Casal saiu do Feirão da Caixa sem financiamento; apesar do juro menor, baixa renda ainda tem dificuldades em adquirir um imóvel
SÃO PAULO - Nem a redução de juros dos financiamentos imobiliários
trouxe ao casal Rosângela Alexandre Lopes Nascimento, 46, e José
Cerqueira Nascimento, 73, a tão sonhada casa própria. O motivo: José
ultrapassou o limite de idade atendido pelos financiamentos da Caixa
Econômica Federal. "Quando souberam a idade do meu marido, eles
(atendentes da Caixa) disseram que nem adiantava procurar, que o banco
não financiava por causa de idade dele", disse.
"Você tenta ir atrás do sonho, correr atrás dos objetivos, mas não
consegue", lamentou Rosângela, que pediu um dia de folga no emprego de
segurança para visitar nesta sexta-feira, 18, o 8º Feirão da Casa
Própria da Caixa em São Paulo. O evento acontece até domingo e reúne
217,5 mil ofertas de imóveis novos e usados.
Casados desde janeiro, eles deixaram a casa dos parentes para morar
sob o mesmo teto. Os parcos recursos possibilitaram apenas o aluguel de
um imóvel, mas a incerteza da moradia que não é própria tira o sono do
casal. Moradores do Itaim Paulista, na zona leste da capital paulista,
eles gostariam de comprar um imóvel na região onde residem, se possível
100% financiado. Os ganhos mensais de Rosângela e José somam cerca de R$
2 mil e eles calculam que uma parcela de até R$ 450 caberia no bolso.
Em 2002, José teve largar o emprego de motorista e se aposentar por
invalidez, por conta de um desgaste excessivo no fêmur.
Apesar das taxas menores e de programas com o Minha Casa, Minha Vida,
o mercado de imóveis ainda é inacessível para uma parcela da população
de baixa renda. Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) aponta que, em São Paulo, 60% das famílias apresentam pelo menos
um obstáculo para comprar um imóvel. Nesses casos, a baixa oferta de
moradias do setor privado a preços acessíveis é a grande responsável
pela situação. "Os déficits habitacionais em São Paulo e no Rio de
Janeiro, em números absolutos, são os maiores do País e estão
concentrados em famílias com renda de R$ 1,5 mil a R$ 1,6 mil", afirma
Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.
Madrugada. Mas no Feirão da Caixa, alguns sonhos
conseguem se realizar e, na busca de um lugar na fila pela moradia, vale
até chegar de madrugada. Foi o que fez o policial militar Carlos
Alberto Buzin, 46. "Eu não sabia como funcionava, então cheguei às duas
da manhã e fiquei dormindo no carro enquanto esperava abrir", diz. "Mas
depois vi que não precisava, era só chegar antes do horário e pegar a
fila".
Mas a "pontualidade" valeu o sonho de assinar o contrato do imóvel
próprio. Buzin conseguiu acertar um contrato com a construtora MRV para a
compra de um apartamento de dois dormitórios em Guarulhos. Dos R$ 150
mil do valor do imóvel, ele financiará R$ 110 mil pela Caixa em 360
parcelas. O juro, que ainda depende de contrato final assinado junto à
Caixa, deverá ser de 4,5% ao ano - Carlos contribui há pelo menos 36
meses ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o que permite
reduzir a taxa ainda mais. Agora, ele poderá deixar o lar dos pais e
morar com a atual companheira, Cristiane de Ângelo Salinas, 35, com quem
se relaciona há cinco anos.
"Eu cheguei a começar o financiamento de um imóvel quando era mais
novo, mas acabei passando o imóvel para frente para uma família que
precisava mais do que eu", conta. Desde então, ele tem morado com a
família.
Projeção igual. Apesar das condições facilitadas com
os juros menores do financiamento imobiliário, a Caixa prevê o mesmo
volume de negócios no Feirão da Casa Própria em São Paulo registrados em
2011. Em números, a projeção é que serão 15 mil contratos e R$ 2
bilhões.
"Mas nossa estimativa é conservadora", afirmou José Urbano Duarte,
vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa. Mesmo assim, Urbano crê
que seja possível ultrapassar esse patamar. O número de visitantes nos
três dias do evento, contudo, deverá ser menor. A Caixa espera que 60
mil pessoas passem pelo Centro de Convenções da Imigrantes, contra 73
mil no ano passado.
(Colaboraram Giovanna Schlüter Nunes e Mariana Congo)
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