Há um senso comum entre os entusiastas de automóveis que diz que, reparando nas três principais marcas premium alemãs – Audi, BMW e Mercedes-Benz
– , é possível notar uma clara distinção de personalidade entre elas.
Fazendo um paralelo com seres humanos, é como se a Audi fosse um cidadão
alemão moderno, a BMW um alemão "louco" (no bom sentido) e a Mercedes
um alemão que reverencia a tradição. Exageros à parte, é simples
concluir que há três propostas diferentes entre essas fabricantes. Não é
o caso de se tratar do jeito certo ou errado de se fazer carros, mas de
como eles podem ser feitos.
Isso fica bem claro após o primeiro contato com a nova geração do BMW Série 3 e a consequente constatação de que ele é muito diferente dos seus históricos competidores, Audi A4 e Mercedes-Benz Classe C .
Novamente, decidir qual desses três carros é melhor é uma mera questão
de preferência pessoal e do que se espera de um sedã do tipo. É
inegável, contudo, que a estrela (desculpe, Mercedes) da BMW faz o
coração de quem gosta de dirigir bater um pouco mais rápido.
O G1 avaliou a versão 328i Luxury (R$ 212.950) da nova
geração do Série 3 em um percurso de pouco mais de 20 km na região de
Itupeva, no interior de São Paulo. O trajeto foi totalmente rodoviário, e
mesclou um trecho da Rodovia dos Bandeirantes com 6 km de uma estrada
particular cheia de curvas.
'Angry bird'
O novo desenho dos faróis do BMW Série 3 entrega a vocação esportiva do
carro e é a novidade mais notada. Mais afilado em sua porção próxima à
grade, ele cria um conjunto com esse elemento, dando a sensação de
unidade e dotando, assim como no novo Série 1, o carro de um olhar
parecido com um Angry Bird, personagem do jogo que virou febre em
celulares. O visual "malvado" é endossado pelo capô musculoso e pela
entrada de ar no para-choque.
BMW 328i Luxury tem motor 2.0 turbo, de 245 cavalos (Foto: Miguel Costa Jr./Divulgação)
O curioso é notar que, mesmo com um aspecto bem diferente, não há uma
quebra visual em relação à geração anterior do carro. Elementos
tradicionais, como a delineação do vidro traseiro pela coluna C (traço
conhecido como "Hofmeister Kink", que estreou na marca em 1961 pelas
mãos do diretor de design à época, Wilhelm Hofmeister) e os três volumes
bem definidos estão lá. Há menos vincos, em especial na lateral,
bastante plana e com duas linhas principais, uma na altura das maçanetas
das portas e outra na base do carro.
Lançado em 1975, Série 3 chega à sexta geração (Foto: Miguel Costa Jr./Divulgação)
Atrás, as lanternas são recortadas pela tampa do porta-malas e o para-choque tem visual volumoso.
Traseira sofreu mudanças mais discretas (Foto: Miguel Costa Jr./Divulgação)
Sala de estar
O interior dos BMW
é, tradicionalmente, sóbrio, quase como se quisesse disfarçar as
virtudes do carro. Uma rápida olhada poderia causar expressões do tipo
“pobre” e “sem graça” naqueles que não são iniciados no estilo da marca.
Expoente disso é o quadro de instrumentos, que é avesso a cores ou
itens tecnológicos, podendo ser considerado até simples demais para um
carro de alma premium.
Interior é espartano, mas privilegia ergonomia e conforto (Foto: Miguel Costa Jr./Divulgação)
Mas o necessário está ali. O acabamento é de ótima qualidade e o clima
informal da cabine, quase despojado, se mostra, na verdade, acolhedor.
Bancos dianteiros, com ajustes elétricos de posição, acomodam bem o
corpo. Há boa oferta de espaço tanto para quem vai à frente quanto para
os passageiros da traseira. Estes últimos encontram dificuldades somente
para sair do carro, já que transpor a alta soleira das portas causa
dificuldades de início.
A lista de equipamentos contempla desde o trivial para um carro desse
segmento (ar-condicionado, central multimídia, direção elétrica, volante
multifuncional, memória de posição dos bancos, entre outros) a itens
mais avançados, como o sistema Start-Stop (que desliga o carro em
paradas, como nos semáforos), três modos de condução (esportivo,
confortável e econômico), que ajusta parâmetros como a resposta do
acelerador e a assistência na direção; e o controle de estabilidade
(DSC), que monitora outros sistemas como os freios ABS, o diferencial
traseiro e os controles de tração, de frenagem em curvas e de secagem
dos freios.
Ao volante
É possível notar que a condução do novo
Série 3 é especial já nos primeiros metros. O motor 2.0 de quatro
cilindros turbo oferece disposição em todas as rotações. Ele é dotado de
injeção direta e abertura variável das válvulas. São 245 cavalos de
potência e um torque de 30 kgfm já aos 1.250 rpm, o que garante
arrancadas e retomadas vigorosas, com uma nota grave saindo do
escapamento. E sem beber demais: segundo a BMW, a média de consumo é de
15,6 km/l, considerando a gasolina europeia.
Motor 2.0 turbo, de quatro cilindros, rende 245 cv e 30 kgfm de torque (Foto: Divulgação)
Na tal estrada particular repleta de curvas, o Série 3 mostrou a que
veio. A clássica combinação de motor dianteiro e tração traseira dota o
modelo de um apetite voraz para curvas, capaz de empolgar até o mais
pacato motorista, com o bônus de que é simples encontrar uma posição de
dirigir com os ajustes de banco e de volante.
A suspensão inclina pouco e, com a condução ajustada eletronicamente
para o modo esportivo, a direção fica no peso ideal para que a mistura
entre diversão e segurança ocorra perfeitamente. A estabilidade é total,
sem qualquer intervenção de controles eletrônicos, e coloca uma dúvida
na cabeça do motorista: qual é o limite desse carro? O Série 3 causa uma
sensação diferente do "andar sobre trilhos" dos carros dotados de
tração nas quatro rodas. É tão eficiente quanto, porém, mais visceral. A
conta é cobrada nos pisos irregulares, quando o BMW sacoleja um bocado e
a suspensão bate de forma seca – efeito que já foi pior no passado.
Painel é simples, mas completo (Foto: Divulgação)
Em linha reta, quem estiver na posição de comando do carro vai, no
mínimo, desejar estar em uma autobahn, as famosas estradas alemãs sem
limite de velocidade. No Brasil, o motorista terá que se policiar o
tempo todo para não ser multado, já que, mesmo em velocidades altas, o
carro não oscila ou se mostra instável.
A (talvez única) crítica diz respeito ao isolamento acústico das
portas. Por vezes o barulho do ar sendo cortado pela carroceria do sedã
deu a impressão de que uma pequena fresta da janela estava aberta.
Conclusão
Ao fim do teste, fica fácil entender a diferenciação entre Audi,
BMW e Mercedes citada anteriormente e, nessa consideração,
representados por A4, Série 3 e Classe C, respectivamente. O "moderno"
do Audi é a tecnologia a bordo do A4, o "tradicional" do Mercedes-Benz
vem na forma do conforto que o Classe C oferece, e o "louco" do BMW se
personifica no prazer ao dirigir do Série 3. Cada um vai muito bem na
sua proposta. Quem gosta de dirigir, entretanto, tende a escolher o
último, naturalmente.
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