Empresa dá sentido filosófico à aproximação com formadores de opinião e público interno
A expressão “marketing cultural” traz à mente, em um primeiro instante, shows, espetáculos teatrais ou ações comunitárias com foco em aulas de dança. O termo costuma remeter diretamente ao entretenimento. As palavras mais frequentes de Augusto Rodrigues, responsável e fundador da CPFL Cultura, são, porém, “angústia”, “insegurança” e “vínculos frágeis”. Sociólogo formado pela USP, Rodrigues, que também é diretor de comunicação empresarial e de relações institucionais da CPFL Energia, entende que esses substantivos são características do mundo contemporâneo que precisam ser discutidos.
+ O psicanalista argentino Ricardo David Goldenberg, em 2009, quando debateu o mito do autoconhecimento Crédito: CPFL Cultura / Creative Commons
“Esse episódio trouxe uma nova realidade, global aos executivos”, conta Rodrigues. “Eles se depararam com um novo grau de competitividade no trabalho, ao mesmo tempo que novos desafios apareciam e se ampliavam no planeta todo. Buscamos, então, organizar esse novo mundo para eles.”
No começo dos anos 2000, a outrora denominada Companhia Paulista de Força e Luz passou a trazer para dentro de sua sede, em Campinas (SP), psicólogos, antropólogos, professores de literatura e filosofia para debater sobre a tal nova realidade, instável por natureza.
Nas palavras de Rodrigues: “50% do êxito de uma companhia como a nossa vêm da formação tradicional dos nossos engenheiros. A outra metade está em discutir temas caros a eles, preocupações que estão na sociedade e a instabilizam, como drogas, sexualidade ou a educação dos filhos. Depois percebemos que aquilo poderia ser compartilhado com a comunidade”.
+ O professor da área de comunicação e política Clóvis de Barros Filho, curador da primeira edição do "Café Filosófico" de 2009 Crédito: CPFL Cultura / Creative Commons
Transmitido às 22h do domingo pela TV Cultura e comercializado em DVDs unitários através da Cultura Marcas, o programa tem todas as suas edições disponíveis no site oficial da CPFL. O mesmo ocorre com os demais conteúdos produzidos: Invenção do Contemporâneo, que vai ao ar nas noites de segunda-feira, também na emissora da Fundação Padre Anchieta, e Caminhos da Energia, focado em sustentabilidade ambiental, com transmissão pelo Canal Futura, do sistema Globosat.
A proposta é tão distinta que Rodrigues diz não ver a CPFL Cultura, que completa oito anos mês que vem, como estratégia de posicionamento de marca. “Quando eu trago o Zuza Homem de Mello, o Contardo Calligaris, a Maria Rita Kehl ao programa, não estou pensando na marca. Mas tudo isso leva bons formadores de opinião a terem uma visão favorável da empresa. Não instrumentalizamos o projeto, ele não é feito pela área de marketing da empresa”. De fato, os curadores convidados têm liberdade para chamar os palestrantes. E o “não aparelhamento” da ação cultural pela área de marketing torna-se um fator importante para o sucesso da empreitada.
+ O cubano Pedro Juan Gutiérrez, nome-chave do realismo sujo na América Latina Crédito: Diego Jock / Creative Commons
O Fronteiras do Pensamento, criado em 2006 pela Telos Empreendimentos Culturais em parceria com a Copesul (Companhia Petroquímica do Sul), também tem rendido retorno qualitativo para a Braskem, que adquiriu a Copesul em 2007. Entre os conferencistas, nomes como o do pensador Edgar Morin ou o do escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez.
“A gente se preocupa com o conteúdo, não somos só patrocinadores”, diz Frank Alcântara, diretor de marketing da Braskem. O Fronteiras conta com o apoio de outras nove marcas, inclusive o governo paulista e a CPFL. “Sentimos um retorno muito bom pelas pesquisas qualitativas, não nas quantitativas”.
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