A General Motors estima que o mercado brasileiro de automóveis e
comerciais leves deve crescer 3% no segundo semestre sobre a fraca
primeira metade do ano, encerrando 2012 em leve alta, apesar da
perspectiva de queda divulgada pelos concessionários de veículos.
Na terça-feira (3), a associação de distribuidores de veículos,
Fenabrave, reduziu suas projeções para as vendas de automóveis e
comerciais leves neste ano, de alta de 3,5% para queda de 0,4%. Se
confirmada, será o primeiro recuo anual de vendas desde 2004.
"Não concordo com essa previsão. A indústria praticamente zerou a conta
no primeiro semestre, o pico da inadimplência já passou e devemos ter
menos notícias negativas da Europa, que vinham afetando a confiança das
pessoas", disse o vice-presidente da GM do Brasil, Marcos Munhoz.
"O segundo semestre tem tudo para crescer 3% sobre o semestre passado, o
que vai dar no ano um crescimento entre 1% e 1,5%", acrescentou.
Depois de um primeiro semestre em que o setor acumulou queda de vendas
que obrigou a indústria a reduzir produção e o governo a cortar o
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos até o final de
agosto, Munhoz vê indícios de retomada da atividade, apoiada também em
queda de importações.
"Se você vai ter um mercado que vai crescer 1,5% com uma forte
desaceleração das importações, a produção tem de acompanhar", disse o
executivo.
"Além disso, a Argentina deve ter vendas de 850 mil carros, o que é um
número extraordinariamente grande. E o grande fornecedor da Argentina é o
Brasil", afirmou Munhoz, lembrando ainda que o Brasil contará até o
final do ano com início de produção de duas fábricas, da Hyundai e da
Toyota, em São Paulo.
Ele evitou, porém, afirmar se a GM, que no Brasil opera com a marca
Chevrolet, defenderá uma manutenção do corte do IPI após o final de
agosto. "O governo está fazendo esse estímulo porque a economia precisa.
Mas do lado da indústria, três meses é pouco. O que eu imagino que o
governo irá fazer é tomar a temperatura de três em três meses e decidir
se as medidas estão funcionando ou não".
MERCADO DECIDE
Apesar da perspectiva de melhora de produção nos próximos meses, Munhoz
afirmou que "depende do mercado" a manutenção de postos de trabalho na
fábrica em São José dos Campos (SP), que, dos nove modelos novos que a
montadora lançará no país entre 2011 e 2012, recebeu até agora apenas a
nova picape S10.
Entre os modelos atualmente produzidos pela unidade estão a Meriva e a Zafira, que estão sendo substituídos pela recém-lançada Spin, veículo montado em São Caetano do Sul (SP).
"O que tem de concreto foram os dois PDVs (Programa de Demissão
Voluntária) que fizemos lá até agora, este ano. Quem abre ou fecha linha
de produção é o mercado. Zafira e Meriva vão ser produzidas enquanto
tiver mercado", disse. No entanto, UOL Carros apurou que estes dois modelos serão encontrados pelo consumidor no máximo até o final do ano.
No primeiro PDV, a montadora teve adesão de cerca de 200 funcionários; o
segundo, encerrado na terça-feira (3), ainda não tinha resultado
apurado pela GM.
Nesta semana, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
afirmou que a montadora poderia fechar a linha de produção MVA da
fábrica -- que além da Meriva e da Zafira, produz os compactos Corsa e
Classic -- demitindo até 1.500 funcionários. A fábrica emprega cerca de
7.500 trabalhadores.
"Essa fábrica tinha dois turnos e agora só tem um [desde meados de
junho]. Não adianta fazer mais PDV lá, não dá para fazer isso a cada 15
dias. Agora, se o mercado disser que não quer mais Zafira e Meriva,
teremos um problema", disse Munhoz ao ser perguntado se a GM planeja
cortes significativos de vagas na unidade.
Segundo dados da Fenabrave, neste ano até junho, Meriva e Zafira estão
entre os veículos mais vendidos de suas categorias, com licenciamentos
de 8.035 e 2.990 unidades, respectivamente, num total emplacado pela GM
de 290,5 mil veículos. Em 2011 foram, 10,6 mil vendas para Meriva e 3,3
mil para Zafira.
O executivo afirmou que a montadora não está desrespeitando acordo com o
governo de não demitir em troca da redução do IPI obtida pelo setor.
Segundo ele, a empresa tem um "desbalanceamento" de mão-de-obra entre
fábricas no país.
"Em São Caetano admitimos 1.700 funcionários entre o fim de 2011 e este
ano para produção do Cruze, Cobalt e Spin. Poderíamos fazer novos
produtos em São José dos Campos, como a Spin, que foi negociado com o
sindicato três anos atrás, mas não chegamos a um acordo para fazer o
produto lá", acrescentou.
ESTRATÉGIA
A GM finaliza neste ano o plano de investimento de R$ 5 bilhões
iniciado em 2008 e que gerou lançamento de sete novos veículos no país
nos últimos 12 meses, com mais dois previstos até o final do ano: o
compacto Ônix e o utilitário Blazer.
Munhoz não comentou se os planos para o próximo período demandarão
menos recursos, após a forte série de lançamentos recentes focados em
modelos mais equipados. Mas ele afirmou que a estratégia da empresa é
continuar mantendo uma linha "completa" de automóveis no país, o que
continuará exigindo "muito investimento" em meio à competição ferrenha
de novos produtos de montadoras estabelecidadas no país e de novas
marcas, como a chinesa JAC.
Atualmente a GM vende 20 linhas de produtos no Brasil, ocupando a
terceira posição no ranking de licenciamentos, atrás de Volkswagen e
Fiat.
Na avaliação de Munhoz, com os novos lançamentos, a GM poderá elevar
sua participação de mercado, que no acumulado do primeiro semestre foi
de 17,8% ante nível de 21,5% em 2008.
"Erramos nossas previsões de vendas em todos os últimos lançamentos. Em
todos os casos vendemos muito mais do que prevíamos", disse o
executivo, citando o caso do sedã compacto Cobalt,
cuja projeção inicial de licenciamentos era de 3.500 unidades por mês,
mas está registrando média de quase 6.000 unidades mensais.
Com Redação
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