Instrumento ajuda a reduzir gastos e tempo no processo de adequação de prédios antigos às normas atuais
São Paulo - Um roteiro de avaliação desenvolvido em uma pesquisa da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP se configurou como um
instrumento útil para arquitetos,
engenheiros ou mesmo construtoras envolvidas no processo de
reabilitação de prédios antigos para adequá-los às normas atuais. “Com o
roteiro, é possível prever o que vai ser utilizado em relação ao tempo e
ao material”, aponta o arquiteto Walter José Ferreira Galvão.
De acordo com o pesquisador, no Brasil, há a cultura de se fazer um
projeto de reabilitação como se fosse uma obra nova, ou seja, “nada é
visto com antecedência, os problemas apenas vão ser verificados na fase
de execução o que leva à necessidade de mudanças de estratégias durante a
obra e que acrescenta mais tempo para a sua finalização”.
Em sua tese de doutorado, Galvão analisou 10 itens de desempenho
constantes da norma NBR-15575 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). Os itens analisados envolvem não só acessibilidade, mas
conforto, higiene e segurança aos moradores do edifício.
O arquiteto explica que a NBR-15575 serve como um norma de desempenho
para edifícios de apartamentos novos e fixa parâmetros mínimos de
conforto, segurança e acessibilidade. Apesar de ser direcionada para
edifícios novos, a escolha não foi aleatória. “Percebi a necessidade de
definir parâmetros de habitabilidade também para edifícios antigos e que
precisam se reabilitados, readequados aos dias atuais”, diz.
A metodologia envolveu três fases práticas: a verificação de
potencialidades dos edifícios e apartamentos antigos a partir de um
roteiro/questionário a ser respondido por meio de observação e testes
realizados pelo próprio arquiteto. Este primeiro roteiro foi melhorado
após a comparação das respostas e observações feitas por síndicos e
especialistas de cada item quanto à adequação do roteiro ao dia-a-dia.
E, por fim, passou por uma outra avaliação em que o próprio pesquisador e
uma equipe, composta por um arquiteto e por uma estudante de
arquitetura, aplicaram o roteiro em dois edifícios paulistanos.
Análises de infraestrutura
Em relação aos apartamentos, por exemplo, foi feito um estudo, dentre
outros, se os cômodos possuem dimensões adequadas às novas necessidades
habitacionais. Outros itens analisados foram: acessibilidade a pessoas
deficientes; conforto luminoso, térmico e acústico. Já em relação aos
edifícios, foram analisadas questões de segurança contra incêndio,
conforto e de práticas cotidianas. Foram verificados os equipamentos e
infraestruturas de segurança contra incêndio - na maioria das vezes, o
“ponto fraco de edifícios construídos quando ainda não havia leis
regulamentando tal necessidade”.
Também foram verificadas as necessidades de adaptações das instalações
elétricas e hidro-sanitárias (água e esgoto). Outro aspecto e que
envolve as práticas cotidianas foi a proximidade de infraestrutura dos
arredores do edifício como mercados, farmácias, padarias e coleta de
lixo que fazem com que seus moradores dispensem o uso do carro.
Vantagens do roteiro
Para o arquiteto, o roteiro apresenta quatro vantagens: planejamento,
agilidade da obra, cálculo de custos antecipados e simplicidade. Ele
acredita que o mais importante é o fato de o roteiro estar voltado para a
etapa de diagnóstico, “o que garante a antecipação do que deve ser
feito ao longo da obra”.
Quanto ao custo e à agilidade, Galvão diz que muitas pessoas pensam que
as obras de reabilitação são muito mais caras, “mas o problema real é a
ausência de um controle de gastos antecipado”. Para ele, falta
planejamento. O arquiteto relata que, na Europa, este tipo de análise
antecipada já é feita com frequência, pois o fluxo de obras de
reabilitação é bem maior que no Brasil. Vale ressaltar que em países
como França e Alemanha 40% da produção de edificações é voltada à
reabilitação de edifícios.
Outra vantagem é a simplicidade, pois “não envolve análises
laboratoriais caras e demoradas”. Para a verificação de ruídos, por
exemplo, pode ser utilizado um equipamento denominado decibelimetro que,
comparado com testes laboratoriais, pode ser barato, acessível, fácil
de utilizar e que fornece o resultado na hora. Já quanto a fissuras e
espessura de rachaduras, um diagnóstico é possível apenas por meio de
uma análise visual. “Isto é bom para o mercado e para o arquiteto ou
engenheiro, porque poupa tempo e dinheiro”, diz.
A tese de doutorado Roteiro para diagnóstico do potencial de
reabilitação para edifícios de apartamentos antigos foi orientada pela
professora da FAU, Sheila Walbe Ornstein, atual diretora do Museu
Paulista (MP) da USP.
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