terça-feira, 1 de novembro de 2011

Diretor de Arte não sabe escrever?

No começo dos anos oitenta, eu era editor do Jornal dos Publicitários, do Clube de Criação de São Paulo, e fiquei impressionado com a ausência de textos assinados por diretores de arte. O jornal era escrito quase totalmente por redatores, com uma pequena participação de matérias assinadas por profissionais de atendimento, de mídia e de pesquisa.
 
Então resolvi publicar uma notinha cujo título dizia: “Diretor de arte não sabe escrever”. Como dizia o genial Stanislaw Ponte Preta: “Pra quê, Margarida, pra quê?”. O que recebi de telefonemas de diretores de arte reclamando foi um espanto. Mas, curiosamente, nenhuma reclamação veio por escrito e nenhum escrito foi recebido pela Redação do jornal.
 
Na época, meu ex-parceiro na MPM, o diretor de arte Valdi Ercolani, estava morando em Paris, o que talvez explique a ausência de, pelo menos, um texto lavrado por um profissional das tintas, dos pincéis e das ideias criativas.
 
Hoje, depois de algumas décadas de afastamento involuntário e graças à aproximação de nossos endereços eletrônicos feita pelo jornalista, publicitário e escritor Antônio Torres, acabei de ler, em primeira mão, o terceiro volume da saga do Inocêncio, de autoria do Valdi, com o título “Inocêncio e o início da jornada”.
 
É um livro notável, em que o autor passa os conceitos e valores aprendidos com seu guru, o sábio avô Pietro, que ocupa o lugar do Velho Sábio na mitologia, com sua barba branca e seu conhecimento dos segredos do Cosmo e do significado da Vida, e prepara um jovem para ser guiado por ideais nobres e altruístas.
 
Trata-se de um livro de autoajuda? Sim. No melhor sentido que se pode dar a essa expressão, uma autoajuda motivacional orientadora, que serve de bússola para jovens e adultos que estão buscando e ainda não acharam o seu rumo. E igualmente para aqueles que pretendem manter ou resgatar os ideais que foram deixados no caminho, sem no entanto perder o espírito empreendedor, além dos pais e educadores que procuram formar cidadãos íntegros e amorosos, devidamente ajustados à época em que vivemos.
 
Embora a autoajuda motivacional domine o livro do Valdi, ele tem como pano de fundo uma verdadeira aula da história recente do Brasil, começando pelos acontecimentos políticos que antecederam o suicídio do presidente Getúlio Dornelles Vargas, em agosto de 1954, e depois a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, com o consequente veto dos ministros militares à posse de Jango e em seguida a resistência legalista do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
 
Contribuíram para encorpar a obra do Valdi sua convivência com a família de Luiz Vicente Goulart de Macedo, sobrinho de João Goulart e de Leonel Brizola, em Porto Alegre; com Antônio Mafuz, que foi chefe de gabinete de Manoel Vargas, filho de Getúlio e secretário de Agricultura do então governador do Rio Grande do Sul, Ernesto Dornelles; e com Paulo Richer, engenheiro químico com curso de introdução à energia nuclear no Instituto de Energia Atômica da USP e estágio nos centros nucleares de Mol, na Bélgica, e Saclay, na França. 
 
Vieram dele algumas informações mencionadas no livro, pois Paulo Richer estava em Porto Alegre, convidado por Brizola para participar de um grupo de trabalho sobre energia elétrica e se encontrava no Palácio Piratini quando da renúncia de Jânio e durante os tumultuados dias e noites da resistência legalista liderada por Brizola, que asseguraram a posse de João Goulart na presidência.
 
Valdi, gaúcho nascido numa colônia de pequenos agricultores perto de Jaguari, hoje Nova Esperança, viveu desde os vinte anos até quase seus quarenta anos no exterior, nos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, França e Argélia, trabalhando como diretor de arte e roteirista de filmes, convivendo com povos de diferentes culturas, quando descobriu a existência de uma centelha divina que une cada ser humano de maneira idêntica, dando a ele uma visão realmente globalizada do ser humano, numa época em que ninguém nem sequer sonhava com a existência de algo parecido com a internet.
 
E é essa vivência toda que Valdi derramou nas páginas de sua saga, começando pelos dois primeiros volumes e eclodindo com maturidade neste “Inocêncio e o início da jornada”, publicado pela Editora Selene e com lançamento em São Paulo no dia 1º de dezembro, na Livraria da Vila da Alameda Lorena. É livro que não se pode perder.
Por Juvenal Azevedo, jornalista e publicitário

Nenhum comentário:

Postar um comentário