Marcas nacionais e internacionais vêm utilizando o Presumer, pessoas capazes de satisfazer seus desejos por meio do envolvimento com itens que ainda não foram lançados
A importância da co-criação
O conceito de Presumer nasceu do grupo de pessoas que buscavam recursos
para a construção dos seus próprios produtos. “O termo surgiu quase
como um fundo de quintal aperfeiçoado, onde consumidores criam
os seus projetos e vão atrás de recursos para a produção em uma escala
maior. São pessoas que querem colocar em prática as suas próprias
ideias”, explica Luciana Stein, Pesquisadora da Trendwatching e
responsável pelo estudo que traça o perfil do Presumer, em entrevista ao
Mundo do Marketing.
A utilização do consumidor como co-criador faz parte de um dos pilares
do conceito de marcas vivas, onde é necessário manter um relacionamento
próximo com o público como uma das chaves para o sucesso. Cada vez mais
as marcas passarão a ter os clientes como parceiros e agentes de
desenvolvimento. “Houve uma evolução e o futuro das marcas é se
relacionar. As empresas não podem mais permanecer por trás do vidro
apenas construindo produtos. É preciso estar cada vez mais próximo do
consumidor. A co-criação é isso”, explica Fred Gelli, Sócio da agência
Tátil Design, em entrevista ao Portal.
Exemplos nacionais
Essa paixão por tirar as ideias do papel começou a chamar a atenção de
diversas marcas. Em 2009, por exemplo, a Fiat foi buscar opiniões dos
internautas para construir o carro conceito Mio. O veículo foi criado a
partir de 10 mil sugestões de 17 mil pessoas. Para coletar os dados, a
empresa criou um espaço colaborativo online onde eram registradas as
ideias.
Os colaboradores puderam acompanhar o processo de produção por meio da
internet, podendo comentar e influenciar na decisão final dos designers.
“Esta é uma questão importante. O Presumer gosta de fazer parte da
história, de se sentir importante, de se sentir claramente levado para
dentro da marca. Esse envolvimento é uma forma de buscar status. Eles
acompanham os processos até o final e compartilham as informações nas
redes sociais”, completa Luciana Stein.
A construtora Tecnisa é outra que utiliza ativamente as opiniões dos
consumidores para o desenvolvimento de produtos. Por meio do projeto de
crowdsoursing Tecnisa Ideias, a empresa abre espaço para que os
internautas enviem suas sugestões para a melhoria da vida daqueles que
moram nos condomínios. As ideias são avaliadas e, as melhores, colocadas
em prática.
O grande desafio para a empresa é na escolha das melhores ideias. Outra
companhia que lançou mão do crowdsourcing foi a Gafisa, que utilizou o
Facebook como canal de comunicação com seu público para criar o edifício
colaborativo Eureka. O intuito principal da empresa foi incentivar o
diálogo da marca com os internautas. A meta inicial era alcançar 20 mil
fãs no Facebook e o número chegou a 39 mil.
Ao todo foram cerca de 3 mil ideias encaminhadas. “Essa proposta ainda
está em crescimento no Brasil porque trata-se de um processo lento e
caro. Além disso, as empresas ainda tentam compreender melhor como é o
funcionamento”, afirma a pesquisadora da Trendwatching.
A utilização do Presumer no mundo
Fora do Brasil, a utilização do Presumer enquanto perfil de consumidor é
mais comum. Nos Estados Unidos, a marca de batatas fritas Lay’s
desenvolveu o concurso “Do us a flavour”, que convida os consumidores a
criarem novos sabores para o petisco. Como recompensa, o escolhido
receberá um prêmio no valor de US$ 1 milhão.
Outra que usa a estratégia no exterior é a 3M. A empresa criou a The
Spark, uma rede social para estimular inovação entre seus sete mil
cientistas. A companhia também promove visitas ao seu Centro Técnico
para Clientes, no qual consumidores podem testar produtos da marca e
dizer o que acham de cada um. A 3M também envia produtos para clientes
cadastrados em seu Test Drive de Inovação, para que eles testem os
lançamentos e emitam suas opiniões.
Já a IBM criou o programa IBM Liquid, que desenvolve aplicativos com a
ajuda do público. A empresa paga 100 dólares para cada desenvolvedor
investir em um projeto pessoal ou de colegas. A fabricante de celulares
Nokia conta com o Ideas Project, site que capta feedback e sugestões de
usuários e consumidores da empresa. Já no Invent with Nokia, a empresa
faz parceria com o público para desenvolver patentes em conjunto.
Interatividade para crescer
A interatividade com o Presumer também é utilizada pela rede de cafés
Starbucks por meio do projeto My Starbucks Idea. No site é possível
sugerir ideias, votar nas melhores e discutir com outros consumidores as
melhores propostas. As sugestões são organizadas em categorias,
rankeadas por votação popular e acumulam pontos. Os comentários de cada
proposta também são abertos, e muitas contam com uma participação
massiva do público. As melhores ideias são colocadas em prática com os
créditos do autor.
Com tantos exemplos práticos, é importante que as marcas que ainda não
utilizam esta proposta estejam atentas para os benefícios que podem ser
gerados pela utilização dos Presumers na co-criação de produtos e
serviços. Além de se tornarem consumidores engajados, esse público atua
como multiplicador das ideias e valores das empresas. Além disso, a
utilização das ideias dos clientes em potencial traz uma maior garantia
de aceitação do mercado. “É preciso lembrar que todos temos uma opinião
sobre os produtos. A relação com as marcas é tão intensa quanto com as
pessoas e com os presumers isso é ainda maior”, diz Luciana Stein.
As empresas, no entanto, precisam estar atentas para a forma como
utilizam o Presumer para que esta relação não se torne negativa. É
necessário ter critério para avaliar o que será aberto aos consumidores e
em qual fase do processo isto será feito. “Não é qualquer coisa que
pode ser aberta. Já vi empresas deixando consumidores escolherem design
de rótulos. O consumidor não sabe fazer isso. Nesse caso, o mais
indicado é escolher públicos específicos para que a ação não se torne um
tiro no pé”, pondera Fred Gelli, em entrevista ao Mundo do Marketing.
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