Relatório aponta os erros da Peugeot que teriam contribuído para a necessidade de reestruturação da empresa; plano prevê cortes de 8.000 empregos no país
São Paulo - No meio de julho, a Peugeot anunciou na França que deveria
cortar 8.000 postos de trabalho e fechar uma fábrica no norte do país
até 2014. O plano causou chiadeira: na época, o presidente francês
François Hollande chegou a taxá-lo de inaceitável. A posição parece ter
sido suavizada: ontem o governo divulgou um relatório em que afirma que
"a reorganização industrial e o corte de empregos não é contestável,
infelizmente".
Mas o texto não deixa de fazer ressalvas ao plano de investimentos
tocado pela companhia ao longo dos anos. "Provavelmente, a empresa está
pagando pelo seu tamanho modesto, resultante de um despertar tardio para
a importância dos mercados emergentes", diz um trecho do relatório,
assinado por Emmanuel Sartorius e encomendado pelo ministro da
Indústria, Arnaud Montebourg. "Enquanto os concorrentes começaram uma
expansão internacional a partir do final da década de 1980 e início da
década de 1990, a Peugeot não dedicou os mesmos recursos para a tarefa."
Além da falta de investimento nas economias emergentes, confira outros
três erros estratégicos da Peugeot que teriam, segundo o relatório do
governo francês, contribuído para levar a empresa à encruzilhada de
hoje:
Interesses familiares
Com 25% da companhia e 38% do poder de voto, a família Peugeot teria,
na visão do governo, priorizado a distribuição de dividendos e a
recompra de ações da companhia - o relatório estima que entre 99 e 2011 a
montadora tenha reservado 6 bilhões de euros aos objetivos. Como
resultado, o foco na expansão global teria ficado de lado.
Em comunicado, a Peugeot sustentou que a política não teria afetado de
nenhuma forma seus investimentos nos negócios, que teriam ficado na casa
de 39 bilhões de dólares entre 2000 e 2011.
Independência ao invés de crescimento
No primeiro semestre, a empresa registrou um prejuízo de 819 milhões de
euros. Sua exposição excessiva ao mercado europeu - que não anda
exatamente bem das pernas - teria contribuído sobremaneira para o
resultado.
De acordo com o relatório do governo francês, a Peugeot "parece ter
falta de ambição global". A companhia, que já ocupou o segundo lugar em
vendas de carros no Velho Continente, está na atual oitava posição. Para
o governo, a insistência da montadora em manter sua independência ao
invés de buscar um parceiro para consolidar sua posição
internacionalmente teria cobrado seu preço.
Neste ano, a Peugeot firmou uma parceria com a General Motors fora dos
Estados Unidos. Mas sua rival Renault já teria abraçado estratégia
semelhante com japonesa Nissan há mais de uma década. Em resposta, a
companhia sustentou que até 2015, metade de suas vendas serão feitas
fora da Europa.
A polêmica planta de Madrid
A Peugeot planeja encerrar as atividades de uma fábrica em
Aulnay-sous-Bois, norte da França. A investida marcará o primeiro
fechamento de uma planta de carros em 20 anos no país.
Embora não se mostre contrário à decisão, o relatório do governo
questiona por que a unidade de Madrid não teria sido considerada para o
"sacrifício". Segundo o texto, a planta espanhola teria inúmeras falhas,
como a baixa capacidade de produção e o fato de ser distante dos
fornecedores.
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