Bancos investem para melhorar diálogo com os consumidores por meio do atendimento, enquanto companhias telefônicas mantêm índices baixos de satisfação do público
Há pouco mais de três anos foi criada a Lei do Call Center com o
objetivo de fazer com que empresas que oferecem serviços públicos
regulados por agências federais se adequassem às regras básicas do
serviço de atendimento ao cliente (SAC). De lá para cá, as companhias
telefônicas permanecem no topo das reclamações e os bancos conseguiram
melhorar sua atuação no setor. Um dos termômetros é o ranking do Reclame
Aqui, onde marcas como Claro, Sky, Oi e Tim são as mais apontadas por
mau atendimento.
A
última fiscalização do Procon-SP, realizada em fevereiro de 2012,
autuou 53 companhias que estavam foram das normas. Desde a criação do
decreto nº 6.523, em 31 de julho de 2008, mais de 400 empresas foram
multadas e, apenas nos últimos quatro meses, as corporações verificadas
devem ao governo R$ 700 milhões em multas.
“No primeiro ano, tivemos cerca de 100 empresas autuadas e agora, em
2012, um pouco mais de 50. Isso demonstra uma grande evolução, no
entanto, ainda existem muitas companhias que precisam percorrer este
caminho. O atendimento é deficiente. Em cerca de 90% das ligações que
recebemos, o consumidor já tinha entrado em contato com a empresa, mas
elas não foram capazes de resolver os seus problemas no SAC”, declara
Renan Feracciolli, Diretor de fiscalização do Procon-SP, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Soluções para as principais normas
Com a criação do decreto, as empresas tiveram que se adaptar e oferecer um canal eficiente de diálogo com o consumidor pelo telefone em plena febre das redes sociais. No quesito atendimento, o maior desafio das companhias é comunicar qual o canal mais adequado para cada solicitação e esclarecer porque os problemas devem ser envidados primeiro às empresas e não compartilhados nas redes sociais.
“Sinto que esta lei já foi esquecida, tanto pelas empresas quanto pelos
consumidores, e também pelo governo. As normas não estão sendo
cobradas, não existe uma fiscalização ostensiva em cima do cumprimento
das regras. É impressionante o crescimento no número de reclamações
apenas em função do atendimento do SAC”, diz Mauricio Vargas, Presidente
do Reclame Aqui, em entrevista ao portal.
Entre os pontos principais da lei estão a não solicitação de dados
pessoais, a proibição das transferências de ligações, a geração de
número de protocolo e a gravação de todas as conversas realizadas com os
clientes, além da resolução das demandas em até cinco dias úteis e do
cancelamento de serviço imediatamente após a solicitação. Muitas
empresas, entretanto, esbarram em entraves como o tempo da solução do
problema e as transferências de ligações.
Limitações do decreto
Para o Grupo Itaú, dois pontos no decreto precisam ser revistos para melhorar o funcionamento dos atendimentos. “A limitação das transferências de ligações impediu o ‘jogo de empurra’ do consumidor, mas também formou uma barreira para as transferências efetivas e eficazes. Somos um banco com um portfólio de produtos muito grande e diferente, o que dificulta ter uma pessoa capacitada para responder sobre todos os negócios da empresa de forma aprofundada”, diz Rogério Taltassori, Superintendente de Ouvidoria do Itaú Unibanco, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Na tentativa de se adequar à proposta da lei, a instituição financeira
trabalha com quatro SACs principais (Contas correntes, Cartão de
Crédito, Financiamento de automóveis
e Seguros) e outros menores de atendimentos preferenciais, como cliente
jurídico e investimentos. As ramificações também foram realizadas pelo
banco Bradesco, que possui 11 telefones de atendimento ao cliente
segmentados por assunto a ser tratado.
Outra questão desaprovada pelo grupo Itaú é a ausência da solicitação
de dados pessoais. “Entendemos que o legislador quis desburocratizar o
processo, no entanto, somos um banco e lidamos com valores e contas de
crédito, sem pedir a senha não podemos ajudar o cliente a solucionar seu
problema, pois não teremos certeza se é ele mesmo”, completa
Taltassori.
Mudanças no atendimento
Grande parte das mudanças no atendimento das empresas é reflexo de um novo consumidor mais crítico e esperto. Quando não atendido do jeito que espera, o usuário do serviço recorre ao Procon ou à internet como forma de expressar sua insatisfação. Segundo o portal Reclame Aqui, o número de queixas realizadas apenas sobre o mau atendimento do SAC aumenta a cada ano.
Enquanto em 2009 eram 5.470, em 2010 o número chegou a 15.282 e, em
2011, passou para 35.161. Nos primeiro trimestre de 2012, o site já
registra 12.723 reclamações apenas sobre atendimento. A expectativa, no
entanto, é que o índice de queixas diminua nos próximos anos, pois as
empresas devem apostar no atendimento para se diferenciar cada vez mais
da concorrência.
Em três anos houve transformações significativas em alguns setores do
mercado. No ranking do Reclame Aqui entre 2009 e 2010, o mercado de
telefonia estava no topo das reclamações, seguido pelas lojas virtuais e
bancos. Atualmente, as lojas virtuais ocupam a primeira posição, com
38%, em sequência aparecem, nesta ordem, os setores de telefonia,
eletroeletrônicos, compras coletivas, construtoras e bancos.
As instituições financeiras têm investido na conveniência dos clientes,
o que reflete nos processos de atendimento. Para se adequar ao decreto
de 2008, o Itaú adaptou o tempo do atendimento para 24 horas e passou a
gravar as conversas. A empresa realiza ainda duas pesquisas de
satisfação com os usuários, logo após a utilização do serviço e, em um
segundo momento, faz um levantamento com clientes selecionados.
Em busca da excelência do serviço
Por meio do feedback dos consumidores, o Itaú identifica os seus pontos mais fracos e, como em outros setores, a demora para responder as demandas são as maiores geradoras de insatisfações. O objetivo do banco para os próximos anos é conseguir responder a todas as demandas em primeira instância, sem precisar recorrer aos cinco dias de respostas. A instituição já consegue atender cerca de 90% das demandas no primeiro contato. O resultado, entretanto, não faz com que o Itaú deixe de aparecer no topo da lista de reclamações de atendimento no Procon-SP.
Este ano, o Grupo Itaú já registra aproximadamente 2,7 mil queixas, mas
apenas 11 são referências diretas ao SAC da empresa, em grande maioria
pela demora de cancelamento de serviços. “A disponibilidade de um
serviço que mostra como as empresas não estão realizando bem o
atendimento faz com que se sintam incomodadas. Porque o consumidor tem a
possibilidade de saber quem melhor o recepcionará. A medida ajuda as
marcas a investirem mais no atendimento ao consumidor”, destaca
Feracciolli, do Procon-SP.
A criação do decreto é benéfica para os direitos dos clientes e gera
uma organização no atendimento dos setores regulados, além de trazer um
esclarecimento maior para os consumidores e sobre os prazos para uma
demanda ser atendida. Ainda é muito comum o usuário enfrentar
dificuldades para solucionar seus problemas, mas a resolução está muito
mais nas mãos das empresas do que nas dos agentes reguladores.
“É um absurdo termos que criar leis para que as empresas façam o óbvio
de atender o consumidor no tempo exigido. Isso só acontece no Brasil. Na
Argentina e no Paraguai não existe este tipo de lei e o atendimento das
empresas é muito melhor do que aqui. A própria Telefônica, que é
espanhola, tem um excelente atendimento na Espanha, mas aqui eles não
investem, porque é muito mais barato pagar a multa que o Procon e a
Anatel dão do que realizar melhorias”, ressalta Vargas, do Reclame Aqui.
* Atualizada às 15:21 do mesmo dia.
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