quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Recorde de vendas leva redução do IPI até dezembro e abre dúvidas para 2013



  A corrida às concessionárias na última semana de agosto -- e o subsequente recorde de vendas (leia mais aqui) -- se explica pelo receio do fim dos incentivos. Afinal, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre negava a possibilidade de prorrogação, embora acrescentasse que era sua posição "no momento". O desconto do IPI, em teoria, vai até 31 de outubro, porém continuará mesmo até 31 de dezembro.

A dúvida da coluna é se, em outubro, começará o escalonamento da redução ou apenas no final do ano. Esse filme já foi visto e dependerá do nível das vendas até lá. O resultado excepcional do mês passado vem, em parte, de demanda auto-reprimida desde abril, quando começaram rumores de que o IPI ia baixar.


ALTA ESCONDE PROBLEMA
Extrapolar a barreira de 400 mil carros vendidas em um único mês, enquanto o crescimento do país patina em torno de 0,5% ao ano, são dessas coisas típicas do Brasil. Agosto, ajudado também por ser o mês mais longo do ano, com 23 dias úteis, bateu recordes: 420 mil veículos (incluindo caminhões e ônibus) comercializados, 28% acima de agosto de 2011 e 5,5% superior no acumulado dos sete primeiros meses.

A produção, também recorde, de 329 mil unidades, no entanto, cresceu apenas 1% (mês contra mês). No acumulado, 7% de queda. Não é bom sinal por demonstrar que as exportações em baixa deixam de gerar empregos aqui. Atualmente, menos de 15% da produção vai para o exterior, quando o ideal seria 25%, no mínimo.

Boa parte da falta de competitividade deve-se ao real valorizado, mas os custos elevados só agora começam a ser enfrentados com a anunciada expansão da infraestrutura e menos impostos sobre energia elétrica. Anteriormente, a carga fiscal sobre a mão-de-obra havia sido levemente aliviada.

FÓRMULA MÁGICA
Essas manobras fiscais funcionam melhor aqui porque o Brasil sofre a maior carga tributária sobre veículos no mundo -- a União perde alguma receita direta, de fato (Estados e municípios, ao contrário, ganham), mas graças ao feito multiplicador sobre o crescimento da economia acaba recuperando com alguma folga.

Se a as vendas internas de veículos crescerem mesmo 5% em 2012, como a maioria dos analistas admite, terão um impacto de até 0,7% sobre o PIB brasileiro, soma de tudo o que se produz e consome. Portanto, além da qualidade dos empregos na indústria automotiva (salários mais benefícios voluntários), o governo acaba sendo pragmático: tem uma fórmula e sabe que funciona.
No cenário atual, os estoques totais de 19 dias, no final de agosto, provavelmente são os menores em nível histórico. Não é bom, por diminuir as opções do consumidor e seu poder de barganha na hora da compra. Na realidade, ocorre uma distorção estatística quando há súbitos movimentos de alta demanda, e agora em setembro os estoques voltarão a subir.

2012 VAI BEM, MAS E 2013?
Resta saber o que acontecerá em 2013. O movimento de antecipação de compras este ano prejudicará as vendas no próximo? Em geral isso acontece no exterior, em programas de renovação de frota, ou mesmo aqui e agora com o mercado de caminhões, que desabou depois das compras adiantadas de 2011. Os otimistas acreditam que o crescimento do PIB do próximo ano dará sustentação ao mercado. Certo, a trajetória deve se manter em alta. Mas de quanto será, é cedo para prever.

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