Empresário brasileiro começa a descobrir um mercado de 95 milhões de consumidores com renda familiar de até R$ 1,2 mil
Faz quatro anos que Edcarlos Pereira não sabe o que é feriado ou fim
de semana. Sócio em uma empresa de informática, ele decidiu abrir com a
esposa uma lan house em 2008 no Capão Redondo, em São Paulo. O
plano era incrementar o orçamento com a demanda local por banda larga.
Mas o empresário notou com o tempo uma carência por serviços e produtos
que, para serem acessados, exigiam deslocamentos consideráveis dos
moradores da região.
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Foi assim que ele aumentou seu portfólio. Trabalhando de domingo a domingo, 12 horas por dia, sua lan house
é hoje posto de recarga de bilhete eletrônico para transporte coletivo e
celular pré-pago, agência de turismo e loja de eletrônicos.
“Nosso negócio foi se tornando um centro de conveniência
para a comunidade”, conta o empresário, que fatura R$ 4 mil por mês.
Agora, ele pretende oferecer também aulas à distância.
A história de Edcarlos integra um movimento que começa a
chamar a atenção no Brasil. Depois da explosão de empresas e produtos
voltados para os consumidores da famosa nova classe C, especialistas
alertam para o potencial de crescimento de negócios que pretendem
atender famílias com renda mensal de até R$ 1,2 mil.
“Não é só montar uma empresa e investir no consumo. O
empreendedor precisa entregar um produto que impacte de alguma forma na
vida da pessoa”, afirma Marcel Fukayama, presidente da CDI Lan,
consultoria que auxiliou Edcarlos na expansão do seu negócio.
“As oportunidades com o público D e E são inúmeras. Mas as
empresas ainda subestimam esse segmento, formado por 95 milhões de
pessoas mal servidas”, destaca Luciana Aguiar, sócia-diretora da Plano
CDE, consultoria especializada em baixa renda.
Microcrédito. Alessandra França e Adriene
Garcia, criadoras do Banco Pérola, uma instituição de microcrédito para o
jovem de baixa renda, avançam justamente nessa lacuna de
mercado.Lançada em 2009, a empresa já concedeu 300 empréstimos em
Sorocaba, no interior do Estado. Os valores vão de R$ 300 a R$ 2 mil,
com prazo de quitação de sete meses.
“Nós não exigimos nome limpo. Mesmo assim, temos um índice de inadimplência muito baixo, de 2% ao mês”, afirma Adriene Garcia.
O banco adota a metodologia de grupos solidários para a
liberação do dinheiro. Funciona assim: para uma pessoa acessar o
crédito, precisa associar-se a pelo menos outros três interessados. Caso
um integrante do grupo não consiga saldar o débito, os demais assumem
as prestações.
“Nosso trabalho de divulgação é tímido. Não temos recurso
para atender a demanda, que é muito grande. Mas estamos captando
(dinheiro) para expandir no ano que vem. Também estudamos lançar
franquias para alcançar outras praças”, diz Adriene.
Saúde. Quem já captou tais recursos para
financiar a expansão é Edgar Morito. Com três amigos, ele montou, em
janeiro de 2011, uma empresa que reúne em um portal na internet os
serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Chamado Saútil, o
negócio atraiu investimentos e planeja faturar R$ 2 milhões no ano que
vem.
Basicamente, o site cataloga e torna público, por meio de um
sistema simples de buscas, as unidades de atendimento e exames e
apresenta ainda uma lista de medicamentos gratuitos com os respectivos
pontos de entrega em todos os 5.564 municípios brasileiros.
O serviço é gratuito e destinado à população de baixa renda.
Mas a empresa lucra com a venda de publicidade na área de conteúdo do
site e com o desenvolvimento de produtos para negócios que não oferecem
plano de saúde para os funcionários.
“No ano que vem vamos iniciar nosso e-commerce, com produtos da área de saúde”, diz Edgar Morito.
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