e GLi.
Saia lateral parece diminuir tamanho das rodas
(Foto: Rodrigo Mora / G1)
Aí a saída é forçar no visual. As rodas – que sequer têm desenho
diferente ou diâmetro ampliado – são adequadas a qualquer outro Corolla,
mas os apêndices nas extremidades do para-choque e as saias lateais
impõem um abismo entre as rodas e a carroceria. O aro 16 parece que
virou 14. E um discreto spoiler no lugar do aerofólio seria mais
palatável.
Internamente, as escolhas foram mais sensatas. Elogios ao teto
revestido em tecido preto e o volante de base achatada, de diâmetro
exato e pegada agradável. As costuras vermelhas nos bancos novamente
insinuam uma esportividade que o Corolla nunca pretendeu ter, mas são de
bom gosto.
No final das contas, é bom deixar claro que esta configuração não tira
dele as qualidades que o fazem líder do segmento desde 2009. Mas a
versão XRS não faz jus ao “X”, ao “R” ou ao “S” do sobrenome. Tampouco
às três letras juntas, que sugerem uma opção ainda mais nervosa de um
carro já esportivo. E menos ainda ao “RS” em vermelho: de ardido, ele
não tem nada.
Toyota Corolla XRS (Foto: Rodrigo Mora / G1)
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