O atraso brasileiro em infraestrutura - palavras que muitas vezes são substituídas pelos sinônimos gargalos estruturais ou custo Brasil - pode estar com os dias contados.
Alternativas para viabilizar projetos têm sido criadas pelo governo e estão promovendo grande entusiasmo, não só entre a equipe econômica de Dilma Rousseff, mas também entre os empresários.
De acordo com a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), seriam necessários anualmente R$ 180 bilhões em investimentos até 2015 para que o país "tirasse o atraso" no setor.
No entanto, a conta que há alguns anos parecia impossível de fechar, hoje pode até mesmo ser ultrapassada com o incentivo dado à iniciativa privada de financiar seus próprios projetos por meio da emissão de dívida no mercado de capitais.
Ou seja, hoje existem fontes de financiamento suficientes para o setor. Resta saber se haverá demanda, por se tratar de uma área que depende de aportes grandiosos, mas que tem retorno demorado. Muitas empresas reclamam da falta de planejamento do governo nas licitações, em questões de licenciamentos e da falta de avaliações sobre os retornos para os investidores. Além disso, a qualquer sinal de crise os investimentos são postergados.
De acordo com Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), este ano R$ 50 bilhões devem ser levantados junto ao mercado de capitais para financiar os projetos. O braço de investimentos do banco estatal já possui R$ 10 bilhões na "gaveta" para aportar nas companhias.
"O BNDESPar trabalhará para alavancar o mercado. Esperamos que a cada R$ 1 do BNDES, o mercado coloque outros R$ 4", comenta.
Segundo Fernando Camargo, diretor da LCA Consultores, apenas os setores de transporte e saneamento consumirão R$ 65 bilhões do total de R$ 180 previstos pela Abdib. Já a exploração do pré-sal pode necessitar de montantes superiores a R$ 70 bilhões por ano.
"No total, quase 5% do PIB tem que ser investido anualmente. E não é uma questão de necessidade, é urgência", diz o consultor.
Com as diretrizes do Planalto de investimentos de cerca de R$ 40 bilhões este ano em infraestrutura, além dos R$ 60 bilhões financiados pelo BNDES, outros R$ 80 seriam arcados pelas Parcerias Público Privadas - as PPPs - e pelas debêntures de infraestrutura.
Dois bancos estrangeiros, que estão assessorando grandes companhias na emissão das debêntures de infraestrutura, indicam que os setores de saneamento e de transportes, principalmente portos e rodovias, estão no centro da discussão.
Para Celso Grisi, presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, os maiores parceiros na empreitada podem ser os investidores estrangeiros. Segundo ele, há interesse no mercado internacional em financiar os projetos criados pela iniciativa privada.
"A emissão de debêntures atreladas a bons projetos é uma alternativa muito interessante para quem busca boa rentabilidade e baixo risco", avalia Grisi.
Os fundos de pensão também estão com o talão de cheques em mãos para investir nos projetos das companhias. Rodrigo Carvalho de Araújo, coordenador da diretoria de investimentos da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), afirma que a carteira de debêntures pode aumentar em até R$ 1 bilhão até o próximo ano. "O que falta são bons projetos."
Segundo Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor privado precisa correr contra o tempo para aproveitar a demanda pelos papéis. "Por muitos anos o Brasil deixou de desenvolver novos projetos. Será preciso um tempo para isto acontecer", diz.
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