A corrida às concessionárias na última semana de agosto -- e o subsequente recorde de vendas (leia mais aqui)
-- se explica pelo receio do fim dos incentivos. Afinal, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, sempre negava a possibilidade de prorrogação,
embora acrescentasse que era sua posição "no momento". O desconto do
IPI, em teoria, vai até 31 de outubro, porém continuará mesmo até 31 de
dezembro.
A dúvida da coluna é se, em outubro, começará o escalonamento da
redução ou apenas no final do ano. Esse filme já foi visto e dependerá
do nível das vendas até lá. O resultado excepcional do mês passado vem,
em parte, de demanda auto-reprimida desde abril, quando começaram
rumores de que o IPI ia baixar.
ALTA ESCONDE PROBLEMA
Extrapolar a barreira de 400 mil carros vendidas em um único mês,
enquanto o crescimento do país patina em torno de 0,5% ao ano, são
dessas coisas típicas do Brasil. Agosto, ajudado também por ser o mês
mais longo do ano, com 23 dias úteis, bateu recordes: 420 mil veículos
(incluindo caminhões e ônibus) comercializados, 28% acima de agosto de
2011 e 5,5% superior no acumulado dos sete primeiros meses.
A produção, também recorde, de 329 mil unidades, no entanto, cresceu
apenas 1% (mês contra mês). No acumulado, 7% de queda. Não é bom sinal
por demonstrar que as exportações em baixa deixam de gerar empregos
aqui. Atualmente, menos de 15% da produção vai para o exterior, quando o
ideal seria 25%, no mínimo.
Boa parte da falta de competitividade deve-se ao real valorizado, mas
os custos elevados só agora começam a ser enfrentados com a anunciada
expansão da infraestrutura e menos impostos sobre energia elétrica.
Anteriormente, a carga fiscal sobre a mão-de-obra havia sido levemente
aliviada.
FÓRMULA MÁGICA
Essas manobras fiscais funcionam melhor aqui porque o Brasil sofre a
maior carga tributária sobre veículos no mundo -- a União perde alguma
receita direta, de fato (Estados e municípios, ao contrário, ganham),
mas graças ao feito multiplicador sobre o crescimento da economia acaba
recuperando com alguma folga.
Se a as vendas internas de veículos crescerem mesmo 5% em 2012, como a
maioria dos analistas admite, terão um impacto de até 0,7% sobre o PIB
brasileiro, soma de tudo o que se produz e consome. Portanto, além da
qualidade dos empregos na indústria automotiva (salários mais benefícios
voluntários), o governo acaba sendo pragmático: tem uma fórmula e sabe
que funciona.
No cenário atual, os estoques totais de 19 dias, no final de agosto,
provavelmente são os menores em nível histórico. Não é bom, por diminuir
as opções do consumidor e seu poder de barganha na hora da compra. Na
realidade, ocorre uma distorção estatística quando há súbitos movimentos
de alta demanda, e agora em setembro os estoques voltarão a subir.
2012 VAI BEM, MAS E 2013?
Resta saber o que acontecerá em 2013. O movimento de antecipação de
compras este ano prejudicará as vendas no próximo? Em geral isso
acontece no exterior, em programas de renovação de frota, ou mesmo aqui e
agora com o mercado de caminhões, que desabou depois das compras
adiantadas de 2011. Os otimistas acreditam que o crescimento do PIB do
próximo ano dará sustentação ao mercado. Certo, a trajetória deve se
manter em alta. Mas de quanto será, é cedo para prever.
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