Acervo de Roberto Lee foi doado à Prefeitura de Caçapava em 2011.
Quase dois anos depois de receber a doação do acervo de carros antigos e
raros do colecionador Roberto Lee, a Prefeitura de Caçapava ainda não
sabe quando irá restaurar os veículos e expor novamente ao público. Lee
criou, em 1963, um museu de carros antigos que chegou a ser o maior
acervo da Améria Latina na década de 1970.
Desde janeiro de 2011, a administração municipal é responsável pelo
acervo, mas nenhum automóvel foi recuperado nesse período e pouco se fez
para reabrir o espaço para a população e aos aficionados por carros.
Agora, a coleção, que conta com 40 veículos como Tucker e Alfa Romeo,
está guardada, coberta por plásticos, em um galpão no Centro
Educacional, localizado no Bairro Vera Cruz. A visitação não é aberta
para visitantes.
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Segundo a prefeitura, os carros ficarão no local por tempo
indeterminado. “Após a transferência para o Centro Cultural, o acervo
foi higienizado, catalogado e abrigado adequadamente e em segurança”,
afirma o responsável pelo acervo, Hudson Moreira.
Uma exposição com as raridades chegou a ser feita em maio de 2012, mas a
prefeitura não tem previsão para o restauro das peças. “Inicialmente, a
prefeitura teve que cuidar de questões urgentes para evitar o
sucateamento. Dos 40, apenas 27 tem condições de restauro. Esse processo
é uma etapa a médio prazo, bem mais complexa, que demanda uma série de
fatores, como recursos técnicos e orçamentários”, explica.
Para Og Pozolli, colecionador de automóveis antigos, o restauro dos
veículos é uma questão complicada para a Prefeitura de Caçapava. "A
restauração de um acervo como esse é sempre bem vista. A administração
estava com a ideia, a tentativa, mas isso vai demandar muito dinheiro e
me parece que a Prefeitura não teria esse valor".
Carros estão perfilados em um galpão da Prefeitura
(Foto: Carlos Santos/G1)
Segundo o colecionador, o valor de restauro de cada veículo ficaria, em
média, em cerca de R$ 100 mil. "A prefeitura teria que buscar
parcerias, mas acho extremamente difícil. Talvez o mais prático seria
tentar acordo com colecionadores. Ou consegue verba ou arranja alguém
que queira bancar. É uma pena este cenário, porque com o tempo o acervo
só deve se deteriorar ainda mais", diz.
Quando houver a disponibilidade da verba para realizar os trabalhos, o
restauro precisa ser aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
(Condephaat), já que o patrimônio é um bem tombado pelo órgão.
“Precisamos de autorização do conselho para passar por qualquer tipo de
intervenção ou restauro, mas como é um processo complexo, só deve
acontecer na gestão do próximo prefeito”, diz.
O prefeito eleito de Caçapava, Henrique Rinco (PSDB), afirmou que
deseja recuperar todos os veículos, mas ainda não sabe nem quando e nem
como fazer. "Assim que tomarmos posse vamos avaliar a situação e ver o
que conseguiremos fazer para viabilizar o restauro dos veículos",
explicou ao G1.
A coleção de veículos e acessórios do Museu Paulista de Antiguidades
Mecânicas foi tombada pelo Condephaat em 1982. O acervo tombado era
composto de 97 veículos, motores, miniaturas de autos, distintivos de
automóveis-clubes de todo o mundo e cerca de 200 gravuras.
Raridades
Toda coleção tem suas relíquias e, mesmo desgastado e deteriorado com o
tempo, carros rarísimos fazem parte do legado deixado por Lee. O
principal é um Tucker. O veículo, considerado um carro revolucionário,
foi fabricado em 1948 nos Estados Unidos pelo empresário Preston Tucker,
que pretendia implantar uma fábrica no Brasil e receber incentivos
fiscais.
De acordo com Og Pozolli, um dos maiores colecionadores de veículos no
Brasil, o exemplar de Caçapava está entre os únicos 50 modelos que foram
produzidos. "É a única peça na América do Sul e uma das poucas que
saíram dos Estados Unidos. Uma verdadeira raridade", explica.
O valor histórico do veículo também se reflete no preço de mercado. Um
Tucker pode custar até US$ 500 mil, cerca de R$ 1 milhão.
Tucker é uma das principais raridades da coleção (Foto: Carlos Santos/G1)
Um dos mais antigos carros de corrida do automobilismo também faz parte
da coleção. O Alfa Romeo P2, modelo Grand Prix, já chegou a passar por
uma restauração antes de ser doado ao museu.
Segundo Pozolli, o exemplar que pertence ao acervo é o mesmo que,
durante uma corrida em circuito de rua em São Paulo, se envolveu em um
acidente com oito vítimas fatais na Avenida Brasil em 1936. "É o mesmo
exemplar, mas juntou-se algumas outras peças que se perderam por conta
do acidente. Pertenceu à corredora francesa Helle Nice antes de ser
parte do acervo. Tem um valor histórico enorme", diz.
Um Packard, ano 1939, também faz sucesso entre os modelos. O veículo
pertenceu ao governo de Minas Gerais e foi usado em novembro de 1968
para servir o príncipe Phillip, duque de Edimburgo, durante visita da
família real a São Paulo. "O próprio Roberto Lee usou o veículo para
transportar o duque. Esse carro, ao longo dos anos, foi totalmente
deteriorado, mas é muito valioso também".
Além deles, o acervo também conta com Cadillac, Simca, Alfa Romeo Coloniale, entre outros.
Prefeitura negocia com família o prédio que abrigava o
museu na cidade (Foto: Carlos Santos/G1)
História
O Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas foi fechado em 1993, após
funcionar por quase 30 anos em Caçapava, abrigando uma coleção que
exibia exemplares raros do automobilismo mundial.
Inicialmente, o museu foi fundado em 1963 em São Paulo, mas no ano
seguinte foi transferido para a Fazenda Esperança em Caçapava. O museu
surgiu de uma coleção particular de automóveis e outras peças mecânicas
adquiridas pelo empresário Roberto Eduardo Lee, desde 1948.
Com um acerco de 200 veículos, o museu se tornou referência como um dos
principais do gênero na América Latina e atraiu colecionadores e
visitantes interessados em automobilismo.
Com a morte de Roberto Lee, em 1975, o espaço ainda continuou aberto
até 1993, quando foi fechado definitivamente. Como ficou sem manutenção,
o acervo começou a se deteriorar. Os carros que não pertenciam a
Roberto Lee, porque faziam parte de coleções particulares que estavam no
local em regime de comodato, começaram a ser retirados do local por
seus proprietários.
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