– Estudo do Sindipeças revela que o custo de produção no
Brasil é de 58% do preço final do carro, contra a média mundial de 79% e
chega a 91% nos EUA.
– Fabricantes de autopeças revelem em Audiência Pública que o Lucro Brasil é de 10%, contra 5% no resto do mundo e 3% nos EUA.
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado realizou na semana
passada em Brasília audiência pública para discutir os altos preços dos
carros no Brasil, com a presença de representantes da Secretaria de
Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, do Ministério do
Desenvolvimento, do Ministério Público Federal, do Sindipeças, o
sindicato dos fabricantes de autopeças e deste jornalista.
A série de reportagem falando sobre o Lucro Brasil feita no ano
passado – e a repercussão do assunto na mídia – motivou a convocação da
audiência, conforme a senadora Ana Amélia, do PP do Rio Grande do Sul,
responsável pela iniciativa.
A parlamentar lamentou a ausência da Anfavea, a associação dos fabricantes, que foi convidada, mas não compareceu.
Todos os expositores colocaram a questão dos altos preços do carro
praticado no Brasil comparados com outros países: tanto países do
primeiro Mundo, Estados Unidos, Europa e Japão – quanto em relação aos
nossos vizinhos Paraguai e Argentina.
O exemplo do Corolla foi o mais citado: o carro custa US$ 16,2 mil,
nos Estados Unidos, U$ 21,6 mil na Argentina e R$ 28,6 mil no Brasil.
O representante do Ministério Público, Antonio Fonseca, pediu ao
Senado a revogação da lei de Renato Ferrari, que regulamenta a
distribuição de veículos. Disse que o setor não precisa de
regulamentação que essa lei provoca o oligopólio, prejudica a livre
concorrência e cria reserva de mercado em regiões do País, o que
contribui para o aumento do preço final do carro.
Mas foi o representante do Sindipeças, Luiz Carlos Mandelli, quem
apresentou as informações mais contundentes em relação à formação do
preço do carro no Brasil. Segundo o estudo apresentado pelos fabricantes
de autopeças aos senadores, a margem de lucro praticada no Brasil é a
maior do mundo, 10% sobre o valor ao consumidor, enquanto a margem média
mundial é de 5% e nos Estados Unidos o lucro é de 3%.
Segundo a entidade, o custo de produção do veículo no Brasil é menor
do que em qualquer parte do mundo. Esse custo, que inclui matéria prima,
mão de obra, logística e publicidade, entre outros (que as montadoras
chamam de Custo Brasil) é equivalente a 58% do valor final do carro. A
média mundial é bem maior, de 79%, e nos Estados Unidos esse custo sobre
para uma faixa entre 88% e 91%.
Os impostos seguem na mesma proporção. No Brasil o imposto sobre o
carro é de 32%, a média mundial é 16% e nos Estados Unidos varia de 6% a
9%.
As montadoras argumentam que a margem é maior no Brasil por causa no
custo do capital. Nenhum empresário vai colocar o seu capital num
investimento de risco ou de baixo rendimento para ganhar 6% ao ano, ele
deixa aplicado na poupança, disse uma fonte dos fabricantes,
acrescentando que, se o custo do capital for levado em conta, a margem
de lucro do Brasil e dos Estados Unidos ficaria equivalente.
O estudo indica ainda que a margem de lucro das empresas de autopeças
de capital fechado, ao contrário, é menor no Brasil em comparação com o
resto do mundo. Neste ano, o lucro foi de 4,8% e de 5,8% das empresas
de capital aberto, contra 7,2% das empresas no resto do mundo.
Em estudo que comparou os anos de 2009 a 2012, apenas o primeiro ano
registrou que o Brasil superou o resto do mundo no lucro com o setor:
4,2% das empresas com capital fechado e 5,0% com capital aberto,
enquanto no resto do mundo foi registrado lucro de apenas 1,3%.
O Senado deve convocar novas reuniões para dar continuidade à discussão do assunto.
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