Veja os reajustes que mais reduziram o poder de compra dos consumidores nos últimos quatro anos
Estacionamentos subiram quase 60%
São Paulo – Na vida, há duas maneiras de ficar mais pobre: ter uma
redução nominal de renda ou ver os preços subirem mais que a própria
remuneração. No Brasil, a renda real tem crescido nos últimos anos
porque o desemprego anda muito baixo e a maioria das categorias
profissionais consegue garantir todos os anos reajustes acima da
inflação. O número utilizado como parâmetro para a inflação - seja o
IPCA, o IGP-M ou o INPC - é sempre uma média de variações de centenas ou
milhares de preços. O problema é que alguns produtos e serviços têm
aumentado muito acima da média – e são exatamente esses que nos fazem
sentir mais pobres.
Segundo cálculos da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o
Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a variação da inflação
na cidade de São Paulo, atingiu 23,97% nos últimos quatro anos. Isso
corresponde a uma inflação pouco superior a 5,5% ao ano – algo que não
chega a chocar ninguém. “A inflação em si está sob controle, mas existem
alguns reajustes específicos que assustam”, afirma Rafael Costa Lima,
coordenador do IPC, da Fipe.
Entre os preços que mais subiram estão os estacionamentos.
A alta média nos últimos quatro anos foi de 57,42%. As tarifas dos
estacionamentos estão sendo pressionadas pela falta de espaço na cidade.
Os poucos terrenos disponíveis em áreas centrais foram disputados a
tapa pelas empresas do setor imobiliário nos últimos anos. “O
estacionamento compete com outros negócios que poderiam ser erguidos em
um bom terreno”, diz Lima, da Fipe. Daí a forte alta dos preços.
IPTU disparou na cidade de São Paulo
A gestão de Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo
foi marcada por um aumento espantoso na arrecadação tributária. Em
2008, a cidade arrecadou cerca de 21 bilhões de reais. Já o orçamento
deste ano prevê gastos de até 38,7 bilhões de reais. Um dos principais
responsáveis por forrar o cofre da prefeitura foi o IPTU (Imposto
Predial Territorial Urbano), pago por boa parte dos donos de imóveis na
cidade. Segundo a Fipe, o IPTU subiu 56,10% nos últimos quatro anos.
Lavagem de carro avançou 67%
O serviço que mais encareceu nos últimos quatro anos foi o de lavagem
de veículos. A alta, de 67,38%, não pode ser explicada pelo reajuste da
tarifa da água na cidade de São Paulo. Segundo Rafael Costa Lima, da
Fipe, os preços dos serviços estão sendo pressionados principalmente
pelos custos maiores da mão de obra. O desemprego caiu para patamares
historicamente muito baixos no Brasil. Como a economia está crescendo e
as pessoas estão estudando mais e se tornando mais qualificadas, os
custos da mão de obra acabaram subindo muito – um fenômeno que também já
foi visto em outros países em períodos de desenvolvimento econômico e
forte crescimento. “Quando a mão de obra fica cara, a indústria e a
agricultura têm a opção de investir em máquinas e equipamentos que
substituam funcionários. Já os serviços não podem abrir mão da mão de
obra e são obrigados a repassar a alta dos salários para os preços”, diz
Lima.
Preços de parques de diversões não são brincadeira
Outro serviço cujos custos dispararam nos últimos quatros anos foi o de
parques de diversão. A alta do valor dos ingressos chegou a 59,95%,
segundo a Fipe. Os parques utilizam muitos funcionários e também ocupam
grandes terrenos na cidade. Como o aluguel dos imóveis também está
pressionado, os preços dos ingressos tiveram de repor os aumentos dos
custos.
Refeição em restaurante está mais salgada
Quem tem o hábito de comer fora de casa também está com os gastos
pressionados. As refeições em restaurantes subiram 53,68% nos últimos
quatro anos. Apenas a alta do preço dos alimentos, de 28,79%, não
explica um avanço de tamanha magnitude – ainda que haja casos como o do
açúcar, que subiu 104,68% no período. Mas se a comida subiu em média
muito menos, o que explica a inflação das refeições fora de casa? De
novo é a alta dos aluguéis e da mão de obra que justificam o avanço dos
preços.
Cabeleireiro subiu muito
Os preços dos serviços de estética e beleza dispararam na cidade de São
Paulo nos últimos quatro anos. O maior aumento foi o de cabeleireiro
masculino: 54,62%. Mas as mulheres não têm muito que comemorar. O
cabeleireiro feminino/manicure ficou 44,51% mais caro.
Despesas com médico não fazem bem à saúde
Os serviços médicos também se destacaram entre as maiores altas de
preços. O avanço chegou a 52,05% nos últimos quatros anos, segundo a
Fipe. Os preços refletem o encarecimento generalizado da mão de obra,
que tem sido acelerado tanto para profissionais com baixo quanto alto
nível de qualificação.
Cerveja e cigarro são ruins para a saúde e para o bolso
Um dos poucos setores da indústria que registrou valorização muito
acima da média é o de bebidas alcóolicas e fumo. O preço da cerveja
aumentou 48,74% nos últimos quatro anos enquanto os cigarros estão
48,66% mais caros. Nesse caso, no entanto, o aumento está relacionado
principalmente a políticas governamentais. O Ministério da Fazenda tem
constantemente elevado os impostos sobre bebidas e cigarros – até por
uma questão de saúde pública.
Torcedor paga mais em jogos de futebol
A pesquisa da Fipe inclui os preços dos ingressos para assistir jogos
nas arquibancadas dos estádios paulistanos. Nos últimos quatro anos, as
entradas tiveram um reajuste médio de 44,10%. É verdade que o nível do
futebol brasileiro melhorou nos últimos anos, com a iniciativa dos
clubes de aproveitar o câmbio favorável para repatriar grandes craques.
Mas o torcedor está pagando mais para ver seus ídolos – e a alta foi
muito acima da média da inflação.
Carnes bovinas
Não é apenas a alta da cerveja e das partidas de futebol que tornou o
lazer do paulistano mais caro. O churrasco é outra paixão nacional cujo
custo disparou nos últimos quatro anos. Segundo a Fipe, as carnes
bovinas tiveram um aumento médio de 42,15%. Alguns cortes, como a
costela, subriam 51,40%.
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