Foi-se o tempo em que assistir ao
horário eleitoral gratuito era motivo de enfado. Os 30 minutos
reservados para a apresentação de propostas políticas que cortavam o
embalo de quem estava vidrado na programação das emissoras de televisão e
de rádio, agora vão além do propósito que os criou e servem de diversão
garantida para toda a família. Pelo menos, no espaço reservado, nesta
eleição, aos aspirantes às vagas de vereador.
Tem os candidatos – literalmente – palhaços, que só podem ter se
inspirado na eleição de Tiririca para tentar uma vaguinha nas câmaras
municipais. Tem as celebridades comunitárias – o músico, o líder do
bairro, o ex-rei Momo, a mulher-fruta e o radialista popular. Tem as
figurinhas carimbadas, que estão na fila para ver se cumprem um mandato
quase vitalício. Tem os parentes desses, que tentam se eleger pegando
carona na popularidade genealógica. Fora os que ninguém nunca se viram
mais gordos, que são hilários – ou porque não levam o mínimo jeito para a
política ou porque chutam o balde mesmo e apostam pesado nas frases de
efeito, nos nomes de legenda esquisitos e nas propostas que não podem
ter outra finalidade a não ser fazer rir.
“Ninguém faz nada mesmo”
O que dizer de um candidato que promete arrumar os próprios dentes, se
for eleito? Justificativa: é a proposta de campanha para melhorar a área
da saúde. A dele, no caso. O estiloso que proclama que a população tem o
direito de ser fashion na saúde, na educação e na cultura faz mais que
impressionar por seus trejeitos. Traz à tona a pergunta: ser fashion
nessas áreas significa o que mesmo, candidato?
Quando entrevistados – sempre há uma coluna de jornal, revista ou site
com foco nessas pérolas – todos eles, em coro, juram de pés juntos que
levam política a sério. Das duas, uma: ou a intelectualidade do povo
está tão fatalmente subestimada que toda essa encenação é até aplaudida,
ou o próprio povo, cansado de tudo o que já viu no campo da politicagem
até aqui, foi para o outro lado da tela tentar ganhar a vida como os
vários exemplos que já presenciou. E o pior: as tentativas dão certo a
cada eleição. O índice dos tais votos de protesto aumenta cada vez mais,
junto com essas aparições ridículas.
No contexto, difícil é eleger o que é o pior: o argumento do “Rouba,
mas faz” ou as desculpas do tipo “Ninguém faz nada mesmo. Mas, pelo
menos, esses são sinceros”.
Texto de Taís Helena Soares Brem tirado do Observatório da Imprensa
Texto de Taís Helena Soares Brem tirado do Observatório da Imprensa
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