Um exemplo é o Ford Focus GL com motor 1.6. Em quatro concessionárias, porém, nada do veículo
O preço "a partir de..." aparece na propaganda, bem como aquela
versão cheia de adereços esportivos e equipamentos. Mas é só passar a
porta da concessionária para se sentir um peixe mordendo uma isca.
Fizemos uma ronda por revendas de São Paulo e do Rio de Janeiro para
descobrir que muitas versões de carros só existem em teoria. Isso sem
falar em modelos que não são encontrados em qualquer configuração.
Muitos dos carros que não chegam ao mundo real são versões de
entrada. Um exemplo é o Ford Focus GL com motor 1.6. Em quatro
concessionárias, porém, nada do carro. Em uma delas, a vendedora não
teve meias palavras. “Não compensa trabalhar com a versão GL. A GLX vale
muito mais a pena.”
Outros modelos mais em conta também parecem miragem. Conseguir um
Chevrolet Sonic LT é tarefa para gente paciente. Só uma das cinco
revendas GM consultadas tinha o carro sul-coreano, mas apenas na cor
prata e com carroceria sedã. Alguém insistente tem de recorrer à versão
LTZ, que tem preço de R$ 3 mil a R$ 5 mil mais alto.
Para Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford e consultor do Centro
de Estudos Automotivos, uma explicação pode ser a demanda maior por
modelos de entrada. “Os fornecedores , muitas vezes, não têm condições
de atender à nova demanda em um prazo curto. Além disso, uma mudança na
escala vai contra o planejamento traçado no início da produção”, conta o
consultor.
Versões intermediárias e topo de linha também viram pegadinhas para
os incautos clientes. A médica Juliana Bartolli, 25 anos, queria um Fiat
Bravo completinho, mas voltou para casa com um Chevrolet Cruze.
Ela peregrinou por três concessionárias Fiat em cidades diferentes e
não achou um Bravo Absolute Dualogic 1.8 16v sequer. “Não me deram
certeza alguma, só falaram que o carro estava em falta e, se
encomendasse, esperaria no mínimo 60 dias pela entrega. Depois,
pesquisei o Cruze, visitei três revendas e o carro chegou em razoáveis
20 dias”, conta Juliana.
Poucas unidades /Ainda na linha Fiat, a versão T-Jet do Punto,
lançada há mais de dois meses e já no site da marca para ser "montada",
até agora não deu o ar da graça nas lojas.
Nem a Sporting, com motor 1.8 e visual fuçado, serve de consolo: das
quatro lojas pesquisadas, apenas uma tinha o modelo– uma unidade.
Nada do Peugeot 408 Griffe também. O requintado sedã praticamente
sumiu com a chegada da versão com turbo, que tem preço similar. Numa das
concessionárias, a vendedora chegou a afirmar que a configuração nem
sequer existia.
“Como o fabricante não quer perder venda, anuncia todo o seu
portfólio. E apesar da corrida às lojas, as fábricas mantêm a rotina de
produção. Isso porque não querem ter aumento no custo de produção, que
poderá não ser acompanhado nos meses seguintes”, ressalta Sérgio Bessa,
da FGV.
Neste raciocínio, deve ser mais lucrativo vender as configurações
mais caras do Duster. Todas as cinco revendas procuradas só tinham a
versão topo de linha, com bancos de couro e preços a partir de R$ 66 mil
- bem acima dos teóricos R$ 57.850 de tabela do sumido Duster Dynamique
2.0 4x2. “Esse carro só deve voltar em dezembro”, contou um vendedor da
Renault.
No site da Volks é possível pôr airbag duplo, ABS e direção
hidráulica no Gol 1.0, ao custo total de R$ 30.600. Mas tente fazer isso
na revenda...
De oito lojas, nenhuma tinha o modelo com o pacotão de segurança.
E aquela garrafa de tequila secou...
Carros importados do México também estão sumidos, mas por outros
motivos. Os Nissan March e Versa somente agora começam a voltar às
revendas. Isso porque a cota de exportação do país latino-americano, com
o qual o Brasil tem acordo alfandegário, estourou.
Em julho, o estudante Joel Trindade, de 20 anos, foi com um amigo a
uma revenda da Nissan. Estavam interessados no Versa. Os vendedores
garantiram que em 20 de agosto teriam o sedã. Na data, porém, pediram
mais duas semanas.
“Depois, liguei para a revenda e eles me pediram para entrar na fila
de espera, com prazos de 60 a 90 dias”, reclama o estudante.
Foi tanta novela que Joel desistiu do Versa e comprou um Peugeot 207
Passion no fim de agosto. Seu amigo esperou até outubro, em vão. Acaba
de encomendar um Hyundai HB20, que só deve chegar em 20 dias.
A solução para muitas revendas da Nissan surge agora por importações
fora da cota de isenção– ou seja, pagando os 35% de alíquota. O também
mexicano Honda CR-V com câmbio automático é outro sumido. Com muita
perseverança, consegue-se o utilitário com caixa manual (o mais barato),
por R$ 90 mil. Caso contrário, o cliente que quiser ser fiel à marca
terá de levar um Civic ou Accord.
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