Compra foi antecipada devido a exigência de nova tecnologia em 2012.
Enquanto os carros alcançaram recorde de vendas no Brasil, o segmento
de caminhões vive um ano atípico. Os emplacamentos caíram 30,89% em
agosto, na comparação com um ano atrás, de acordo com dados da Federação
Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) divulgados
na última terça-feira (4). A previsão da entidade para este ano é de
que a venda de caminhões caia 19%, para 139.853 unidades.
O mau ano para esse segmento também foi destaque na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre deste ano – que cresceu 0,4% ante o trimestre anterior.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considerou um
"freio" no crescimento industrial o setor de máquinas e equipamentos, o
que inclui, pela classificação do instituto, a produção de caminhões.
O comércio desse tipo de veículo é considerado um termômetro da
produção do país, já que a maior parte das compras de caminhões é
voltada para o transporte do que as fábricas entregam, da produção
agrícola e da construção civil.
Ao falar sobre 2011, o presidente da Fenabrave, Flavio Meneghetti,
lembra o ano em que as vendas de caminhões tiveram um ritmo além do
normal. Isso porque muitos clientes decidiram antecipar as compras - e,
consequentemente, as montadoras aumentaram o ritmo de produção - para
garantir veículos com padrão anterior ao novo Euro 5, exigido pelo
governo brasileiro para motores a diesel a partir de janeiro deste ano.
Em outras palavras, os frotistas quiseram garantir a compra de veículos
mais baratos.
Na análise da Fenabrave, o que mais afetou o setor de caminhões foi a
antecipação "surpreendente" de compra. "Isso foi o que pesou de verdade,
nem foi o crescimento mais lento do PIB do país", destacou Meneghetti
nesta segunda-feira, ao anunciar os dados do setor de agosto. Na visão
da Fenabrave, o setor tende a se recuperar no próximo ano.
Alta nos preços e demissões
A tecnologia, menos poluente, resultou em significativo aumento de
preço para os caminhões. A Ford diz que a alta foi entre 6% e 12%,
variando conforme o modelo. A Iveco fala em 8% a 15% e a Scania, em 10% a
15% de alta, destacando que "foi a líder dos emplacamentos de caminhões
pesados Euro 5 de janeiro a julho de 2012", com 3.275 unidades, "volume
que representou quase 35% do total de 9.275 unidades Euro 5 emplacadas
pelo mercado no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam)".
"A maioria dos frotistas antecipou a compra de caminhões entre o fim do
ano passado e início deste ano. As próprias montadoras passaram a
produzir mais em 2011 para encher os estoques de produtos 'mais
acessíveis'", resume Rebeca de La Rocque Palis, do IBGE.
Os emplacamentos no segundo trimestre começaram com a queda de 9,19% em
abril, sobre o mesmo período do ano passado, acentuada para 27,6% em
junho, na mesma comparação. A produção ficou 23,4% abaixo de 2011 em
abril e chegou à queda de 55,8% em junho, segundo a Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O ritmo menor refletiu nas relações de trabalho. Em julho, a Volvo demitiu 208 de 574 trabalhadores temporários no Paraná "devido à significativa queda nas vendas nos primeiros meses deste ano". Na última sexta, a Mercedes-Benz anunciou que pararia a produção em São Bernardo do Campo (SP) por um dia,
para ajuste da produção à demanda. A expectativa da montadora é de que o
mercado brasileiro de veículos comerciais sofra queda de 20% nas vendas
deste ano.
Ritmo da economia também conta
Para o economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a
baixa na produção de caminhões não pode ser creditada apenas à
antecipação das compras. "[O setor] tem uma característica que é
depender da atividade econômica", destaca. "Acho que a economia
atualmente vende essa ideia de incerteza total."
Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, concorda que o segmento
acompanha muito o crescimento da economia em si e depende da produção
industrial, lembrando que as compras de caminhões, pelo alto valor, são
sempre planejadas com bastante antecedência, diferente da compra de um
carro, por exemplo. "É quase um bem de capital".
Leite acredita que, com o aumento de investimentos, incentivados pelo governo, o segmento deve se recuperar em seis meses.
Na última quarta-feira (29), ao anunciar a prorrogação do IPI para carros,
o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também divulgou a decisão do
governo de estender para até o final do ano o Programa de Sustentação do
Investimento (PSI) do BNDES, com redução dos juros para a compra de
bens de capital e caminhões de 5,5% para 2,5% ao ano.
Renovação no porto de Santos
O porto de Santos (SP) receberá o programa inicial para a renovação da
frota de caminhões no país e, assim, estimular a compra de veículos
novos, especialmente por autônomos. O governo estadual prevê
financiamento de mil caminhões com taxa zero para os veículos pesados
que circulam no porto. As linhas de financiamento serão operadas pela
Desenvolve SP (antigo Nossa Caixa Desenvolvimento), com recursos de R$
45 milhões para equalizar os juros, que seriam de 5,5% ao ano pelo
programa Procaminhoneiro.
De acordo com Marco Antônio Saltini, vice-presidente da Anfavea e
diretor de relações governamentais e institucionais da MAN Latin
America, as reuniões com fabricantes devem começar neste mês e o
pagamento poderá ser dividido em até 96 meses.
Segundo ele, os donos de caminhões que comprovadamente trabalham no
porto poderão negociar o custo de seus veículos como sucata. Dessa
forma, cria-se uma garantia de que os veículos não continuarão em
circulação e nem terão peças reaproveitadas por desmanches.
Saltini ressalta que os volumes de caminhões comercializados no país
neste ano, ainda que fiquem abaixo de 2011, são significativos e superam
e muito os da década de 1990, que eram em torno de 60 mil.
Para o executivo, o grande desafio é descobrir de quanto é, de fato, o
mercado brasileiro de caminhões em volumes. "Há caminhões
comercializados no fim do ano passado que seguiram para as
implementadoras e foram emplacados apenas em abril, por exemplo. Ou
seja, a queda é ainda maior nos últimos meses. Basta ver pela baixa de
45% na produção", observou o executivo no último Congresso da Fenabrave,
no mês passado, em São Paulo.
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