Em entrevista à ProXXIma, fundador da Aceleradora, Yuri Gitahi, avalia papel dos investidores digitais brasileiros
O colunista da ProXXIma Startup, Bob Wolheim,
conversou com Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora e um dos pioneiros do
mundo da aceleração. Na entrevista abaixo, ele avalia o papel dos
investidores digitais brasileiros, aponta possíveis equívocos no
entendimento do mercado – como a falta de foco em receita e cliente – e
esclarece o real conceito de “bolha”.
ProXXIma Startup:
Você fez um post recentemente falando e explicando (aqui) que vivemos
uma bolha de empreendedores por falta de exemplos, capacitação e foco
exagerado em investimentos. O que estamos vivendo não seria um ciclo de
crescimento em que acontecem várias faltas que vão se ajustando
naturalmente?
Yuri Gitahy: O meu trabalho
envolve viagens em ciclos curtos, visitando cidades do norte ao sul do
País em intervalos de poucos dias. Isso ajuda muito a entender como um
assunto específico é interpretado por empreendedores de diferentes
regiões ao mesmo tempo, e o post veio das minhas observações nas viagens
mais recentes. As cinco palavras que mais ouvi do empreendedor digital
típico foram investimento, investidor, aporte, competição e prêmio. O
que me chamou a atenção é que quase ninguém fala "receita" e "cliente.
Isso seria somente um sintoma de inexperiência e faltas a serem
ajustadas, se não fosse a enxurrada de incentivo vinda de todos os lados
empurrando essas cinco palavras mágicas como a solução de todos os
problemas. Há uma bolha de consciência e conhecimento, não de valuation
ou investimento.
ProXXIma Startup: Você é um dos pioneiros da aceleração. Existe uma bolha de aceleradoras também?
Yuri Gitahy:
Bolhas são contextos de exuberância irracional que podem quebrar um
mercado quando estouram. Se todas as aceleradoras do Brasil quebrarem
hoje e ao mesmo tempo, nenhum soluço será sentido no mercado de venture
capital porque as aceleradoras ainda representam pouco capital dentro de
todo o volume transacionado por investidores. Portanto, não — não temos
uma bolha de aceleradoras. Para isso gerar algum impacto, seria
necessário que se tornassem um elo crucial na cadeia de venture capital,
o que pode acontecer em dois a três anos mas ainda não acontece hoje.
O
mesmo não acontece com empreendedores, que gastam um volume absurdo de
tempo com projetos que não irão chegar a lugar algum — mas infelizmente
não estão aprendendo com os erros, pois recebem incentivos de que
trilham o caminho certo. A energia desperdiçada é enorme, e, apesar de o
mercado não quebrar, o impacto negativo desse fracasso na vida de cada
um é muito grande (imagine como o País teria a ganhar com todo esse
esforço direcionado a atividades realmente produtivas?). O culto ao
"empreendedorismo obrigatório" gera muitos candidatos a empreendedores
que demoram anos demais para perceber que não têm perfil para isso.
ProXXIma Startup:
O seu artigo cita os problemas todos que estamos enfrentando. Qual o
outro lado? O que está melhor? O que está mais sólido e bacana? Ou tudo é
bolha na sua opinião?
Yuri Gitahy: Não sei se é
uma questão de melhor ou pior — acontece que a pirâmide de
empreendedores aumentou na base, o que traz muito mais projetos imaturos
do que antes. Isso aumenta o custo para o investidor avaliar cada
oportunidade, e reduz os percentuais de sucesso do mercado como um todo.
Ao mesmo tempo, empreendedores realmente bons estão tocando os negócios
de forma cada vez mais acertada, e apesar de ser uma fatia
percentualmente menor, o número está aumentando— este sim é um bom
sintoma do amadurecimento do mercado.
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