Conservar a memória de carros antigos não é missão fácil no Brasil. O
poder público é totalmente omisso e cabe apenas aos abnegados e
colecionadores investir na preservação. Em Brasília (DF), o Museu do
Automóvel está ameaçado de despejo; o de Caçapava (SP), em estado de
abandono e com veículos depenados; o da Ulbra, em Canoas (RS), fechado
por dívidas da universidade que o patrocinava.
Segundo o site AutoClassic, resta uma dúzia deles, a maioria pequenos ou temáticos, basicamente em São Paulo e no Rio Grande do Sul. A alternativa para não deixar morrer o antigomobilismo tem sido exposições públicas regulares ao ar livre. Há mais de 50 delas por ano, de médio e grande portes, onde é possível apreciar o passado que influencia o presente e inspira o futuro.
Este ano se comemorou o 20º Encontro Nacional de Veículos Antigos, no pátio do Tauá Grande Hotel, em Araxá, semana passada. Trata-se de exposição bienal, a mais seletiva entre as realizadas no país, iniciada em 1984. Organizado pelo Veteran Car Club, de Minas Gerais, o Brazil Classics Fiat Show 2012 reuniu cerca de 300 carros. Incluiu desfile de veteranos pelas ruas da cidade e leilão de Ferrari 365 1970, por R$ 400 mil, a Fusca 1969, por R$ 11 mil.
Troféu Roberto Lee, para o melhor da exposição, ficou com o Rolls-Royce Silver Ghost 1923, de Rubio Ferreira, fabricado em Springfield, EUA (não na Inglaterra). Troféu Lalique foi para a coleção de Cadillacs, de Nélson Rigotto. Entre carros nacionais, prêmio ao Brasinca GT 1965, de Otávio de Carvalho.
Especialista em história do automóvel, o americano-brasileiro Rexford Parker destacou alguns em nível internacional: "Maravilhosos: Aston Martin DB2, 52; Cadillac Town Car by Fleetwood, 25 e Rolls-Royce Phantom 5 James Young Touring Limousine, 64. Mais fiel ao modelo original do que o próprio 'Best of the Show' e do mesmo dono, o espetacular Packard Twelve Dietrich Club Sedan, 33".
Embora sempre atraente, a exposição de 2012 perdeu um pouco de brilho em relação à de 2010, talvez pelo tempo chuvoso ter gerado desistências. Seria muito bom rever, se não todos, pelo menos a maioria dos 19 vencedores anteriores, que mereceriam um espaço à parte. Ferdinand Alexander Porsche, desenhista do 911 morto esse ano, recebeu homenagem e localização nobre dos dez modelos expostos.
Og Pozzoli, 82 anos, um dos maiores colecionadores do Brasil com mais de 170 carros, também reverenciado em Araxá, se preocupa em perpetuar sua obra. "Sei que um museu permanente e aberto ao público seria o melhor legado. Vários dos meus carros têm ligação íntima com a história política e econômica do país. O recinto de exposição precisaria ser grande e de fácil acesso, a exemplo da área portuária em revitalização que surge no Rio de Janeiro", ressaltou o engenheiro de família de origem potiguar, nascido em Itaboraí (RJ), do alto de sua simpatia e longos bigodes brancos.
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