Rio+20 simboliza oportunidade de engajamento para marcas
Evento realizado este mês aumenta o
destaque de empresas como Natura, CPFL Energia e Walmart, que dedicam
esforços para incluir a preocupação sócio-ambiental em seu planejamento
Ao assumir compromissos diante de causas relevantes para seus
stakeholders e, desta forma, concretizar plataformas estruturadas de
atitude, uma marca não apenas dá um passo à frente na tangibilização de
suas crenças e promessas, mas também amplia seu potencial de
engajamento.
Com maior frequência, a necessidade de criar vínculos com diferentes
público em torno de um propósito compartilhado mostra-se como algo
mandatório para as corporações. E, quando estas questões são de largo
impacto, esta demanda torna-se ainda mais evidente – como é o caso, por
exemplo, do universo temático da Rio+20.
Muito se fala sobre a articulação governamental ao redor da
conferência, mas ações que integrem diferentes setores são fundamentais
para que o sucesso do encontro seja pensado em um patamar superior.
Se imaginássemos uma tag cloud para representar os primeiros anos do
século XXI, a palavra “sustentabilidade” apareceria em letras garrafais.
O termo está por todos os lados, da reunião de condomínio às decisões
de Estado, mas sua onipresença ainda está longe de se traduzir em uma
atuação organizada por parte das empresas, que têm papel decisivo neste
processo. A realização da Rio+20, entre 13 e 22 de junho, é uma
tentativa de cobrir este e outros lapsos, aprofundando o debate e a
necessidade de engajamento entre Estado, corporações e sociedade civil.
O encontro marca duas décadas da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) e pretende lançar uma
perspectiva consistente para os próximos 20 anos. Entender quais são as
lacunas na implementação de ações sustentáveis e apontar alternativas de
atuação para cada agente da sociedade é um dos desafios da conferência.
Além de avaliar o que foi feito até agora, o encontro convoca governos,
ONGs e empresariado a participar das discussões que vão determinar a
agenda desta nova fase.
Para isso, serão abordados dois temas principais: “Economia Verde no
Contexto do Desenvolvimento Sustentável e da Erradicação da Pobreza” e
“Estrutura Institucional para o Desenvolvimento Sustentável”. A
participação das empresas nas discussões é fundamental não só pelo
aporte que os grupos podem dar ao plano de desenvolvimento, mas porque
os debates devem indicar caminhos sobre como fazer negócios de uma
maneira mais consciente – e por que não, mais lucrativa – daqui para
frente.
“As empresas estão gradualmente mudando seus processos produtivos para
ser mais eficientes e podem fazer muito mais desde que as condições
locais e globais sejam mais favoráveis, seja com incentivos por meio de
regulação das atividades mais sustentáveis, seja com a retirada de
incentivos àquelas atividades que não são sustentáveis”, afirma Henrique
Leal, gerente-executivo do Instituto Ethos, uma das instituições mais
ativas entre as ONGs brasileiras no engajamento em torno da conferência.
No último ano, o Ethos elaborou um conjunto de propostas para a
implementação do desenvolvimento sustentável na economia e política
nacionais e globais. O documento foi preparado com a colaboração de seis
grandes empresas – Alcoa, CPFL Energia, Natura, Vale , Suzano e Walmart
– e será atualizado entre 11 e 13 de junho, na conferência anual do
instituto, em São Paulo. Da conferência serão extraídos compromissos
empresariais e sugestões para os 10 temas que o governo brasileiro
escolheu para debater com a sociedade civil entre 16 e 19 de junho, nos
Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, dentro da programação da
Rio+20.
Inovação com valor de mercado
Depois de 40 anos da Conferência de Estocolmo, que inaugurou a série de
encontros mundiais em torno da sustentabilidade, ainda há questões
essenciais que não ganharam a devida atenção por parte do Governo e da
sociedade civil. Uma delas é a implantação de um modelo econômico que
signifique menor impacto ambiental, maior ecoeficiência e redução da
pobreza e das desigualdades. “Todos sabemos que isso depende de inovação
e que inovar não é só descobrir uma coisa nova, é descobrir algo que
tenha valor de mercado, o que é uma atividade típica do mundo
empresarial”, diz o representante do Ethos.
É neste contexto que começam a ganhar destaque empresas que dedicam
esforços a incluir a preocupação sócio-ambiental em seu planejamento. A
CPFL Energia, por exemplo opta pela geração de energia renovável e chega
a gerar mais de 30 MW por quilômetro quadrado de área inundada. Já a
Natura se destaca por buscar o menor impacto possível na produção e por
investir em uma política de geração de valor para as comunidades que
preservam os insumos utilizados em seus produtos.
Outra companhia que não está mais na fase de gestão de riscos e já
consegue inovar para compartilhar valor com a sociedade é o Walmart, que
desenvolveu lojas verdes nas quais os conceitos de redução de materiais
e destinação de resíduos são aplicados de forma modelar. “O país
precisa de empresas
responsáveis
socialmente e ambientalmente que não estejam aqui só para realizar o
negócio, mas sim para contribuir para o desenvolvimento. Por isso, nosso
plano de negócios e estratégia de sustentabilidade caminham sempre em
paralelo”, afirma Henrique Rzezinski, vice-presidente para assuntos
corporativos da BG Brasil.
A multinacional inglesa de petróleo e gás natural se prepara para
apresentar, na Rio+20, um programa de ensino que envolve ciência,
tecnologia, engenharia e matemática e deve ser aplicado em instituições
de ensino brasileiras, em parceria com secretarias de educação. A
empresa também investiu US$ 100 milhões em bolsas de estudos do programa
Ciência sem Fronteiras, que o Governo Federal implantou neste ano para
promover o intercâmbio de alunos em instituições estrangeiras.
Avaliar esses progressos já realizados e buscar um comprometimento mais
massivo do empresariado com a agenda sustentável é um dos focos do
Fórum de Sustentabilidade Corporativa da Rio+20. Sob o tema “Inovação e
Colaboração para o Futuro que Queremos”, o fórum promovido pelo Pacto
Global das Nações Unidas espera reunir 2 mil representantes em workshops
e mesas-redondas para tratar de temas como Economia e
Finanças
do Desenvolvimento Sustentável; Energia e Clima; Urbanização e Cidades;
Água e Ecossistemas; Agricultura e Alimentação e Desenvolvimento
Social.
Economia verde pela erradicação da pobreza
No Brasil e em outros países em desenvolvimento, a busca pela “economia
verde” é indissociável do desafio da erradicação da pobreza e da
redução da desigualdade social. “As grandes empresas que vão sobreviver a
essa prova de consolidação são aquelas que conseguirem integrar na sua
gestão a maneira de fazer seu negócio à maneira de se relacionar com a
sociedade. Às vezes um grupo investe milhões em um projeto
no campo social, cultural, ou ambiental, mas não cuida do impacto que
seu negócio gera no meio ambiente”, avalia Fernando Rossetti,
secretário-geral do GIFE – Grupo de Instituições, Fundações e Empresas.
Com a missão de difundir conceitos e práticas do uso de recursos
privados para o desenvolvimento sustentável, o GIFE conta com 142
associados de origem empresarial, familiar, independente e comunitária
que, juntos, investem cerca de R$ 2 bilhões por ano na área social.
Deste investimento, o setor que mais ganhou atenção na última década foi
o meio ambiente, que tem tido seus recursos duplicados a cada dois
anos.
Uma das expectativas tanto do GIFE quanto do Instituto Ethos em relação
ao Fórum de Responsabilidade Corporativa da Rio+20 é a definição de
bases mais sólidas para a inovação e o
incentivo
às parcerias público-privadas. O entendimento geral consiste na ideia
de que se faz necessário um marco regulatório mais favorável para que as
empresas invistam mais sem perder competitivdade.
“Quando falamos de política industrial, o elemento sustentabildiade tem
que estar presente, inclusive por uma questão de competitividade do
país e do seu setor industrial. O Brasil possui posição privilegiada
para ser não só protogonista como líder dessa nova economia, contando
com credenciais que são diferenciais competitivos aptos para se tornarem
negócios verdes”, aponta Henrique Leal.
Dentre essas “credenciais” brasileiras está o maior potencial de
biodiversidade do planeta e uma matriz energética equilibrada, com mais
de 80% de sua produção gerada por fontes renováveis, além de um enorme
potencial eólico, solar, de mares, de água doce e de agro-negócios.
“Qualquer produto brasileiro já é mais sustentável do que um europeu só
por ter sido fabricado com uma matriz elétrica desta qualidade. O Brasil
precisa saber capitalizar isso, avançar nessa direção e ser líder de
produtos sustentáveis para o mundo”, resume.
*Por Maria Lutterbach. Esta reportagem foi publicada originalmente no portal Com:Atitude, da Edelman Significa, e agora no Mundo do Marketing de acordo com parceria que os dois portais mantêm.
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