sexta-feira, 30 de novembro de 2012

“Brasil vive bolha de conhecimento, não de investimento”, diz Gitahy


Em entrevista à ProXXIma, fundador da Aceleradora, Yuri Gitahi, avalia papel dos investidores digitais brasileiros


O colunista da ProXXIma Startup, Bob Wolheim, conversou com Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora e um dos pioneiros do mundo da aceleração. Na entrevista abaixo, ele avalia o papel dos investidores digitais brasileiros, aponta possíveis equívocos no entendimento do mercado – como a falta de foco em receita e cliente – e esclarece o real conceito de “bolha”.
ProXXIma Startup: Você fez um post recentemente falando e explicando (aqui) que vivemos uma bolha de empreendedores por falta de exemplos, capacitação e foco exagerado em investimentos. O que estamos vivendo não seria um ciclo de crescimento em que acontecem várias faltas que vão se ajustando naturalmente?
Yuri Gitahy: O meu trabalho envolve viagens em ciclos curtos, visitando cidades do norte ao sul do País em intervalos de poucos dias. Isso ajuda muito a entender como um assunto específico é interpretado por empreendedores de diferentes regiões ao mesmo tempo, e o post veio das minhas observações nas viagens mais recentes. As cinco palavras que mais ouvi do empreendedor digital típico foram investimento, investidor, aporte, competição e prêmio. O que me chamou a atenção é que quase ninguém fala "receita" e "cliente. Isso seria somente um sintoma de inexperiência e faltas a serem ajustadas, se não fosse a enxurrada de incentivo vinda de todos os lados empurrando essas cinco palavras mágicas como a solução de todos os problemas. Há uma bolha de consciência e conhecimento, não de valuation ou investimento.
ProXXIma Startup: Você é um dos pioneiros da aceleração. Existe uma bolha de aceleradoras também?
Yuri Gitahy: Bolhas são contextos de exuberância irracional que podem quebrar um mercado quando estouram. Se todas as aceleradoras do Brasil quebrarem hoje e ao mesmo tempo, nenhum soluço será sentido no mercado de venture capital porque as aceleradoras ainda representam pouco capital dentro de todo o volume transacionado por investidores. Portanto, não — não temos uma bolha de aceleradoras. Para isso gerar algum impacto, seria necessário que se tornassem um elo crucial na cadeia de venture capital, o que pode acontecer em dois a três anos mas ainda não acontece hoje.
O mesmo não acontece com empreendedores, que gastam um volume absurdo de tempo com projetos que não irão chegar a lugar algum — mas infelizmente não estão aprendendo com os erros, pois recebem incentivos de que trilham o caminho certo. A energia desperdiçada é enorme, e, apesar de o mercado não quebrar, o impacto negativo desse fracasso na vida de cada um é muito grande (imagine como o País teria a ganhar com todo esse esforço direcionado a atividades realmente produtivas?). O culto ao "empreendedorismo obrigatório" gera muitos candidatos a empreendedores que demoram anos demais para perceber que não têm perfil para isso.
ProXXIma Startup: O seu artigo cita os problemas todos que estamos enfrentando. Qual o outro lado? O que está melhor? O que está mais sólido e bacana? Ou tudo é bolha na sua opinião?
Yuri Gitahy: Não sei se é uma questão de melhor ou pior — acontece que a pirâmide de empreendedores aumentou na base, o que traz muito mais projetos imaturos do que antes. Isso aumenta o custo para o investidor avaliar cada oportunidade, e reduz os percentuais de sucesso do mercado como um todo. Ao mesmo tempo, empreendedores realmente bons estão tocando os negócios de forma cada vez mais acertada, e apesar de ser uma fatia percentualmente menor, o número está aumentando— este sim é um bom sintoma do amadurecimento do mercado.

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